UM PAÍS QUE NÃO EXISTE MAIS

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Uruguai reconhece crimes da ditadura militar e quer dados do Brasil

   
Governo fará ainda ato público em março sobre o reconhecimento dos crimes
Da Redação
uruguai-iO governo uruguaio assumiu a responsabilidade do Estado pelos crimes cometidos durante a ditadura militar entre 1973 e 85. O reconhecimento ocorreu na segunda-feira (27) pelo ministro das Relações Exteriores Luis Almagro em sessão na Organizações das Nações Unidas (ONU), em Genebra, Suíça. Assim como o Brasil, o país foi condenado pela Corte Interamericana dos Direitos Humanos (CIDH) da Organizações dos Estados Americanos (OEA) por casos de assassinatos e desaparecimentos.



Ato Público
Além de assumir as violações dos direitos humanos, o governo uruguaio vai realizar em 21 de março uma ato público em reconhecimento de sua responsabilidade pelos crimes cometidos pelos militares. A condenação do Uruguai ocorreu devido ao assassinato de Maria Claudia García, presa na Argentina junto com o companheiro Marcelo Gelman, este considerado desaparecido. Maria Claudia foi enviada ao Uruguai, onde deu à luz uma menina, Macarena Gelman, e em seguida foi morta pelos militares. A menina foi localizada pelo avô, que apresentou a denúncia à CIDH.
Para Almagro, o ato em março demonstra “a convicção com que nosso governo encara a luta contra a impunidade e o cumprimento de suas obrigações internacionais.”
Operação Condor
O governo uruguaio também vai solicitar informações ao governo brasileiro sobre os uruguaios mortos e desaparecidos no Brasil - as ditaduras instaladas na América do Sul atuavam juntas na chamada Operação Condor que também tinha mãos do governo estadunidense. "Precisamos ir no sentido contrário ao que os países da região fizeram nos anos da ditadura quando criaram a Operação Condor. Agora, precisamos ir no sentido inverso e usar o fato de que somos democracias para contribuir justamente na troca de informações", disse Almagro à imprensa.
uruguai-i2
Araguaia
O Brasil também foi condenado na CIDH pelos crimes cometidos na Guerrilha do Araguaia. A condenação obriga o país a investigar, esclarecer e punir os responsáveis.

deu no site http://carosamigos.terra.com.br/index2/index.php/noticias/2553-uruguai-reconhece-crimes-da-ditadura-militar-e-quer-dados-do-brasil

Demuestran el fraude de la popularidad de Yoani Sánchez en Twitter

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Quem está por trás de Yoani Sánchez?

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Yoani Sánchez, mercenária e agente dos EUA em CubaYoani Sánchez, famosa blogueira cubana, é uma personagem peculiar no universo da dissidência cubana. Nenhum opositor foi beneficiado com uma exposição midiática tão massiva, nem com um reconhecimento internacional semelhante em tão pouco tempo. Após emigrar para a Suíça em 2002, ela decidiu retornar a Cuba dois anos depois, em 2004. Em 2007, integrou o universo de opositores a Cuba ao criar seu blog Generación Y, se tornando uma crítica feroz do governo de Havana.
Nunca um dissidente cubano – e de nenhum outro lugar no mundo – conseguiu tantos prêmios internacionais em tão pouco tempo e com uma característica particular: deram a Yoani Sánchez dinheiro suficiente para viver tranquilamente em Cuba até o resto de sua vida. Na realidade, a blogueira tem retribuído à altura os 250 mil euros que recebeu, o que equivale a mais de 20 anos do salário mínimo em um país como a França, a quinta potência mundial. O salário mínimo em Cuba é de 420 pesos, o equivalente a 18 dólares ou 14 euros. Isto é, Yoani Sánchez recebeu 1.488 anos de salários mínimos cubanos por sua atividade opositora.
Yoani Sánchez tem estreita relação com a diplomacia estadunidense em Cuba, como demonstra um documento “secreto”, por seu conteúdo sensível, emitido pela Seção de Interesses Norteamericanos (Sina). Michael Parmly, ex-chefe da Sina em Havana, que se reunia regularmente com Yoani Sánchez em sua residência diplomática pessoal como indicam os documentos confidenciais da Sina, manifestou a sua preocupação em relação à publicação dos documentos diplomáticos dos EUA pelo WikiLeaks: “Ficaria muito incomodado se as numerosas conversações que tive com Yoani Sánchez fossem publicadas. Ela poderia pagar as consequências por toda a sua vida”. A pergunta que vem imediatamente à mente é a seguinte: por quais razões Yoani Sánchez estaria em perigo se a sua atuação, como afirma, respeita o marco da legalidade?
Em 2009, a imprensa ocidental divulgou massivamente a entrevista que o presidente Barack Obama havia concedido à Yoani Sánchez, e que foi considerado um fato excepcional. Yoani também afirmou que enviou um questionário similar ao presidente cubano Raúl Castro e que o mesmo não se dignou a respondê-lo. No entanto, os documentos confidenciais da Sina, publicados pela WikiLeaks, contradizem essas declarações. Foi descoberto que foi um funcionário da representação diplomática estadunidense, em Havana, quem, de fato, redigiu as respostas à dissidente e não o presidente Obama.
Mais grave ainda, a Wikileaks revelou que Yoani, diferente de suas afirmações, jamais enviou um questionário a Raúl Castro. O chefe da Sina, Jonathan D. Farrar, confirmou a informação através de um e-mail enviado ao Departamento de Estado: “Ela não esperava uma resposta dele, pois confessou que nunca enviou (as perguntas) ao presidente cubano”.

A conta de Yoani Sánchez no Twitter

Além do sítio Generación Y, Yoani Sánchez tem uma conta no Twitter com mais de 214 mil seguidores (registrados até 12 de fevereiro de 2012). Somente 32 deles moram em Cuba. Por outro lado, a dissidente cubana segue a mais de 80 mil pessoas. Em seu perfil, Yoani se apresenta da seguinte maneira: “Blogger, moro em Havana e conto a minha realidade através de 140 caracteres. Tuito, via sms sem acesso à web”. No entanto, a versão de Yoani Sánchez merece pouco crédito. Na realidade é absolutamente impossível seguir mais de 80 mil pessoas apenas por sms, a partir de uma conexão semanal em um hotel. É indispensável um acesso diário para isso na rede.
A popularidade na rede social Twitter depende do número de seguidores. Quanto mais numerosos, maior a exposição da conta. Da mesma maneira, existe uma correlação entre o número de pessoas seguidas e a visibilidade da própria conta. A técnica que consiste em seguir diversas contas é utilizada para fins comerciais, assim como para a política durante as campanhas eleitorais.
O sítio www.followerwonk.com permite analisar o perfil dos seguidores de qualquer membro da comunidade do Twitter. O estudo do caso Yoani Sánchez é revelador em vários aspectos. Uma análise dos dados da conta do Twitter da blogueira cubana, realizada através de seu sítio, revela que a partir de 2010 houve uma atividade impressionante de sua conta. A partir de junho de 2010, ela se inscreveu em mais de 200 contas por dia, em uma velocidade que poderia alcançar até 700 contas em 24 horas. Isto é, passar 24 horas diretas fazendo isto – o que parece improvável. O resultado é que é impossível ter acesso a tantas contas em tão pouco tempo. Então, parece que isto só é possível através de um robô.
Da mesma maneira, descobrimos que cerca de 50 mil seguidores de Yoani são, na realidade, contas fantasmas ou inativas, que criam a ilusão de que a blogueira cubana goza de uma grande popularidade nas redes sociais. Na realidade, dos 214.062 perfis da conta @yoanisanchez, 27.012 são novos (e sem fotos) e 20.600 são de características de contas fantasmas com atividades inexistentes na rede (de 0 a 3 mensagens enviadas desde a criação da conta). Entre estes fantasmas que seguem Yoani no Twitter, 3.363 não têm nenhum seguidor e somente 2.897 seguem a blogueira, assim como a uma ou duas contas. Algumas apresentam características bastante estranhas: não têm nenhum seguidor, seguem apenas Yoani e emitiram mais de duas mil mensagens.
Esta operação destinada a criar uma popularidade fictícia, via Twitter, é impossível de ser realizada sem acesso à internet. Necessita de um apoio tecnológico e um orçamento consequente. Segundo uma investigação realizada pelo diário La Jornada, com o título El ciberacarreo, la nueva estrategia de los políticos en Twitter, sobre operações que envolviam os presidenciáveis mexicanos, diversas empresas dos Estados Unidos, Ásia e América Latina oferecem este serviço de popularidade fictícia (“ciberacarreo” ou em português ciber transporte) por elevados preços. “Por um exército de 25 mil seguidores inventados no Twitter , escreveu o jornal, pagam até dois mil dólares, e por 500 perfis manejados para 50 pessoas é possível gastar entre 12 mil a 15 mil dólares”.
Yoani Sánchez emite, em média, 9,3 mensagens por dia. Em 2011, a blogueira publicou uma média de 400 mensagens por mês, O preço de uma mensagem em Cuba é de um peso convertido (CUC), o que representa um total de 400 CUC mensais. O salário mínimo em Cuba é de 420 pesos cubanos, ao redor de 16 CUC. Yoani Sánchez gasta, por mês, o equivalente a dois anos de salários mínimos em Cuba. Assim, a blogueira gasta em Cuba com o Twitter, um valor correspondente, caso fosse francesa, a 25 mil euros mensais ou 300 mil euros por ano. Qual a procedência desses recursos para estas atividades?
Outras perguntas surgem de maneiras inevitáveis. Como Yoani Sánchez pode seguir a mais de 80 mil contas sem acesso permanente a internet? Como conseguiu se inscrever em 200 contas diferentes por dia, desde junho de 2010, com índices que superam até 700 contas/dia? Quantas pessoas seguem realmente as atividades da opositora cubana na rede social? Quem financia a criação das contas fictícias? Qual o objetivo? Quais os interesses escusos detrás na figura de Yoani Sánchez?
Salim Lamrani
* Salim Lamrani é graduado na Universidade de Sorbone, professor encarregado dos cursos da Universidade Paris-Descartes e da Universidade Paris-Est Marne-la-Vallée e jornalista francês, especialista nas relacões entre Cuba e Estados Unidos. Autor de Fidel Castro, Cuba y Estados Unidos (2007) e Doble Moral. Cuba, la Unión Europea y los derechos humanos (2008), entre outros livros.
Fonte: La Jornada
Tradução de Sandra Luiz Alves

sábado, 25 de fevereiro de 2012

SOBRE A ATITUDE CRÍTICA , Brecht

A atitude crítica
É para muitos não muito frutífera
Isto porque com sua crítica
Nada conseguem do Estado.
Mas o que neste caso é atitude infrutífera
É apenas uma atitude fraca. Pela crítica armada
Estados podem ser esmagados.
A canalização de um rio
O enxerto de uma árvore
A educação de uma pessoa
A transformação de um Estado
Estes são exemplos de crítica frutífera.
E são também
Exemplos de arte.
(Brecht; poemas - 1913-1956. Trad. Paulo Cesar Souza. Brasiliense, 1986. p. 257.)               
deu no site http://www.apropucsp.org.br/revista/rcc01_r09.htm

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Liberdade de expressão é reprimida em Alagoas

Jovens são presos por pichar viaduto no Farol
Dois jovens foram presos, na madrugada de hoje, acusados de pichar uma das paredes do viaduto Washington Luiz, no bairro do Farol.
Antônio Félix da Silva, 23, e Gildo Rafael de Almeida, 21, foram flagrados por policiais militares do 4º Batalhão, no momento em que faziam a pichação. Com os acusados, foi apreendido um balde de tinta vermelha.
Os jovens foram conduzidos para a Central de Polícia Civil, onde foram autuados por crime que pode levar até a três anos de prisão.
“É a primeira vez em 21 anos de polícia que faço uma autuação por este crime”, ressaltou o delegado Robervaldo Davino.
Fonte: Tudo na Hora, 15 de janeiro de 2010

PCR inspira jovens

Jovens são presos por pichação em viaduto

Uma guarnição do 4º Batalhão da Polícia Militar, comandada pelo aspirante Antônio Augusto, prendeu dois rapazes, acusados de fazer pichação nas paredes do Viaduto Washington Luiz, no bairro do Farol.
Antônio Félix da Silva, 23, e Gildo Rafael de Almeida, 21, foram conduzidos para Central de Polícia de Maceió, e autuados em flagrante pelo delegado Robervaldo Davino, por crime de dano ao patrimônio público.
Com eles, a Polícia apreendeu um balde com tinta vermelha. A abordagem ocorreu na madrugada desta sexta-feira (15).
O delegado Davino revelou ter sido a primeira vez, em 21 anos de Polícia, que autua pessoas por este tipo de crime, que prevê uma pena de 6 meses a três anos de prisão.
Fonte: Gazeta Web, 15 de janeiro de 2010

Secretários criticam Forças Armadas

O secretário municipal de Direitos Humanos, Pedro Montenegro, participou de alguns debates que resultaram no Plano Nacional de Direitos Humanos. Ele criticou a grande imprensa do Brasil, que teria “crucificado” o projeto, antes de compreendê-lo. Ele, que na última semana saiu em defesa de dois membros do PCR, o partido fundado pelo alagoano Manoel Lisboa, quando foram presos por picharem um viaduto, criticou as Forças Armadas.
“Infelizmente, as Forças Armadas ainda não se curvaram à democracia. Parte dos oficiais é jovem, admitida por concurso, mas defende o regime militar. Isso mostra que no curso de formação, a ideia de que a ditadura foi justa é reproduzida. É um perigo, porque se acharem necessário, farão a repressão de novo”.
(…)
Indira Xavier, coordenadora do PCR em maceió, afirma que o partido tem o compromisso de levar a diante os ideiais de Manoel Lisboa. Ao lado de Magno Francisco e Rafael Pires, eles dizem que fazem as pichações para divulgar o socialismo, que discutem com estudantes, sindicalistas, operários e agricultores.
(…)
Fonte: Gazeta Web, 24 de janeiro de 2010
deu no site http://pcrbrasil.org/jovens-presos/

Jornal A Verdade - Brigada na Praça 7, Belo Horizonte

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Paulo Henrique Amorim entrevista Amaury Ribeiro Jr. autor do livro "A Privataria Tucana"


Enviado por alexeisantana em 14/12/2011
Entrevista genial com Amaury Ribeiro Jr. que fala sobre as denúncias do livro que caiu como uma bomba no PSDB. José Serra é personagem principal da obra que revela corrupção nas privatizações de estatais durante o governo FHC.

Plínio dá aula de política exterior para Serra


Enviado por asociedadeemfoco em 25/10/2010
Durante debate presidencial do 1º turno,Eleições 2010,na Rede Record,o candidato Plínio de Arruda Sampaio(PSOL) deu uma excelente resposta ao candidato tucano José Serra sobre política exterior.
Na ocasião Serra defendia que o Brasil não deveria fazer alianças com Irã devido ao fato do país ter posturas que vão de encontro aos direitos humanos,mas ouviu de Plínio a seguinte frase:
"Nos temos relações com os Estados Unidos,quer país pra criar mais problemas com os direitos humanos do que os Estados Unidos?".

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Roda Viva - Chico Buarque e MPB4

Affonso Romano de Sant'Anna e José Paulo Cavalcanti - Conexão Roberto D'Avila (12/02/2012)


O Conexão Roberto D'Avila volta a exibir os melhores momentos das entrevistas com um pesquisador cultural e um poeta. Ambos falam de dois lançamentos literários importantes ocorridos em 2011.
O pernambucano José Paulo Cavalcanti comentou sobre seu livro Fernando Pessoa -- Uma quase biografia, um dos mais completos estudos sobre a vida e a obra do grande poeta português. Já Affonso Romano de Sant'Anna também lançou no ano passado o livro de poesia Sísifo desde a montanha. Trata-se de um diálogo lúdico com os mistérios da vida, da morte, do tempo e do universo. Uma entrevista recheada de poemas interpretados pelo autor.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

CHE.Un.hombre.nuevo.2010.Tristan.Bauer.WMV



CHE, UN HOMBRE NUEVO SE LLEVA EL PREMIO AL MEJOR DOCUMENTAL EN EL FESTIVAL DE CINE DE MONTREAL.
Consagrado como uno de los mejores directores de toda Latinoamérica, el realizador argentino TRISTÁN BAUER (Iluminados por el fuego, Después de la tormenta), presentó en el Festival de cine de Montreal su trabajo, CHE, UN HOMBRE NUEVO por el que el jurado de la sección le ha concedido el máximo galardón con el Premio al Mejor Documental.

CHE, UN HOMBRE NUEVO es un documental de creación con guión del propio Tristán y Carolina Scaglione sobre la vida y obra de Ernesto Guevara. La intención de sus autores ha sido generar un viaje a través de la memoria, el pensamiento y la poesía del guerrillero. Por primera vez en la historia, su mujer Alina y sus hijos ceden la documentación más íntima con la que jamás nadie antes había contado. Escritos, grabaciones y narraciones literarias que nos presentan a Ernesto Guevara en su dimensión más poética y humana. A su vez, el Gobierno Cubano aporta 20 horas de imágenes inéditas hasta ahora nunca vistas.

CHE, UN HOMBRE NUEVO es una coproducción entre Argentina (Universidad Nacional del Gral San Martín y el INCAA), Cuba (Centro de estudios Che Guevara y el ICAIC) y España (Golem). Además, cuenta con la participación de Televisión Española.
deu no Blog do Mello

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Brasileiros participaram menos de atividades culturais em 2011

Pesquisa feita pela Federação do Comércio do Estado do Rio de Janeiro (Fecomércio-RJ) com mil pessoas em 70 cidades do país, incluindo nove regiões metropolitanas, aponta que houve uma redução das atividades culturais dos cidadãos brasileiros, no ano passado, em comparação a 2010.

Isso significa que, em relação a 2010, uma proporção menor de brasileiros participou de alguma atividade cultural, como ler livro, assistir a espetáculo de dança ou de teatro, visitar exposição de arte, ir ao cinema ou a um show de música, disse à Agência Brasil o economista da Fecomércio-RJ, Christian Travassos.

De acordo com o levantamento, em 2011, 45% da população estiveram envolvidos com alguma atividade cultural ante a 53% do ano anterior. Segundo Travassos, a forte desaceleração da economia, que passou de um crescimento de 7,5%, em 2010, para cerca de 3% a 3,5%, no ano passado, contribuiu para a diminuição.

Entre 2010 e 2011, o hábito da leitura entre os brasileiros caiu de 34% para 28%, a ida ao cinema ou a shows musicais mostrou retração de 28% para 24% e de 27% para 24%, respectivamente. De todas as opções sugeridas na pesquisa, apenas a referente a peças ou espetáculos de teatro apresentou crescimento, passando de 7% para 9%.

O economista da Fecomércio-RJ avaliou que a principal razão para que o brasileiro não frequente intensamente ambientes culturais é a falta de hábito. “Não é uma questão financeira. Porque, quando você pergunta qual a razão de não ter frequentado um ambiente cultural, a maior parte diz que é a falta de hábito”.

Dentre os 55% que não foram a ambientes culturais no ano passado, 72% disseram preferiram ficar em casa e assistir à televisão, 20% declararam fazer churrasco com parentes ou amigos, 15% têm na igreja o seu meio de lazer, 11% manifestaram preferência pelo futebol e 8% ir a bares.

A cultura hoje em dia, destacou o economista, já está presente como instrumento de transformação social em muitos projetos e políticas de governo, além de ações de responsabilidade social das empresas e de organizações não governamentais. Travassos acredita que essas sementes irão gerar frutos no futuro. “É um movimento paulatino para os próximos anos”.

Para acelerar esse processo, considerou essencial que ele seja iniciado na escola, no ensino de primeiro e segundo graus. “Para que a gente forme o consumidor da cultura no futuro”. O economista da Fecomércio-RJ esclareceu que o interesse pela cultura está relacionado ao ambiente cultural onde a pessoa está inserida ou aos hábitos culturais da família. “E não tanto com a questão econômica”.

Na opinião de Travassos, o hábito de levar uma criança a um museu, ao teatro, a um cinema pode, no futuro, fazer uma grande diferença. “Faço uma analogia em relação ao meio ambiente. Uma criança que só conhece o meio ambiente degradado, é muito difícil ela entender a necessidade de preservação. Ao passo que, se ela tem contato com um ambiente saudável, preservado, ela vai entender porque é importante preservar os recursos naturais. Na cultura, é a mesma coisa”. É preciso ter acesso a hábitos culturais variados e com diversidade de opções, que tragam a realidade de outras regiões e países, sugeriu.

De acordo com a pesquisa, por ordem de preferência, os brasileiros gostam mais de ler algum livro (63%), ir a show de música ou ao cinema (53% cada), ao teatro (21%) e assistir a espetáculos de dança ou visitar exposição de arte (16% cada).


Fonte: Agência Brasil


deu no site http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_secao=11&id_noticia=175835

Hoje na História: 1959 - Fidel Castro assume o cargo de primeiro-ministro de Cuba

Em seu discurso, Fidel falou de "grandes planos" para a nação


No dia 16 de fevereiro de 1959, o líder revolucionário de Cuba, Fidel Castro, torna-se o mais jovem primeiro-ministro da história do país. Aos 32 anos, presta juramento no gabinete do Palácio Presidencial em Havana.

WikiCommons



Fidel Castro havia comandado a resistência armada contra o governo militar de sete anos do presidente Fulgêncio Batista e chefiara o exército 26 de Julho, uma força guerrilheira que exilou o velho regime no primeiro dia do ano de 1959.

Contudo, era a primeira vez que assumia responsabilidades administrativas dentro do novo governo provisório.

O jornal cubano Revolution, tido como porta-voz do exército 26 de Julho, explicou que a indicação devia-se a necessidade de resolver o problema da “dispersão do poder”, visto que muitos trabalhadores e indústrias vinham prestando atenção aos pronunciamentos de Fidel desde o triunfo da Revolução, mas não aos do governo. Segundo a publicação, “De agora em diante, o governo, a revolução e o povo seguirão o mesmo rumo”.

Estava cumprindo a licença de seu posto de Comandante-em-Chefe das Forças Armadas quando José Miró Cordoba, primeiro-ministro desde 5 de janeiro renunciou sem dar grandes explicações.

Aliados e jornalistas cubanos e estrangeiros testemunharam a posse de Fidel, que trajava uniforme de campanha verde-oliva e ostentava sua marca registrada: a barba e o quepe quadrado.

“Temos grandes planos e sofremos quando não podemos concretizá-los rapidamente. Preparativos técnicos, porém, tomam tempo”, disse em seu discurso.

Negou também qualquer interesse em tornar-se presidente, alegando que as medidas tomadas na semana anterior para reduzir a idade mínima de elegibilidade haviam sido iniciativa do presidente em exercício, Manuel Urrutia Lleo.

Urrutia e o primeiro-ministro Fidel Castro eram velhos amigos. Esperava-se que pudessem trabalhar em conjunto para atingir os objetivos revolucionários de reforma econômica e elevação do padrão de vida para todos os cubanos.

Em 18 de julho de 1959, o gabinete cubano recusou-se a aceitar a renúncia de Fidel Castro, alegando que o presidente Urrutia estava obstruindo as reformas e, por conseguinte, imediatamente convocado a se demitir.

O antagonismo com os EUA agravou-se quando Washington resolveu, a partir da década de 1960, ameaçar a imposição de sanções econômicas contra Cuba. Daí surge a aproximação do país com a União Soviética.

Fidel Castro sancionou uma nova constituição e se tornou, em 1976, presidente, secretário-geral do Partido Comunista e Comandante-em-Chefe do Exército.

deu no site http://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticias/19904/hoje+na+historia+1959+-+fidel+castro+assume+o+cargo+de+primeiro-ministro+de+cuba.shtml

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

APOLÔNIO ARQUIVADO

Acervo pessoal do militante de esquerda, que atuou desde a Aliança Libertadora Nacional até a Guerra Civil Espanhola, foi doado ao Arquivo Nacional do Rio de Janeiro

9/2/2012
  • Pesquisadores contam os dias para começarem a corrida até o Arquivo Nacional. A instituição recebeu o acervo pessoal de Apolônio de Carvalho, militante de esquerda com ampla atuação em movimentos no Brasil e no exterior. Apolônio foi membro da Aliança Libertadora Nacional na década de 1930, militante das Brigadas Internacionais na Guerra Civil Espanhola, na Resistência Francesa e no combate ao regime militar no Brasil.
    Os documentos ajudam a contar não só fatos da trajetória política de Apolônio, como também aspectos de sua vida familiar. São 30 pastas só com documentos, além de inúmeras fotos, fitas de vídeo e transcrições de depoimentos. Uma pequena parte do material está exposto na entrada do Arquivo, enquanto o restante passa por um processo de tratamento e higienização até ser disponibilizado ao público, em data ainda a ser definida. A cerimônia de entrega aconteceu no dia 8 de fevereiro e, na ocasião, foi exibido o documentário “Vale a pena sonhar”, de Stela Grisotti, sobre a vida do líder político. Hoje, o militante completaria 100 anos se estivesse vivo.
    Nascido em Mato Grosso do Sul, em 1912, Apolônio de Carvalho participou das principais lutas políticas do século passado no Brasil e no exterior. Em 1942, conheceu Renée, uma jovem militante francesa da Resistência, que se tornaria sua companheira para o resto da vida. Por sua coragem, é considerado um herói na França, onde foi condecorado com a Legião de Honra.

deu no site http://www.revistadehistoria.com.br/secao/nota/apolonio-arquivado

PCV: “A ultradireita venezuelana e internacional já tem seu rosto para as eleições de 7 de outubro”

imagemCrédito: PCV
Tribuna Popular
Segunda-feira, 13 de Fevereiro de 2012 15:48
Carolus Wimmer (centro), Perfecto Abreu (esquerda) e Carlos Aquino (direita) na coletiva de imprensa do Bureau Político do PCV
Caracas, 13 fev. 2012, Tribuna Popular TP.- O Bureau Político do Partido Comunista da Venezuela (PCV), ao analisar as eleições primárias da oposição, resumiu sua opinião numa frase ao assinalar que “Podemos dizer que a ultradireita venezuelana e internacional já tem seu rosto para as eleições de 7 de outubro”.
Assim, manifestou o secretário de relações internacionais e membro do Bureau Político do Galo Vermelho, Carolus Wimmer, em sua habitual coletiva de imprensa na segunda-feira.
Wimmer, ao fazer esta afirmação, destacou à imprensa: “Esse rosto apresentado ontem, representa o empresariado, o lobby sionista venezuelano; representa a ultradireita fascista”.
E acrescentou: “Esse rosto não representa, nem sequer os eleitores que foram ontem às urnas nas primárias”. Enfatizando que, tampouco, é um candidato “jovem” contra Chávez, pois “É um candidato bem conhecido da política venezuelana, um aprendiz de Copei, é uma pessoa que cumpre algumas de suas funções com uma imensa máquina midiática”.
O discurso de que na Venezuela existe uma ditadura foi desmentido
Para o Partido Comunista, no dia de ontem, pela primeira vez, ficou claro que os venezuelanos vivem numa democracia plena, participativa e protagonista, na qual foram realizadas as primárias da oposição com plena tranquilidade e com o apoio e resguardo do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), das Forças Armadas Nacional Bolivariana (FANB) e, inclusive, do próprio governo.
“Foi desmentido o discurso difundido por anos e repetido a nível internacional, de uma suposta “falta de liberdade” na Venezuela. É preciso reconhecer, queiram ou não, que existe uma democracia plena e liberdade de expressão no país”, destacou Wimmer.
As denúncias contra o CNE foram desacreditadas por si só
Frente às permanentes denúncias feitas por porta-vozes opositores de que o Poder Eleitoral venezuelano desenvolve um sistema manipulável contra a oposição, na opinião dos comunistas venezuelanos, estas afirmações foram desacreditadas por si só.
“Todas essas denúncias contínuas são desacreditadas por si só – afirmou.
Para o PCV, a oposição sempre vai desqualificar as Instituições do Estado, “Essa é sua tarefa como oposição não democrática. O povo venezuelano tem que recordar-se de que estas pessoas não surgiram este ano do nada. Todas elas estiveram presentes nos acontecimentos de 2002, 2003 e 2004. Estavam atuando no sentido de desacreditar a Constituição, desacreditar as instituições do Estado e é isso que continuarão fazendo”, afirmou.
O objetivo da ultradireita é montar um governo empresarial na Venezuela
Para o PCV, a oposição da ultradireita venezuelana tem como objetivo desqualificar as instituições do Estado, a Constituição da República Bolivariana, assim como a todas as conquistas sociais, pelas quais o povo e os (as) trabalhadores (as) lutam duramente, para desmontar os avanços alcançados e impor um governo empresarial ao estilo do Panamá e Chile.
“Através das grandes campanhas midiáticas assessoradas pelos Estados Unidos, colocam discretamente representantes do empresariado nos governos”, precisou.
O programa de governo apresentado pela MUD representa os interesses da elite empresarial, num regresso à velha política “que nenhum povo almeja”. Representa, ainda, o que já fracassou na Venezuela e nos países mais industrializados: a aplicação das privatizações e retrocesso do país às políticas neoliberais que estão se afogando com a crise capitalista existente no mundo, com o desmonte de todos os direitos dos trabalhadores.
3 milhões de votantes não são suficientes para ganhar a presidência em 7 de outubro
O Partido Comunista manifestou que, no dia de ontem, os partidos da ultradireita agrupados na MUD, não foram capazes de mobilizar a maioria de seus eleitores, já que na penúltima eleição chegaram a pouco mais de 4 milhões e na última aproximadamente aos 5 milhões.
Desafios dos (as) revolucionários (as) e setores progressistas
“Nós devemos ser muito mais exigentes e o nosso desafio, do Partido Comunista da Venezuela e dos setores progressistas e revolucionários bolivarianos, é não nos distrairmos no debate sobre a direita venezuelana. Nosso desafio é permanecer trabalhando para a transformação do país, continuar trabalhando para a conscientização dos (as) trabalhadores (as), homens, mulheres e jovens para aprofundar o processo revolucionário e alcançar uma clara e contundente vitória em 7 de outubro com nosso candidato”, disse Carolus Wimmer, também deputado do Parlamento Latino-americano.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Bárbara Betancourt explica historia del bloqueo a Cuba


Desde La Habana, la periodista y analista internacional Bárbara Betancourt explicó el proceso legal y político que ha seguido el bloqueo de Estados Unidos a Cubay las consecuencias que ha tenido para la isla durante los últimos 50 años. teleSUR
http://multimedia.telesurtv.net/26/9/2011/51177/barbara-betancourt-explica-hi...

Correa: No asistiremos a Cumbre de las Américas sin Cuba


El presidente ecuatoriano, Rafael Correa, exhortó nuevamente a los países de la Alianza Bolivariana para los Pueblos de Nuestra América (ALBA) a no asistir a la venidera Cumbre de Las Américas, si la República de Cuba no es invitada a este encuentro. teleSUR
http://multimedia.telesurtv.net/11/2/2012/69765/correa-no-asistiremos-a-cumbr...

Fidel Castro se reúne con intelectuales durante más de 9 horas


El líder de la Revolución cubana, Fidel Castro, reiteró la necesidad de seguir luchando y mantener informada a la población, en encuentro con intelectuales de la Red en Defensa de la Humanidad, difundido hoy en la prensa local.

"Hay que luchar" aseveró Fidel Castro al dialogar por más de nueve horas con diversas personalidades de 22 países invitados a la XXI Feria Internacional del Libro y comentar los sucesos del mundo en los últimos tres días.

Abundó que "lo menos que podemos hacer es lograr que la población esté informada", al confirmar con la lectura de las noticias de los últimos tres días la gravedad de la alarma por la que allí estaban reunidos.

Fidel Castro, asimismo, propuso armar un libro con todas las ideas y propuestas vertidas en ese diálogo, donde consideró que "no nos podemos dejar vencer por el pesimismo. Es nuestro deber".

El diario Granma y el portal digital Cubadebate reseñan además algunas de las reflexiones de los participantes en la reunión como la de Zuleica Romay, Premio Casa de las Américas y presidenta del Instituto Cubano del Libro (ICL).

Más información en http://www.cubadebate.cu/noticias/2012/02/11/nueve-horas-de-dialogo-con-el-li...

domingo, 12 de fevereiro de 2012

À sombra da ditadura, por Vladimir Saflate - 12.02.2012

2011 será um ano lembrado, entre outras coisas, como aquele no qual o Brasil se viu assombrado por seu passado. Durante décadas, o País tudo fez para nada fazer no que se refere ao acerto de contas com os crimes contra a humanidade perpetrados pela ditadura. Isso o transformou em um pária do direito internacional, objeto de processos em cortes penais no exterior.

Por Vladimir Safatle, na Carta Capital


Foto: Domicio Pinheiro/AE


Contrariamente a países como Argentina, Uruguai e Chile, o Brasil conseguiu a façanha de não julgar torturador algum, de continuar a ter desaparecidos políticos e de proteger aqueles que se serviram do aparato de Estado para sequestrar, estuprar, ocultar cadáveres e assassinar.

Nesse sentido, não é estranho que convivamos até hoje com um aparato policial que tortura mais do que se torturava na própria época da ditadura. Aparato completamente minado por milícias, grupos de extorsão e extermínio, assim como pela violência gratuita contra setores desfavorecidos da população. A brutalidade securitária continua a nos assombrar. Este é apenas um dos preços pagos por uma sociedade incapaz de dissociar-se dos crimes de seu passado recente.

Outro preço é o tema que mais assombra certos setores da classe média brasileira, a saber, a corrupção. Esquece-se muito facilmente como a ditadura foi um dos períodos de maior corrupção do Brasil. Basta lembrar-se de casos como Capemi, Coroa-Brastel, Lutfalla, Baum-garten, Tucuruí, Banco Econômico, Transamazônica, Ponte Rio-Niterói, entre tantos outros. Eles demonstram a consolidação de um modus operandi na relação entre Estado e empresariado nacional que herdamos da ditadura. Talvez não seja por acaso que boa parte dos casos de corrupção que assolam o País tenha participação de empresas que praticam negócios escusos desde a ditadura. Empresas que tiveram participação ativa, por exemplo, no financiamento da Operação Bandeirantes.

Corrupção e violência policial são apenas dois aspectos do que restou da ditadura. Poderíamos lembrar ainda do caráter imperfeito da democracia brasileira. Temos leis herdadas de períodos totalitários que se esconderam em nosso ordenamento jurídico. Ou seja, esperamos por uma reforma jurídica que racionalize nosso direito a partir de princípios gerais de liberdade social. Seria bom lembrar como temos uma lei constitucional que legaliza golpes militares. Basta lermos com calma o Artigo 142, no qual as Forças Armadas são descritas como “garantidoras dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem”. Ou seja, basta, digamos, o presidente do Senado pedir a intervenção militar em garantia da lei (mas qual? sob qual interpretação?) e da ordem (social? moral? jurídica?) para que um golpe militar esteja legalizado constitucionalmente.

Diante desse cenário de desagregação normativa da vida social por causa da incapacidade da sociedade brasileira de elaborar seu passado, poderia esperar-se que a instalação de uma Comissão da Verdade servisse para iniciar um real processo de reconciliação nacional. Temos, porém, sólidas razões para duvidarmos disso.

Uma piada de mau gosto. Há de se perguntar quem seria suficientemente amoral para ser isento diante de crimes contra a humanidade e atos bárbaros de violência estatal contra setores descontentes da população. Quem pode ser isento diante da informação de que integrantes do Exército, no combate à Guerrilha do Araguaia, jogavam camponeses de helicópteros e estupravam mulheres da região? Há algo de profundamente intolerável em pedidos de “isenção” nesse contexto.

Um dos exemplos pedagógicos de tal isenção pode ser encontrado no próprio dia de anúncio da criação da Comissão da Verdade. Diante da pressão dos militares, Vera Paiva, filha do deputado desaparecido Rubem Paiva, não pôde ler seu discurso, deixando os parentes de desaparecidos sem voz. Não poderia haver gesto mais simbólico e prenhe de significado. Não haverá voz para enunciar demandas de Justiça que não são apenas de familiares, mas de toda a sociedade brasileira.

Em crimes como os cometidos pela ditadura, não estamos a lidar com o sofrimento individual. Este é um erro cometido inclusive por setores de esquerda que querem “resolver tudo isso o mais rápido possível”. Eles compraram a ideia de que se trata apenas de encontrar reparação adequada para o sofrimento individual, seja por meio de compensações financeiras, seja por meio de anulação de atos que portaram prejuízo a um grupo reduzido de pessoas. Estamos, no entanto, lidando neste caso com um sofrimento social. Ou seja, toda a sociedade sofreu e ainda sofre por meio do “corpo torturável” desses indivíduos. Ela sabe que a violência estatal ainda paira como uma espada de Dâmocles por sobre nossas cabeças. Ela pode explodir de maneira a mais irracional, como um conteúdo recalcado que retorna lá de onde menos esperamos.

Por outro lado, é claro que tais demandas de “isenção” escondem o pior dos raciocínios, a saber, a defesa de que a violência de um Estado ilegal contra a população equivale à violência de setores da população contra o aparato repressivo do Estado. “Temos de julgar também os terroristas”, é o que dizem.

Aqui talvez seja o caso de se perguntar: Para que serve a verdade? Alguns acreditam que a verdade serve principalmente para reconciliar. Ou seja, sua enunciação forneceria o quadro de um reconhecimento dos danos ocasionados no passado. Tal reconhecimento, por mais simbólico que seja, teria a força de produzir conciliações e versões unificadas da história nacional.

Não creio que isso possa ocorrer. Sempre teremos leituras divergentes e irreconciliáveis do que foi a ditadura. Sempre haverá os que dirão que os militares nos salvaram da transformação do Brasil em uma ditadura comunista. Por isso, talvez seja o caso de dizer que a enunciação da verdade não serve para conciliar. Ela serve para romper. Ela rompe com o medonho exercício de desresponsabilização que foi colocado em marcha no Brasil. Rompe com a tentativa de colocar no mesmo patamar quem usurpa o poder e cria um Estado de medo e aqueles que se voltam contra tal situação. Desde o Evangelho sabemos isso: a verdade não tem o poder de unir. Ela tem a força de cortar.

É importante dizer isso porque corremos o risco de ver a Comissão da Verdade se transformar em uma macabra validação da famosa “teoria dos dois demônios”. Certamente haverá a tendência em colocar em circulação a necessidade de investigar os “crimes feitos pelos terroristas de esquerda”. Por isso creio ser mais que necessário perder o medo de dizer em alto e bom som: toda ação contra um governo ilegal é uma ação legal. Um Estado ilegal não pode julgar ações contra si por ser ele próprio algo mais próximo de uma associação criminosa. Esta era a situação brasileira.

Pois podemos dizer que dois princípios maiores fundam a experiência de modernização política que caracteriza a tradição da qual fazemos parte. O primeiro desses princípios afirma que um governo só é legítimo quando se funda sobre a vontade soberana de um povo - livre. O segundo princípio afirma o direito à resistência. Mesmo a tradição política liberal admite, ao menos desde John Locke, o direito que todo cidadão tem de assassinar o tirano, de lutar de todas as formas contra aquele que usurpa o poder e impõe um Estado de terror, de censura, de suspensão das garantias de integridade social. Nessas situações, a democracia reconhece o direito à violência.

Costuma-se dizer que o direito à resistência não pode ser aplicado ao caso brasileiro já que a repressão caiu exclusivamente sobre os ombros de integrantes da luta armada que procuravam criar um governo comunista e totalitário no Brasil. Mas a afirmação é falsa. A repressão agiu contra toda forma de resistência, não só aquela da luta armada. O deputado Rubem Paiva, assim como vários sindicalistas e estudantes não faziam parte da luta armada e foram brutalmente mortos. Diz-se que estávamos em uma guerra e “efeitos colaterais” são produzidos. Mas, mesmo em situações de guerra, abusos são punidos.

Por outro lado, contrariamente ao que ocorreu na Argentina, os grupos de guerrilha apareceram no Brasil a partir do golpe militar, ou seja, se não houvesse ditadura não haveria grupos de guerrilha, a não ser focos isolados e completamente irrelevantes. É bom lembrar que boa parte daqueles que se engajaram na guerrilha tinha apenas uma vaga ideia do que queria, mas tinha uma ideia muito clara do que não queria. Lembre-se ainda que o direito à resistência não se anula pelo fato de defender outro regime de governo. Não por outra razão, líderes comunistas ainda são vistos como heróis da resistência na Europa.

Por essas razões, a única reconciliação possível ocorrerá quando aplicarmos no Brasil o que foi feito na África do Sul. O que queremos não é a cadeia para generais octogenários. Queremos que os responsáveis pelos crimes da ditadura peçam perdão, em sessão pública, diante dos familiares e torturados. Se o perdão é o gesto que reconcilia e apaga as feridas do passado, há de se lembrar que só pode haver perdão onde há reconhecimento do crime. Que a Comissão da Verdade não sirva para, mais uma vez, tentarem nos extorquir uma falsa reconciliação.

*Vladimir Safatle é professor do Departamento de Filosofia da Universidade de São Paulo (USP)

deu no site http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=175064

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Quadrilha - Hime e Chico



Quadrilha é um ambiente de ilusão e brincadeira. Mas há também diversão com coisa séria. "Ninguém leva a mal..." diz a música, retratando um cenário político-social de torpor e alienação. Por que quadrilha? Preste atenção na letra e viaje num passado de dezenas de anos atrás...

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Os sequestros que abalaram a ditadura militar

Em 1 de abril de 1964 foi instaurada no Brasil uma ditadura militar que iria perdurar por mais de vinte anos. Durante este período, várias foram as fases e as faces do regime repressor. Recebidos por grandes manifestações favoráveis, com milhares de pessoas acorrendo às marchas de apoio, os militares iniciaram a caça às bruxas. Incitaram o incêndio ao prédio da sede da União Nacional dos Estudantes (UNE), encerraram organizações sindicais e estudantis, caçaram políticos opositores, expurgaram as alas de esquerda de dentro das forças armadas, acabaram com o voto popular para presidente.
De 1964 a 1968 a luta dos estudantes passou a ser clandestina, ou seja, a UNE fora dissolvida, mas continuava a existir na ilegalidade, assim como vários partidos de esquerda. Havia uma esperança de que a situação política fosse revertida e os militares golpistas voltassem para a caserna. 1968 foi o ano de todos os protestos. Movida pelos movimentos internacionais daquele ano, a resistência à ditadura no Brasil promoveu passeatas e atos públicos de grande repercussão. A esperança apagou-se de vez, em 13 de dezembro de 1968, quando o Congresso foi fechado e o Ato Institucional Nº 5 foi promulgando, minando qualquer possibilidade de diálogo, numa ditadura que se tornou ainda mais repressiva e sanguinária.
As conseqüências do endurecimento do regime militar foram irreversíveis em alguns setores de oposição. Acossados, membros de esquerda, que viram os seus líderes presos e torturados, sem direito a hábeas corpus, passaram a conclamar o fim da contestação pacífica, mergulhando numa contundente resistência guerrilheira. Estava declarada a luta armada no Brasil.
A luta armada gerou os famosos guerrilheiros da esquerda radical. Consistiu em jovens idealistas, a maioria com menos de 25 anos de idade, a pegar em armas, a assaltar bancos e supermercados, obtendo através destas ações, fundos para manter os guerrilheiros, todos a viver na clandestinidade, impossibilitados de trabalhar ou de ter direitos cívicos. Ataques a quartéis militares para a obtenção de armas e munições também fizeram parte da luta armada. Mas os movimentos mais complexos desta luta foram os seqüestros a diplomatas de importantes governos que faziam a representação dos seus países no Brasil.
De 1969 a 1970, quatro grandes seqüestros abalaram a ditadura militar, causando-lhe constrangimento diplomático no cenário internacional e proporcionando uma grande derrota política. O primeiro, realizado em setembro de 1969, foi do embaixador norte-americano Charles Burke Elbrick, e o de maior repercussão nacional e internacional. Vieram, em 1970, os seqüestros do cônsul japonês Nobuo Okushi, do embaixador alemão Ehrenfried Anton Theodor Ludwig Von Holleben e, do embaixador suíço Giovanni Enrico Bucher. Realizados para chamar a atenção internacional do que acontecia no Brasil, os seqüestros aos diplomatas serviram para a troca dos líderes políticos que estavam presos nos calabouços a sofrer torturas, tendo muitos deles perecido, não resistindo às atrocidades. A logística dos seqüestros mostrou a habilidade ofensiva dos grupos armados, mas foi o golpe de misericórdia sobre as suas cabeças, forçando o regime militar a intensificar a perseguição e repressão aos que se opunham à ditadura, agindo de forma violenta, matando, torturando e aniquilando de vez qualquer resistência. Os seqüestro representaram o auge da resistência armada e, também, o seu fim definitivo.

Organização do Primeiro Seqüestro
Em 1969 veio a resposta definitiva do AI-5 sobre os líderes da resistência ao regime militar. Muitos foram presos e torturados. A Operação Bandeirantes (Oban), deflagrada por todos os órgãos repressivos das polícias e das forças armadas, prendia, torturava e desaparecia com aqueles que consideravam subversivos ao regime. Os militares, cada vez mais à vontade no poder, estavam longe de qualquer redenção ou volta à caserna. Esta posição ficou clara quando o então presidente, marechal Artur da Costa e Silva, foi afastado da presidência em 31 de agosto, em conseqüência de uma isquemia que o levaria à morte alguns meses depois. O então vice-presidente, Pedro Aleixo, um civil, foi impedido de assumir a presidência e submetido à prisão domiciliar. Uma junta militar assumiu o poder, até que se elegesse de forma indireta, outro presidente militar.
Foi no cenário desta confusão política que se planejou e executou uma das maiores ações da história recente do Brasil, o seqüestro ao embaixador norte-americano Charles Elbrick. A ação foi desencadeada para acontecer em setembro, durante as comemorações da Semana da Pátria, considerada um ícone do regime autoritário.
Antes de surgir a idéia do seqüestro, Stuart Angel Jones e Cláudio Torres, membros da organização de esquerda Dissidência da Guanabara, nascida das divergências dentro do Partido Comunista Brasileiro (PCB), que se opunha à luta armada; e Paulo de Tarso Venceslau, da Ação Libertadora Nacional (ALN), a maior organização guerrilheira da época, debateram um plano para libertar os líderes estudantis Vladimir Palmeira, Luís Travassos e José Dirceu, presos desde o fatídico congresso da UNE em Ibiúna, sem direito a hábeas corpus. A ação consistiria em fazer um resgate, promovendo um assalto aos jipes em que os prisioneiros eram conduzidos do Forte de Itaipu, na Praia Grande, litoral paulista, para interrogatórios e audiências na Auditoria Militar da Avenida Brigadeiro Luís Antonio, em São Paulo. O resgate sucederia no primeiro semestre de 1969, acontecendo na subida da Serra do Mar ou na porta da Auditoria. Foi no decurso do plano, que poderia originar uma tragédia, que surgiu a idéia do seqüestro ao embaixador dos Estados Unidos.
O estudante Franklin Martins, da Dissidência da Guanabara, teve a idéia ao passar pela Rua Marques, no bairro do Botafogo, Rio de Janeiro. O estudante observou que todos as manhãs, Charles Elbrick, embaixador norte-americano, fazia aquele trajeto. Diante das evidências, Franklin Martins levou o seu plano aos dirigentes da Dissidência da Guanabara.
A idéia do seqüestro parecia audaciosa e de grande porte para que fosse realizada somente pelos militantes daquela organização. Assim, Cid Benjamin foi enviado a São Paulo, para expor o plano a Joaquim Câmara Ferreira, dirigente da ALN. Joaquim Câmara Ferreira, um dos homens mais procurados pela ditadura militar, levou consigo os companheiros Virgilio Gomes da Silva e Carlos Eduardo Fleury. A aceitação do plano foi imediata. O líder da ALN concordou que a sua organização entraria na audaciosa ação, e que ela serviria como marco de propaganda na Semana da Pátria, para que se consolidasse uma guerrilha de campo.
Unidos em um dos planos mais audaciosos da história da esquerda revolucionária no Brasil, ALN e Dissidência da Guanabara seguiram juntas no empreendimento. Joaquim Câmara Ferreira assumiu o comando político, e coordenaria as negociações com o governo. Virgílio Gomes da Silva teria o comando militar da ação. Aproximadamente um mês depois da decisão do seqüestro, em Setembro, no auge das comemorações da Semana da Pátria, o plano foi posto em prática, abalando o Brasil e ao regime militar, resultando na libertação dos três líderes estudantis que nas confabulações anteriores, seriam resgatados, e de mais doze presos políticos.
O Seqüestro de Charles Elbrick
A operação de seqüestro ao embaixador Charles Elbrick foi desencadeada na manhã do dia 4 de setembro de 1969, numa quinta-feira. Ás nove horas da manhã, um grupo de pessoas tomou, discretamente lugares estratégicos do bairro do Botafogo, iniciando o aparato logístico e militar.
Coube ao guerrilheiro José Sebastião Rios de Moura, ficar de sentinela no Largo dos Leões, inicio da Rua São Clemente e esquina com a Rua Conde de Irajá, e avisar com um sinal – levantar um jornal, quando o Cadillac do embaixador viesse. Do outro lado do Largo, na esquina da Rua Marques com a Rua Humaitá, João Lopes Salgado e Vera Silvia Araújo Magalhães observavam José Sebastião, encostados em um Fusca vermelho grená. Outro Fusca azul fazia a retaguarda, estacionado na Rua Marques, trazendo Cid Benjamin ao volante e Franklin Martins no banco de passageiros. Nas calçadas da Rua Marques, quatro homens cobriam a ação, a pé, sendo dois do lado esquerdo, Cláudio Torres e Paulo de Tarso Venceslau; e dois do lado direito, Manoel Cyrillo de Oliveira Netto e Virgilio Gomes da Silva. Para fechar o esquema, Sérgio Rubens de Araújo Torres estacionou uma Kombi verde, na Rua Vitório Costa, a seis quadras do foco.
Em um sobrado da Rua Barão de Petrópolis, no numero 1026, no Bairro de Santa Tereza, que serviria como cativeiro do seqüestrado, esperavam Joaquim Câmara Ferreira e Fernando Gabeira.
A movimentação dos seqüestradores foi observada por uma moradora, mulher de um militar, que chamou a polícia. Os guardas vieram, mas não encontraram nada que confirmasse às suspeitas da moradora, visto que as placas dos Fuscas, apesar de frias, pertenciam a carros sem problemas de documentação. A polícia vai embora.
Excepcionalmente naquele dia, Elbrick estava atrasado. O seqüestro, planejado para suceder durante a manhã, só iria acontecer à tarde. Só às 14h30 é que o Cadillac 1968, que trazia o embaixador, despontou no local de rotina. Na Rua Marques, foi obrigado a parar pelo Fusca azul, que fingiu uma manobra. O Fusca vermelho, conduzido por Rios, impediu que a limusine saísse de ré. Os quatro companheiros que estavam na calçada tomaram o carro diplomático de assalto. Com um revólver 38 na mão, Paulo de Tarso mobilizou o motorista e o embaixador e, simultaneamente, arrancou os fios do rádio que fazia a comunicação com a segurança da embaixada. Cláudio Torres assumiu a direção do carro. No banco de trás, Virgílio Gomes da Silva e Manoel Cyrillo sentaram-se junto a Elbrick, cada qual de um respectivo lado. Consumado o seqüestro, os três carros avançaram seis quadras, onde estava a Kombi, que naquele momento, assumiu a ponta do comboio.
Os carros pararam, cinco minutos depois, na Rua Maria Eugênia, na esquina com a Rua Caio de Melo Franco. Assustado, pensando que seria morto, Elbrick tomou a arma de Virgílio Gomes da Silva, mas Manoel Cyrillo desferiu-lhe uma coronhada na cabeça, deixando-o aturdido. O embaixador foi transferido para a Kombi, sendo coberto por um tapete. A direção da Kombi passou para as mãos de Cláudio Torres, e Sérgio Rubens de Araújo deixou o grupo, indo embora a pé. A Kombi seguiu com o seqüestrado e os seqüestradores, remanejados em um Fusca bege que ali os aguardava. Para trás ficavam o Fusca azul e o Cadillac. No banco de trás do carro diplomático abandonado, ficaram o motorista de Elbrick, Custódio Abel da Silva, e um manifesto dos seqüestradores.
O manifesto, que exigia a libertação de quinze presos políticos em troca da vida de Charles Elbrick, e a sua publicação na imprensa, cobriria as páginas dos jornais do dia seguinte, 5 de setembro. Os nomes dos quinze presos seriam divulgados posteriormente, na manhã seguinte. O manifesto levava a assinatura da ALN e do Movimento Revolucionário Oito de Outubro (MR-8), nome que a Dissidência da Guanabara passou a assinar depois da ação de seqüestro do embaixador.

O Fim do Seqüestro
Cinco minutos antes das três horas daquela tarde, Charles Elbrick chegou ao cativeiro, um sobrado de Santa Tereza, sendo recebido por Joaquim Câmara Ferreira e Fernando Gabeira, que ali o esperavam, acompanhados do sindicalista nordestino Antônio de Freitas, o Baiano, que fugindo da repressão, era hóspede dos guerrilheiros, mas que não teve qualquer participação no seqüestro.
No sobrado, o embaixador teve conversas cordiais com os seus algozes, que com ele falaram sem usar máscaras. Do lado de fora, a quarenta metros, o sobrado passou a ser vigiado ainda naquela tarde de 4 de setembro, por uma Rural Willys do Centro de Informações da Marinha (Cenimar), que segundo relatos posteriores, desconfiavam ser aquele o cativeiro do embaixador, mas sem ter certeza.
A ação dos guerrilheiros surpreendeu o regime militar e todo o Brasil. Deixou o governo brasileiro em uma situação diplomática delicada com os Estados Unidos. Para que o seqüestro fosse solucionado, o governo militar foi obrigado a ceder a todas as exigências dos seqüestradores, evitando assim, que algo sucedesse ao embaixador, pondo em risco a sua vida. Uma grande operação ofensiva foi montada, envolvendo mais cinco mil homens das três forças armadas, quatro mil policiais civis e militares, quinhentos agentes dos serviços de informações e trezentas viaturas.
No dia 7 de setembro, no domingo à tarde, começou a operação de libertação do embaixador. Os seqüestradores começaram a abandonar o sobrado de Santa Tereza divididos em grupos. Os últimos que deixaram o cativeiro foram Joaquim Câmara Ferreira e Virgílio Gomes da Silva, levando com eles o embaixador Charles Elbrick . Virgílio e o seqüestrado seguiram para um Fusca branco, parado em frente ao sobrado, ao lado de outro Fusca bege, o mesmo utilizado no dia do seqüestro. Os agentes vigilantes do Cenimar, reconheceram, com surpresa, o embaixador, inconfundível nos seus quase dois metros de altura. Assim, os Fuscas bege e branco partiram, tendo no encalço a Rural Willys dos agentes do Cenimar. O terceiro Fusca, o vermelho, seguiu a Rural sem que os agentes se apercebessem.
Na Rua Estrela, a Rural dos agentes da repressão derrapou. Na Rua Aristides Lobo, o Fusca vermelho encostou junto à Rural. Manoel Cyrillo apontou uma metralhadora para os militares, que covardemente, fugiram assustados, virando na rua seguinte.
Despistados os agentes militares, Charles Elbrick é deixado no Largo da Segunda-Feira, levando de presente dos seqüestradores um livro de poemas de Ho Chi Min, escrito em inglês. Elbrick voltou para a sua casa de táxi. Nos primeiros depoimentos após a sua libertação, surpreendentemente foi simpático aos seqüestradores, descrevendo-os como jovens determinados, inteligentes e fanáticos. O embaixador morreria de pneumonia em seu país, em 1983.
Os Presos Políticos Trocados Pelo Embaixador
Em troca do embaixador, os quinze presos libertados foram: Onofre Pinto, fundador da VPR (Vanguarda Popular Revolucionária), que sofreria uma emboscada no Paraná, entrando para a lista dos desaparecidos da ditadura desde 1974; Luis Travassos, ex-presidente da UNE, morto em um acidente de automóvel em 1982, no Rio de Janeiro; Ricardo Zaratini, do movimento operário, irmão do ator Carlos Zara, envolvido em lideranças partidárias no Brasil pós-ditadura; Rolando Fratti, morto por um câncer em 1991; Vladimir Palmeira, líder estudantil que comandou a Passeata dos Cem Mil em 1968, futuro deputado federal pelo Partido dos Trabalhadores (PT); José Dirceu de Oliveira e Silva, líder estudantil, preso em Ibiúna, futuro ministro da Casa Civil do governo do presidente Lula; Gregório Bezerra, líder sindical, morto por um câncer em 1983; Ivens Marchetti, arquiteto que viveu na Suécia, militante da Dissidência de Niterói, morto por um câncer em 2002; João Leonardo da Silva Rocha, militante da ALN, morto pela ditadura no interior da Bahia, em 1974; Maria Augusta Carneiro, única mulher da lista, militante da Dissidência da Guanabara, a DI-GB, presa em Ibiúna, futura proprietária de uma escola para deficientes no Rio de Janeiro; Mário Roberto Zanconato, fundador da Corrente Revolucionária ligada a ALN, futuro médico da prefeitura de Diadema, em São Paulo; Ricardo Vilasboas Sá Rego, militante da DI-GB, futuro músico e compositor, que deixou a luta armada para viver na França; José Ibrahim, líder do movimento operário paulista, futuro secretário de relações internacionais da Força Sindical; Agnaldo Pacheco da Silva, militante da ALN; e, Flávio Tavares, jornalista, coordenador do Movimento Nacionalista Revolucionário (MNR), colaborador do jornal “O Estado de S. Paulo”. Os quinze prisioneiros deixaram o país em um avião, o Hércules 56, que seguiu para o México, de onde seguiram cada um, para um destino no exílio. Muitos deles retornariam incógnitos para o Brasil, alguns anos depois, continuando a luta na clandestinidade.

Os Seqüestradores de Charles Elbrick
A aparente vitória dos seqüestradores durou pouco. A partir de então a ditadura iniciou uma forte guerra e perseguição aos guerrilheiros, matando e torturando as suas lideranças, decepando todas as organizações que promoveram a luta armada no país. Outra conseqüência foi a pena de morte, adotada através de um ato institucional militar, além da pena do banimento, aplicada a todos os presos que aceitavam ser trocados por embaixadores, fazendo deles pessoas sem pátria e sem nacionalidade. A pena do banimento só perdeu o efeito quando a Lei da Anistia foi promulgada, em 1979, trazendo os exilados de volta ao país.
Quanto aos seqüestradores de Charles Elbrick, muitos foram presos, alguns mortos e torturados pela ditadura. Foram eles:
Virgílio Gomes da Silva – Conhecido como Jonas, Borges e Breno, foi o comandante militar da ação do seqüestro, tendo 36 anos de idade na época. Fez treinamento militar em Cuba, em 1967. Militante da ALN, foi duramente perseguido pelo regime militar logo após o seu envolvimento no seqüestro do embaixador norte-americano. Caiu no dia 29 de setembro de 1969, pouco mais de vinte dias após o desfecho do seqüestro. Não resistiu às sessões de torturas sofridas nas dependências da Oban, morrendo um dia depois da prisão.
Manoel Cyrillo de Oliveira Netto – Com 23 anos na época, foi o segundo comandante militar do seqüestro, sendo um dos que renderam o embaixador. Era vice-comandante do grupo tático armado da ALN em São Paulo. Foi preso no dia 30 de setembro de 1969, permanecendo no cárcere por dez anos.
João Sebastião Rios de Moura – Tinha 22 anos, foi quem deu o sinal de alerta quando o carro do embaixador surgiu na rua do seqüestro. Exilou-se no Chile em 1970, seguindo para a França, de onde só retornou em 1980. Foi morto em Salvador, em 1983, já depois de anistiado, por dois homens que vestiam casacos e chapéus.
Vera Sílvia Araújo de Magalhães – Tinha 21 anos, seduziu o chefe de segurança da casa do embaixador, obtendo informações sobre o seu trajeto diário; deu cobertura na captura. Foi presa em 1970, sendo torturada. Foi trocada pelo embaixador alemão, outro seqüestrado pelos guerrilheiros, partindo para o exílio, só retornando ao Brasil após a Anistia. Morreu em dezembro de 2007.
Joaquim Câmara Ferreira – Tinha 56 anos, coordenando as negociações do seqüestro com o governo, ficando o tempo todo na casa, ao lado de Elbrick. Rompeu com o PCB, integrando o comando da ALN. Sucessor natural de Carlos Marighella, foi preso no dia 24 de outubro de 1970, sendo levado para um sítio na periferia de São Paulo, onde foi torturado até morrer horas depois.
Sérgio Rubens de Araújo – Tinha 21 anos. Foi quem dirigiu a Kombi verde que levou o embaixador para o cativeiro. Tornou-se uns dos diretores do jornal “Hora do Povo”, órgão oficial do desintegrado ideologicamente MR-8 pós-ditadura.
Cláudio Torres da Silva – Tinha 24 anos, dirigiu todos os carros em que o embaixador foi transportado. Foi preso no dia 9 de setembro, dois dias após o desfecho da ação, ficando na prisão até 1977. Sempre evitou falar no seqüestro, considerando o episódio uma página virada da sua vida.
Franklin de Souza Martins – Tinha 21 anos, considerado o autor da idéia do seqüestro, bloqueou o automóvel diplomático, além de dar cobertura contra o carro dos agentes do Cenimar. Deixou o Brasil dois meses depois do seqüestro, indo para Cuba, onde foi treinado em guerrilha. Voltou ao país em 1973. Após a queda da ditadura tornou-se um repórter conceituado, participando do governo do presidente Lula.
Cid de Queiroz Benjamin – Tinha 20 anos, foi quem negociou o seqüestro em São Paulo com os líderes da ALN. Dirigiu o Fusca azul que bloqueou a passagem do carro diplomático e o Fusca que perseguiu e intimidou os agentes do Cenimar. Foi preso em abril de 1970, sendo trocado dois meses depois pelo embaixador alemão. No pós-ditadura tornou-se militante do PT, sendo candidato a alguns cargos políticos.
João Lopes Salgado – Tinha 26 anos, sendo um dos que comandou a cobertura na operação que libertou o embaixador. Nunca foi preso, exilando-se no Chile em 1972, seguindo dali para o Panamá e para a França. Retornou após a Anistia, em 1980.
Fernando Gabeira – Tinha 28 anos, foi quem alugou a casa que serviu como cativeiro, levou mensagens do embaixador para a esposa e deixou em um supermercado, a lista com os quinze nomes dos presos políticos que deveriam ser trocados pelo embaixador. Foi atingindo por uma bala, sendo preso em janeiro de 1970. Foi trocado naquele mesmo ano pelo embaixador alemão. Retornou ao Brasil em 1979, iniciando uma promissora carreira de jornalista, escritor e político, sendo eleito para vários cargos.
Paulo de Tarso Venceslau – Tinha 25 anos, foi quem ao lado de Joaquim Câmara Ferreira, Virgílio Gomes da Silva e Cid Benjamin, preparou a ação em um apartamento em São Paulo. Foi quem rendeu o motorista do embaixador, e quem levou nomes de militantes de São Paulo para o Rio de Janeiro para que se compusesse a lista dos quinze prisioneiros. Foi preso no dia 1 de outubro de 1969, sendo torturado pela Oban. Ficou preso até 1974. No pós-ditadura, ocupou vários cargos políticos no Estado de São Paulo.
O Seqüestro de Nobuo Okushi
A Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), iniciou no começo de 1970, os treinamentos dos seus militantes para que pudessem atuar em uma guerrilha rural. Para os treinamentos, foi usada a área de Registro, em São Paulo. A operação foi abalada, quando no dia 27 de fevereiro daquele ano, um dos mais importantes militantes da VPR, Chizuo Ozava, conhecido como Mário Japa, que acabara de fazer o treinamento da guerrilha, sofreu um acidente de automóvel na Estrada das Lágrimas, em São João Clímaco, bairro paulistano. Ao ser socorrido pela polícia, foram encontradas no carro armas e documentos comprometedores, levando à prisão do acidentado.
A prisão de Mario Japa, que já tinha estado no campo de treino de Registro, deixou Carlos Lamarca e o comando da VPR apreensivos. Para que se preservasse o sigilo das operações de guerrilha, era necessário que Mario Japa fosse libertado imediatamente. A bem sucedida ação que envolvera o seqüestro do embaixador Charles Elbrick, desencadeada pela ALN e pelo MR-8, em setembro de 1969, foi a inspiração que os líderes da VPR encontraram para libertar Mario Japa, optando-se pelo seqüestro do cônsul japonês em São Paulo, Nobuo Okushi.
Para realizar a ação, a VPR viu-se obrigada a recorrer ao auxilio de outras organizações de esquerda. Assim, a VPR entrou em contacto com o Movimento Revolucionário Tiradentes (MRT) e a Resistência Democrática (Rede). Juntas, as três organizações planejaram a ação.
O comando da ação foi assumido pelo integrante do comando nacional da VPR, Ladislas Dowbor , juntando-se a ele Eduardo Collen Leite, o Bacuri, organizador da Rede, que se tornaria notável por ter participado em dezenas de assaltos realizados pelos guerrilheiros; e, Devanir José de Carvalho, dirigente do MRT, conhecido como um dos cinco irmãos Metralha. Participaram ainda, como mentores de um plano feito às pressas, Liszt Benjamin Vieira, Mário de Freitas Gonçalves, Miguel Varoni, Alcery Maria Gomes Silva e Joelson Crispim, da VPR; Plínio Petersen Pereira e José Rodrigues Ângelo Junior, do MRT.
A ação aconteceu no dia 11 de março de 1970. No fim da tarde, após terminar o trabalho no consulado, Nobuo Okushi dirigia-se para a sua casa, na Rua do Piauí, em Higienópolis, bairro nobre de São Paulo. Às 18h20 o automóvel do cônsul japonês, um Oldsmobile, dirigido por Hideaki Doi, teve que parar bruscamente para que não batesse em um Fusca azul, que se interpôs à frente, na altura da Rua Bahia. Hideaki ainda reclamou da má condução do motorista do Fusca, sem se aperceber que ele empunhava uma metralhadora ao sair do carro.
Marco Antonio Lima Dourado foi o militante que empunhando a metralhadora, ameaçou Hideaki. Plínio Peterson Pereira auxiliou Liszt Benjamin Vieira a retirar o cônsul do carro diplomático, conduzindo-o para um Fusca vermelho, que se encontrava estacionado na Rua Alagoas. A segurança era feita pelos militantes Mário Freitas Gonçalves e Oswaldo Soares, que interrompiam o trânsito ao longo da Rua Bahia.
Nobuo Okushi foi posto no banco traseiro do fusca, tendo os olhos vendados por esparadrapo, sendo obrigado a pôr a cabeça sobre os joelhos de Liszt. Bacuri era o motorista do carro, que trazia Ladislas no banco de passageiro. O cônsul foi levado para a Avenida Ceci, 1216, no Bairro de Indianópolis. O cativeiro era um aparelho no qual habitava Bacuri e a sua companheira Denise Peres Crispim. Ali, Bacuri, Denise, Ladislas e Liszt vigiariam o cônsul até o dia da sua libertação.
No dia seguinte, 12 de março, os jornais publicavam o seqüestro e as exigências dos seqüestradores, que consistia na libertação de cinco presos políticos e a obtenção de asilo político no México. A imprensa estampava ainda, a fotografia do militante José Raimundo da Costa, apontando-o como um dos possíveis seqüestradores, fazendo com que ele fosse substituído na missão pelo militante da Rede, Fernando Kolleritz.
Os comunicados dos seqüestradores exigiam o fim das atividades de busca ao seqüestrado, ameaçando dinamitar o cativeiro com o cônsul dentro, e a suspensão da violência usada contra os presos políticos. Assinava aos comunicados o Comando Lucena da VPR, uma alusão a Antônio Raimundo de Lucena, militante morto a tiros por militares, em frente da mulher e dos filhos, em Atibaia, dias antes.
A lista com os nomes dos cinco presos políticos que deveriam ser libertados e exilados, foi divulgada no quarto comunicado, trazia o nome de Damaris Lucena, esposa de Antônio Lucena, e dos seus três filhos menores. Os outros quatro eram: Otávio Ângelo, dirigente da ALN; madre Maurina Borges da Silveira, religiosa torturada pelo delegado Fleury, presa por ter cedido uma sala para que os estudantes militantes da FALN de Ribeirão Preto fizessem uma reunião; Diógenes Carvalho de Oliveira, militante da VPR e, finalmente, Chizuo Ozava, o principal e verdadeiro motivo da operação.
Libertados e transportados com segurança para o México, os presos políticos deram uma nova derrota ao regime militar. No fim da tarde do domingo, 15 de março, Ladislas levou Nobuo Okushi do cativeiro para o banco traseiro do Fusca vermelho. Bacuri e Denise queimaram todos os documentos, abandonando o local que servira de cativeiro, por motivos de segurança. Os três rodaram de carro algum tempo, quando tiveram a certeza de que não estavam a ser seguidos, deixaram o cônsul na Rua Arujá. Foi através de um táxi que Nobuo Okushi retornou para casa. Durante o tempo do cativeiro, os seqüestradores falaram com ele em inglês, visto que chegara recentemente ao Brasil e quase nada percebia da língua portuguesa.
Ao fim do seqüestro, já resgatado o cônsul japonês, a ditadura militar tornar-se-ia implacável na caça aos seqüestradores. Dos quinze participantes do seqüestro, oito foram presos: Liszt Benjamin Vieira, Ladislas Dowbor, Marco Antonio Lima Dourado, Miguel Varoni, Oswaldo Soares, Mario de Freitas Gonçalves, José Rodrigues Ângelo Júnior e Fernando Kolleritz. Cinco morreram em combate: Devanir José de Carvalho, José Raimundo da Costa, Alcery Maria Gomes da Silva, Joelson Crispim e Eduardo Collen Leite. Denise Peres Crispim, da Rede, e Plínio Petersen Pereira, do MRT, nunca foram presos.
O Seqüestro do Embaixador da Alemanha
Se os dois primeiros seqüestros foram bem sucedidos, também a reação da ditadura militar não ficou atrás. A perseguição aos guerrilheiros tornou-se intensa, e as sessões de torturas e mortes atingiram uma sofisticação jamais vista na história do país. No dia 18 de abril de 1970, os órgãos de segurança efetuaram uma ação que levou à prisão de Maria do Carmo Brito, membro do comando nacional da VPR. A prisão levou à descoberta do seu aparelho na Avenida Visconde de Albuquerque, na Gávea, Rio de Janeiro. Nele foram encontrados documentos que mostravam um minucioso plano para o seqüestro do embaixador da Alemanha. Também faziam parte dos documentos as primeiras letras dos codinomes dos principais participantes da ação, sendo eles: Juarez Guimarães de Brito, Alex Polari de Alverga, Joaquim Pires Cerveira, Roberto das Chagas e Silva, José Ronaldo Tavares de Lira e Silva e a própria Maria do Carmo Brito. Dos seis nomes encontrados, três estavam presos, Maria do Carmo, José Ronaldo e Joaquim Pires Cerveira; e um tinha sido morto, Juarez Guimarães de Brito; apenas dois militantes ainda permaneciam soltos, sem serem identificados, Alex Polari e Roberto das Chagas.
Firme em prosseguir com as atividades de propaganda e ações da luta armada, o seqüestro a diplomatas fazia parte dos planos e levantamentos feitos pelas organizações de esquerda durante todo o ano de 1970. A VPR levantou a possibilidade de seqüestros aos embaixadores dos Estados Unidos, do Japão, da Suécia e, em conjunto com a Frente de Libertação Nacional (FLN), de Joaquim Pires Cerveira, do embaixador da Alemanha.
Mas o regime militar mantinha os seus órgãos de segurança em plena atividade, na intenção de evitar outros seqüestros que pudessem deixar a diplomacia do país em situações delicadas. Assim, ainda no primeiro semestre de 1970, as suas ações levaram à prisão de um grande número de militantes. Membros da VPR foram os que mais caíram ante a repressão, enchendo os cárceres das prisões. O seu grande líder, Carlos Lamarca foi acossado nas matas do Vale da Ribeira, podendo cair a qualquer momento.
Diante das prisões, torturas e mortes de militantes, era preciso que se desse um último fôlego, e que se fizesse grandes ações que chamassem a atenção do país e alcançassem repercussão ante a comunidade internacional. Foi criada a Unidade de Comando Juarez Guimarães de Brito (UC/JGB), homenagem ao militante morto em combate, retomando os planos dos seqüestros. O principal alvo era o embaixador dos Estados Unidos, mas que se tornou inviável, visto que a segurança dos norte-americanos tornou-se impenetrável após o seqüestro de Charles Elbrick, em 1969 e a uma fracassada tentativa ao cônsul dos Estados Unidos em Porto Alegre, em abril de 1970. A alternativa foi o cônsul da Suécia, mas a constante mudança de itinerário do seu veículo exigia uma grande logística militar na ação, tornando-a difícil de ser realizada. Ficou decidido que o seqüestro seria ao embaixador do Japão. A ação foi abortada no dia e no momento da sua execução, que foi surpreendida pela presença ocasional de um camburão policial. Por fim, decidiu-se pelo seqüestro do embaixador da Alemanha, Ehrenfried Anton Theodor Ludwig Von Holleben, de 61 anos.
Executado o Seqüestro de Von Holleben
A direção do planejamento do seqüestro de Von Holleben ficou, inicialmente, com Alex Polari de Alverga, com a colaboração de Lúcia Mauricio de Alverga, Júlio César Câmara Covello Neto e Vera Lúcia Thimóteo. Para a execução da ação, foram utilizados quatro carros roubados, dois Fuscas vermelho e grená, uma Rural Willys e um Opala azul. Como cativeiro, foi alugada uma casa na Rua Juvêncio de Menezes, número 535, em Cordovil. Os militantes Gerson Theodoro de Oliveira e Tereza Ângelo, disfarçados como um casal, foram quem alugaram a casa.
Desta vez as cadeias estavam cheias de militantes presos, muitos sucumbindo à tortura. Era preciso que se elaborasse uma lista extensa e de grande representatividade. Aquele seqüestro representaria a salvação de muitos companheiros, condenados às atrocidades letais do cárcere. No início de junho, aconteceu uma reunião em São Paulo, entre as principais lideranças das organizações que promoviam a luta armada no Brasil. Dela fizeram parte Carlos Lamarca, Joaquim Câmara Ferreira da ALN, e Devanir José de Carvalho, do MRT. Entre as decisões acertadas, ficou estabelecida a lista de quarenta prisioneiros que seriam trocados pelo embaixador. Seria a lista mais longa até então. Os seqüestradores receberam como reforço, mais dois militantes da ALN, José Milton Barbosa e Eduardo Collen Leite, o Bacuri, que ficou designado para comandar a ação.
No dia 11 de junho de 1970, no arroubo da Copa do Mundo de Futebol, realizada no México, e que faria o Brasil tricampeão mundial, deflagrou-se a ação de seqüestro ao embaixador alemão. Às 19h40 Von Holleben deixou a embaixada, que ficava no bairro das Laranjeiras, no Rio de Janeiro, rumo à sua residência, em Santa Tereza. O embaixador seguia em uma Mercedes preta, conduzida pelo motorista Marinho Huttl, tendo ainda, a segurança de um agente da polícia federal, Irlando de Souza Régis, que sentava no banco do passageiro, portando uma arma. A Mercedes era seguida por uma Variant, que trazia dois agentes da polícia federal, Luiz Antonio Sampaio, e José Banharo da Silva, que complementavam a segurança do embaixador.
Às 19h55, foi executada a ação de seqüestro no Bairro de Santa Tereza, na confluência da Rua Cândido Mendes com a Ladeira do Fialho, próximo à casa do embaixador. Nesta altura, José Maurício Gradel avançou a Rural Willys impetuosamente contra a Mercedes diplomática. Simultaneamente, Sonia Eliane Lafoz e José Milton Barbosa, que se faziam passar por um casal de namorados, dispararam rajadas de metralhadora contra a Variant da segurança, ferindo os agentes Luiz Antonio, no abdômen, e, Banharo, na cabeça. O agente que fazia a segurança dentro do carro diplomático, Irlando de Souza Régis, ainda tentou sacar de uma arma, mas foi abatido por três tiros a queima-roupa, desferidos por Bacuri, sendo que o que lhe atingiu a cabeça foi fatal.
O embaixador alemão foi tirado do carro diplomático por Herbert Eustáquio de Carvalho, que empunhando uma pistola 45, obrigou-o a entrar no Opala azul, dirigido por José Roberto Gonçalves de Rezende. Três carros seguiram em fila indiana, levando no meio, no Opala azul, o embaixador alemão. O seqüestro estava consumado, em menos de quatro minutos, sendo o mais violento dos três, deixando, pela primeira vez, um morto e dois feridos.
Após o encarceramento do embaixador, Bacuri datilografou um comunicado, fazendo diversas exigências às autoridades do governo. Exigia que o comunicado fosse lido na Rádio Nacional, e que ali, fosse divulgada a lista com os quarenta nomes de presos que deveriam ser libertados. Na lista contavam vinte militantes da VPR: Almir Dutton Ferreira, Altair Luchesi Campos, Carlos Minc Baumfeld, Darcy Rodrigues, Dulce de Souza Maia, Edmauro Gopfert, Eudaldo Gomes da Silva, Flávio Roberto de Souza, Ieda dos Reis Chaves, José Araújo de Nóbrega, José Lavecchia, José Ronaldo Tavares de Lira e Silva, Ladislas Dowbor, Liszt Benjamin Vieira, Maria do Carmo Brito, Melcides Porcino da Costa, Oswaldo Antonio dos Santos, Oswaldo Soares, Pedro Lobo de Oliveira e Tercina Dias de Oliveira; os outros vinte faziam parte de várias organizações, sendo eles: Aderval Alves Coqueiro, Ângelo Pezzutti da Silva, Apolônio de Carvalho, Carlos Eduardo Fayal de Lira, Carlos Eduardo Pires Fleury, Cid de Queiroz Benjamin, Daniel Aarão Reis, Domingos Fernandes, Fausto Machado Freire, Fernando Paulo Nagle Gabeira, Jeová Assis Gomes, Joaquim Pires Cerveira, Jorge Raimundo Nahas, Marco Antonio Azevedo Meyer, Maria José Carvalho Nahas, Maurício Vieira Paiva, Murilo Pinto da Silva, Ronaldo Dutra Machado, Tânia Rodrigues Fernandes e Vera Sílvia Araújo Magalhães. Curiosamente, foi a primeira lista que constava o nome de militantes que participaram dos seqüestros anteriores de Charles Elbrick e Nobuo Okushi. Os presos foram banidos do país, enviados em um avião da Varig para o exílio na Argélia.
O seqüestro de Von Holleben durou cinco dias. Conta-se que o embaixador foi recebido gentilmente pelo militante Alfredo Sirkis, com chá e salgadinhos, que conversava com ele em inglês, explicando-lhe o lado romântico e ideológico do seqüestro, só não lhe revelando a morte do segurança nas costas. Sirkis conta que, Bacuri entrou uma vez no quarto sem capuz, sendo repreendido por um irritado Von Holleben, que protestou: “Nada de rostos, por favor!”. Esta exigência pouparia o embaixador da ingrata tarefa de fazer reconhecimentos mais tarde. Conta ainda que, na despedida, o embaixador teria observado: “Pensei que vocês fossem mais organizados!”. Von Holleben foi libertado já altas horas da noite do dia 16 de junho, sendo deixado na Tijuca, às 23h00. Levava no bolso do casaco um documento relatando torturas, que se dispusera com prazer, a divulgar na Europa. O embaixador nada falou no depoimento que deu à policia sobre as conversas com Sirkis, evitando que fosse identificado, muito menos do documento que trouxera consigo. Holleben, paradoxalmente, tornou-se um simpatizante da causa dos guerrilheiros.
O Seqüestro de Giovanni Enrico Burcher
O ano de 1970 foi um dos mais sangrentos vividos pela militância que se opunha à ditadura militar. Apesar do sucesso que foram as operações que envolveram os seqüestros de três diplomatas, dando visibilidade internacional à situação política do país, os órgãos de repressão do governo estavam cada vez mais sofisticados e eficazes. No fim daquele ano, mais de quinhentos presos políticos abarrotavam as masmorras da ditadura.
Apesar das baixas sofridas, das prisões, torturas e perseguições, as organizações que promoviam a luta armada, chegaram aos últimos meses de 1970 com uma euforia latente, movida mais pela força ideológica do que por uma política visionária. Cinco organizações faziam uma frente acirrada contra a ditadura militar, valendo-se da fúria da luta armada para que vingasse os planos revolucionários de esquerda. Eram elas a Ação Libertadora Nacional (ALN), a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), o Movimento Revolucionário Oito de Outubro (MR-8), o Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR) e o Movimento Revolucionário Tiradentes (MRT). Estas organizações seriam praticamente eliminadas, de forma violenta e brutal, pela repressão da ditadura, não sobrevivendo muito mais tempo. Mesmo assim, chegaram ao fim de 1970 com a euforia de praticar grandes ações na semana que se iria completar um ano do assassínio de Carlos Marighella, principal liderança da luta armada, acontecido em 4 de novembro de 1969. O nome de Marighella servia de incentivo aos incansáveis guerrilheiros. No meio das ações que conclamariam as homenagens a Marighella, estava nos planos da VPR o seqüestro do embaixador da Suíça, Giovanni Enrico Bucher.
Mortes de lideranças continuavam a acontecer. Em 23 de outubro, caía o maior líder da ALN, Joaquim Câmara Ferreira. Prisões sucessivas atingiram o PCBR e vários líderes das outras organizações, acossando a resistência da frente armada. Pelo menos três seqüestros seriam necessários para que se pudesse libertar cerca de duzentos presos.
O embaixador suíço, Giovanni Enrico Bucher era conhecido no meio diplomático por seu bom humor, pelo hábito singular de preparar cigarros com sofisticadas misturas de fumos ingleses. Seguia pontualmente, todos os dias, para a embaixada, sem carros de segurança, desprezando as recomendações da polícia federal. Sua rotina seria mudada drasticamente pela guerrilha armada.
No dia 7 de dezembro de 1970, sob o comando do militante da VPR Gerson Theodoro de Oliveira, foi desencadeado o seqüestro ao embaixador. Bucher dirigia-se para a embaixada em um Buick azul, conduzido pelo motorista Hercílio Geraldo e escoltado pelo agente da polícia federal, Hélio Carvalho de Araújo.
O carro diplomático foi interceptado pelos seqüestradores, entre eles o mítico Carlos Lamarca, que trazia cavanhaque para disfarçar o rosto. Lamarca bateu no vidro da janela do agente de segurança, abrindo a porta e desferindo-lhe dois tiros, tendo um deles atingindo a medula do agente, que morreria no hospital Miguel Couto, três dias depois. O motorista Hercílio Geraldo foi rendido, sendo obrigado a deitar-se na calçada. O embaixador foi retirado do Buick, e levado para o Fusca azul. Bucher foi disfarçado com um macacão operário e boné na cabeça. A ação durou pouco mais de 30 segundos, e mais uma vez, deixou um morto.
O embaixador suíço, então com 56 anos, foi levado para uma casa da Rua Paracatu, em Rocha Miranda. As negociações foram as mais longas de todos os seqüestros e envolveram a libertação de setenta presos políticos. Neste período, os militantes promoveram uma política de boa vizinhança, chegando a dar uma festa ao som de Roberto Carlos e Erasmo Carlos, na passagem do ano de 1970 para 1971, com o seqüestrado preso em um pequeno quarto dos fundos.
Nos quarenta dias que decorreram entre o seqüestro e a libertação, Burcher jogou cartas com os seqüestradores, teve direito a banho de sol no quintal. No inicio foi recebido de capuz pelos carcereiros, uma semana depois, os cinco militantes que o mantinham no cativeiro apresentaram-se de rostos descobertos. Burcher não quis reconhecer os algozes mais tarde diante da polícia, dizendo que eles tinham ficado o tempo todo de capuzes.
O longo período de negociações entre os seqüestradores e o governo, gerou uma certa tensão, em que se foi discutido inclusive a morte do embaixador, caso não se chegasse a um consenso. A morte de Bucher chegou a ser votada pelos militantes, que recuaram dias antes do natal. Só no dia 13 de janeiro de 1971, após várias negociações dos nomes dos prisioneiros que deveriam ser libertados, setenta presos foram escoltados por agentes federais, sendo embarcados em um Boeing da Varig, rumo ao exílio em Santiago do Chile.
Os setenta presos políticos banidos para o Chile foram: Afonso Celso Lana Leite, Afonso Junqueira de Alvarenga, Aluísio Ferreira Palmar, Antonio Expedito Carvalho Pereira, Antonio Rogério Garcia da Silveira, Antonio Ubaldino Pereira, Aristenes Nogueira de Almeida, Armando Augusto Vargas Dias, Bruno Dauster Magalhães e Silva, Bruno Piola, Carlos Bernardo Vainer, Carmela Pezzuti, Christóvão da Silva Ribeiro, Conceição Imaculada de Oliveira, Daniel José de Carvalho, Derci Fensterseifer, Derly José de Carvalho, Edmur Péricles Camargo, Elinor Mendes Brito, Encarnación Lopes Peres, Francisco Roberval Mendes, Geny Cecília Piola (casada com Bruno, levou suas três filhas menores, Tatiana, Kátia e Bruna), Gustavo Buarque Schiller, Humberto Trigueiros Lima, Irani Campos, Ismael Antônio de Souza, Jaime Walwitz Cardoso, Jairo José de Carvalho, Jean Marc Friedrich Charles Van der Weid, João Batista Rita, João Carlos Bona Garcia, Joel José de Carvalho, José Duarte dos Santos, Jovelina Tonello do Nascimento, Julio Antonio Bittencourt de Almeida, Lúcio Flávio Uchoa Regueira, Luiz Alberto Leite Sanz, Manoel Dias do Nascimento, Mara Curtiss de Alvarenga, Marco Antonio Maranhão da Costa, Maria Auxiliadora Lara Barcelos, Maria Nazareth Cunha da Rocha, Nancy Mangabeira Unger, Nelson Chaves dos Santos, Otacílio Pereira da Silva, Paulo Roberto Alves, Paulo Roberto Telles Franck, Pedro Alves Filho, Pedro Chaves dos Santos, Pedro Viegas, Pedro Paulo Bretãs, Rafael de Falco Neto, Reinaldo Guarany Simões, Reinaldo José de Melo, René Louis Laugery de Carvalho, Roberto Antônio de Fortini, Roberto Cardoso Ferraz do Amaral, Roque Aparecido da Silva, Samuel Aarão Reis, Sonia Regina Yessin Ramos, Takao Amano, Tito de Alencar Lima, Ubiratan de Souza, Ubiratan Vatutin Herzcher Borges, Valneri Neves Antunes, Vera Maria Rocha Pereira, Wânio José de Matos, Washington Alves da Silva, Wellington Moreira Diniz e Wilson Nascimento Barbosa.Na manhã do dia 16 de janeiro de 1971, Bucher foi deixado próximo ao penhasco da igreja da Penha. Encerrava-se o ciclo de seqüestros a diplomatas realizados pelas organizações da esquerda durante o período da ditadura. Encerrava-se um conturbado e complexo momento da história do Brasil. Os seqüestros permitiram a libertação de cerca de 130 importantes presos políticos, que viviam sob tortura e risco de vida diante de um governo repressivo e ilegítimo, instaurado sob tanques de guerra e canhões, em 1964.

deu no site http://jeocaz.wordpress.com/2009/07/26/os-sequestros-que-abalaram-a-ditadura-militar/