UM PAÍS QUE NÃO EXISTE MAIS

domingo, 20 de novembro de 2011

José Carlos Mariátegui: brilhante pensador, por Carlos Nelson Coutinho

Leia texto de Carlos Nelson Coutinho, orelha do livro "Defesa do marxismo: polêmica revolucionária e outros escritos", segundo ele um dos mais brilhantes pensadores marxistas de Nuestra América.
José Carlos Mariátegui, um dos mais brilhantes pensadores marxistas de Nuestra América, é conhecido sobretudo por seus estudos seminais acerca da realidade social peruana e latino-americana. Menos conhecidas e valorizadas são suas brilhantes reflexões sobre política internacional, arte e literatura, pedagogia etc. etc. Como todo autêntico marxista, Mariátegui não se enquadra em nenhuma das “especialidades” em que hoje está arbitrariamente dividido o pensamento social vigente nas universidades; ao contrário, por adotar o ponto de vista marxista da totalidade, é capaz de apreender o real em sua dinâmica global e contraditória.

O leitor de Sete ensaios de interpretação da realidade peruana, certamente a sua obra-prima, não deve assim se surpreender ao encontrar nos ensaios contidos em Defesa do marxismo um Mariátegui empenhado em abordar temas filosóficos, cujo esclarecimento lhe parece essencial para definir o autêntico perfil do materialismo histórico. A concepção mariateguiana do marxismo é devedora das experiências políticas e culturais vivenciadas por ele na Europa, em particular na Itália, onde morou por mais de três anos. É isso o que explica a enorme similaridade entre sua interpretação da obra de Marx e aquela presente nas reflexões do jovem Gramsci: ambos combatem dura e acertadamente uma leitura economicista e determinista do marxismo, predominante na Segunda Internacional, mas nem sempre evitam a adoção de pontos de vista de clara inspiração idealista. Isso não anula, porém, a importância dos ensaios de Mariátegui contidos neste livro. Nosso autor partilha com o jovem Gramsci – mas também com o primeiro Lukács, com Korsch e com Benjamin – as grandezas e os limites do que poderíamos chamar de marxismo dos anos 1920, um dos momentos mais ricos da evolução do materialismo histórico-dialético.

Como em toda sua obra, Mariátegui aborda aqui temas e autores presentes na cultura europeia. Isso levou muitos nacionalistas estreitos a acusarem-no de ser abstratamente cosmopolita. A eles, retrucava: “Fiz na Europa meu melhor aprendizado. E creio que não há salvação para a Indo-América sem a ciência e o pensamento europeus ou ocidentais”. Ao mesmo tempo, porém, afirmava que o socialismo defendido por ele para o que chamava de Indo-América não era “nem decalque nem cópia”, mas criação original e inédita. Não é assim dos menores legados de Mariátegui esta correta articulação da universalidade teórica com a apreensão da particularidade concreta de seu país e de nosso subcontinente.

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Carlos Nelson Coutinho é um destacado filósofo marxista, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e reconhecido internacionalmente como um dos maiores especialistas no pensamento de Gramsci. É também responsável, ao lado de Leandro Konder, pela introdução dos estudos de Lukács no Brasil.

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