UM PAÍS QUE NÃO EXISTE MAIS

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

AMERICANOS TRAMAM APOIO AO GOLPE DE 64

Información básica sobre Cuba, miembro de CELAC

sábado, 26 de novembro de 2011

Filha da Anistia busca reflexão crítica sobre ditadura

A peça, que estreou há três anos em São Paulo, conta a trajetória de uma jovem em busca do pai que não chegou a conhecer. Nesse processo, ela acaba descobrindo um passado de mentiras e omissões, forjado durante os anos de chumbo. Cada apresentação é seguida de um debate, com a participação do público, do elenco e de convidados ligados resistência à ditadura.

De acordo com Carolina, o projeto surgiu da reflexão sobre o fato de a atual geração não conhecer bem essa parte da história do país e, aparentemente, não demonstrar interesse por ela e pela política. “Eu tenho 33 anos, então foi um questionamento sobre a minha própria geração. Eu não vivi nada disso, não tenho nenhum familiar envolvido. Mas, como artistas, eu e o Alerxandre Piccini (ator e co-autor) começamos a nos questionar”, relata.

A partir de então, eles iniciaram um longo trabalho de pesquisa, em bibliotecas, arquivos e locais como o Memorial da Resistência, em São Paulo. Também foram em busca dos personagens, entrevistaram pessoas que vivenciaram este momento da história e participaram da resistência ao regime autoritário.

“O espetáculo é uma ficção. Mas estamos viajando o país e, toda vez que a gente se apresenta, tem sempre alguém que se reconhece na história, que diz ‘isso aí tem tudo a ver com o que eu vivi’, ‘comigo aconteceu exatamente assim’, ‘minha irmã passou por isso’. Então a gente vai colhendo mais e mais depoimentos ”, explica Carolina.

Durante todo esse tempo, a reação – e a interação – dos espectadores tem sido um capítulo à parte. “Ali é o lugar em que o jovem se encontra com o cara que viveu essa história. As gerações se encontram no debate e isso é impagável, porque a gente vê o adolescente questionando como é que aquele outro cara enxergava o país naquela época e como é que ele enxerga hoje”, diz a atriz.


Para ela, é possível perceber, em muitos momentos, que o jovem dos anos de chumbo tem muito a ver com o da geração atual. “Todo mundo continua insatisfeito com as desigualdades, com o ensino no país, com a miséria, quer dizer, as questões continuam aí, elas não se resolveram”, constata.

E, nesse encontro, são reveladas história de anônimos, gente que não entrou para a história como Carlos Lamarca ou Carlos Marighella, mas que abandonou seus projetos para lutar pela democracia ou teve sua vida afetada pela ditadura.

“São pessoas que não estão nos livros, nos jornais, mas pegam o microfone e falam coisas muito tocantes. Teve um depoimento que não foi nem de uma pessoa que participou da resistência, mas de uma mãe. Ela tinha mais de 80 anos e os filhos ficavam dizendo ‘poxa, vamos mudar desta casa, vamos para um apartamento. Você fica sozinha aqui nesta casa’. E ela dizia ‘não, eu não posso sair desta casa de jeito nenhum, porque se o meu filho voltar, ele vai voltar para esta casa e, se eu sair daqui, ele não vai me encontrar’. Ela tinha um filho desparecido político. E está lá, ainda hoje, naquela casa, com o mesmo número de telefone, esperando o filho voltar. Então são histórias que a gente fica arrepiada só de ouvir”, lembra Carolina emocionada.

Comissão da Verdade
Coincidentemente, as últimas apresentações deste ano ocorrem uma semana após a presidente Dilma Rousseff sancionara lei que cria a Comissão da Verdade, um assunto sempre em pauta nos debates. “Eu imagino que agora essas conversas vão continuar muito em torno do que vai ser o trabalho dessa comissão, como ela vai atuar, o que ela vai poder esclarecer. Porque, afinal, dois anos (período em que a Comissão da Verdade funcionará) é pouco tempo para esclarecer tudo o que foi escondido pela história oficial”, prevê a atriz.

Depois de participar de tantas discussões e de ouvir opiniões distintas sobre a necessidade de desvendar os fatos ocorridos no Brasil sob o regime militar, Carolina Rodrigues é ponderada ao falar sobre a Comissão da Verdade. “Eu tenho grandes críticas ao projeto, assim como muitas pessoas têm críticas, mas eu acho que a gente tem que não desanimar. Assim como o país conseguiu uma anistia que não foi a que a gente queria - que não foi nem ampla, nem geral, nem irrestrita -, agora a gente aprovou uma Comissão da Verdade, que não foi nem da memória, nem da justiça. Então a comissão foi um passo, mais ainda falta muito trabalho a ser feito”, avalia.

A co-autora do espetáculo defende que além de esclarecer os fatos, é preciso ir além. “É preciso não só a verdade, mas que seja feita a justiça e eu sou a favor de que isso tudo construa uma memória. Eu não acho que a gente tenha que esconder esse assunto, colocar debaixo do tapete. Não acho que construiremos um país verdadeiramente democrático se não olharmos para esse passado, com uma análise crítica”.

Uma dos objetivos dos realizadores do espetáculo Filha da Anistia é exatamente desfazer uma ideia de que o que ocorreu na época da ditadura diz respeito apenas aos diretamente envolvidos. Nesse sentido, questionada sobre como tem sido a recepção à peça, Carolina conta que tem se surpreendido com as reações na plateia.

“Temos encontrado jovens extremamente politizados, a ponto de ouvirmos um adolescente de 14 anos, em Porto Alegre, perguntando o que ele poderia fazer para ajudar a aprovar a comissão da verdade o mais rápido possível. Isso é muito legal”, comemora.

Por outro lado, ela também se deparou com o inverso. “Tem gente que ainda não está nem aí para nada disso”, diz, lembrando que uma das tristes heranças da ditadura militar brasileira é justamente o desmonte da educação, que muito tem a ver com essa falta de interesse pelo passado e pela política. “A educação foi extremamente sucateada na época da ditadura. Não interessava mais que as pessoas pensassem. Então o jovem de hoje não é mais politizado por falta de estímulos e de melhores condições de ensino”.

Passados 32 anos da anistia, pessoas permanecem desaparecidas, fatos distorcidos ou encobertos e nenhuma punição recaiu sobre os responsáveis por prisões, torturas e assassinatos da época da ditadura. Para Carolina Rodrigues, essas lacunas e omissões têm impacto em vários aspectos da atualidade brasileira.

“Por trás dos crimes de violação de direitos humanos cometidos naquela época, há uma tentativa de calar uma parcela da população que queria um projeto totalmente diferente para o Brasil. Estava em jogo uma disputa ideológica, de projetos distintos. Tinha a direita, com os militares e a burguesia que bancou a caça aos resistentes. E tinha a esquerda, que foi reprimida com tanta violência e barbárie”, aponta.

Ao classificar-se como uma pessoa de esquerda, a atriz defende que o fato de os crimes daquele período não terem sido apurados deixa a sensação de que o problema em questão naquela época era mais superficial. “Além de apurar os crimes é preciso entender o contexto todo dessa disputa, que é ideológica”, diz.

Teatro engajado
Em um momento em que o teatro engajado é visto com muitas ressalvas pela crítica, que o trata como algo meio fora de moda, Carolina busca explicações para isso exatamente nessa disputa de projetos. De acordo com ela, nas décadas de 60 e 70, praticamente tudo que se fazia no cenário artístico era engajado.

“O artista não se colocava se não fosse politicamente, porque ao tomar posições, contribuía parta uma reflexão sob um ponto de vista. E quando se acirrou essa disputa entre capitalismo x socialismo, direita x esquerda, artistas foram perseguidos, censurados e torturados no mundo inteiro. A arte engajada foi sendo desmoralizada aos poucos. E, para sobreviverem no mundo, conseguirem trabalhar, as pessoas tiveram que não fazer a crítica”, coloca.

Carolina lamenta, então, que a retomada desse tipo de arte venha acontecendo de forma tão devagar. “Porque o capitalismo prevaleceu. A gente vive num mundo capitalista em que as pessoas querem entretenimento. Elas querem consumir e não pensar. E a gente faz espetáculo para refletir, essa é a nossa diferença”, completa.

Questionada sobre como despertar na plateia essa consciência crítica, ela responde: “Não se pode impor isso, mas dar ferramentas para que o espectador faça a sua própria reflexão. Nós vamos nos apresentar em um teatro com 1300 lugares. Se 1300 pessoas assistirem a nossa peça e cada uma delas sair de lá com uma reflexão, está ótimo. Se todas saírem de lá com a mesma reflexão, está errado. Cada um deve pensar aquilo tudo à sua própria maneira”.

Apesar de encerrar as atividades este ano, após as apresentações em Brasília, o grupo pretende continuar com o projeto no ano que vem. “Não paramos de receber convites e achamos que é muito importante continuar. Esse projeto está servindo a um debate que é muito sério. E é uma ferramenta pedagógica poderosa”, conclui.

Serviço

Filha da AnistiaDireção de João Otávio
Dias 25, 26 E 27 de novembro , às 20h
No Teatro Nacional – Sala Villa Lobos, em Brasília
Apresentações gratuitas, seguidas de debates
Os ingressos serão distribuídos na bilheteria com uma hora de antecedência

Presenças confirmadas nos debates:
Hamilton Pereira - secretário de Cultura do DF
Gilney Vianna - vítima
Iara Xavier Pereira- do Comitê pela Verdade Memória e Justiça do DF/ vítima
Sonia Hypolito - vítima
Paulo Abrão – da Comissão de Anistia
Roberto Aguiar - professor da UNB
Carlos Tiburcio - assessor especial da presidente Dilma Rousseff
Jose Geraldo Souza Jr - reitor da UNB
Alipio Freire – jornalista, escritor e artista plástico


Da Redação,
Joana Rozowykwiat
do site http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=169484&id_secao=11

Filha da Anistia - trailer

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Mariátegui y la religión por Jorge Aliaga

El pensamiento de Mariátegui sobre la religión, la filosofía, la ética, la política o la cultura toma en cuenta el espíritu romántico/revolucionario, pues es este espíritu, el que define su concepción marxista del mundo. 

El académico marxista Michael Lowy en su ensayo titulado: "Mística revolucionaria: José Carlos Mariátegui y la religión", argumenta que Mariátegui, tanto en el tema religioso como en otros temas, es un heterodoxo y apunta que “en el corazón de su heterodoxia marxista, de la singularidad de su discurso filosófico y político, se encuentra un momento irreductiblemente romántico”.

Lowy plantea que “el romanticismo no se trata de una escuela literaria sino de un movimiento cultural que nace a finales del sigo XVIII: una protesta contra la llegada de la civilización capitalista moderna, la sociedad industrial burguesa fundada en la racionalidad burocrática, la deificación mercantil, la cuantificación de la vida social y el desencantamiento del mundo".


Ese romanticismo, nos dice Lowy, “representa la critica romántica de la modernidad capitalista, la misma que, se hace en nombre de valores sociales, éticos, culturales o religiosos pre capitalistas. Esta crítica puede presentarse en formas reaccionarias o en formas utópicas y revolucionarias, como lo es en la corriente marxista, que, de acuerdo a Lowy, podría llamársele corriente marxista–romàntica, 'de William Morris a E.P.Thompson, del joven Lukacs a Ernst Bloch, y de Walter Benjamin hasta Herbert Marcase”.

El interesante ensayo de Lowy sugiere que nuestro Amauta se inscribe en esta corriente de pensamiento de una forma original, en un contexto latino-americano, diferente al europeo. Mariátegui formula su visión del mundo romántico–revolucionario en su ensayo "La emoción de nuestro tiempo – Dos concepciones de la vida" que fue publicado en "Mundial" el año 1925. En este ensayo Mariátegui rechaza la filosofía evolucionista, historicista, racionalista. La acusa de rendir culto supersticioso a la idea de progreso. Allí, Mariátegui valora los mitos heroicos, el romanticismo, el “donquijotismo”, y elucida la lucha a muerte entre el romanticismo de derecha, fascista contra el romanticismo de izquierda, revolucionario, bolchevique. El primero postula regresar a la Edad Media, el segundo postula avanzar en el camino de la utopía.

Las energías románticas del hombre occidental, sugiere Lowy, encontraron en la Revolución Rusa la oportunidad para inyectar en la doctrina socialista un ánima guerrera y utopía. En los escritos de Mariátegui encontramos frecuentemente la palabra mística que, de acuerdo a Lowy, tiene un significado más amplio pero que no deja de tener un sentimiento profundamente religioso. Muy alejado está Mariátegui de la practica doctrinaria del marxismo ortodoxo sobre la cuestión del hecho religioso que lo considera “el opio del pueblo”. Para Mariátegui el socialismo se puede considerar igualmente un hecho religioso 'desde el punto de vista de los valores que deben trascender al hombre'. El Amauta argumenta que no todo es pura razón y ciencia, que es importante que los seres humanos se pregunten por la trascendencia. Mariátegui, pues, en mi opinión, ve en la religión el recurso de cohesión psico–social, estado socio–emocional, que al margen de su naturaleza ideológica también ha tenido roles determinantes en el desarrollo humano.

La posición de Mariátegui en torno a la religión también se puede ver en su ensayo "El Proceso de la Literatura Peruana". Allí el autor de "Siete Ensayos" señala que Gonzáles Prada se engañaba al señalar su antirreligiosidad y acierta que una revolución es siempre religiosa. La palabra religión asume pues un nuevo sentido. Ya no sirve solo para designar un rito o una iglesia. El slogan reduccionista que señala que "la religión es el opio de los pueblos" es una vieja acepción que conlleva a la confusión y posición antagónica con nuestro pueblo. Los marxistas tenemos que explicar el nuevo sentido de la palabra religión, comprender que el comunismo es sustancialmente religioso en su nueva definición etimológica. Mariátegui, pues, entrega al mundo del Siglo XXI una concepción ética, política y espiritual que responde a las necesidades de la humanidad que busca su trascendencia, un mito heroico para ponerle encanto a la vida.

En "Variedades" de 1924 Mariátegui publica un ensayo titulado "Gandhi". En este ensayo el comunista peruano, suscrito a la Tercera Internacional, expresa lo siguiente: 'El socialismo y el sindicalismo, a pesar de su concepción materialista de la historia, son menos materialistas de lo que parecen, se apoyan sobre el interés de la mayoría, pero tienden a ennoblecer y dignificar la vida. Los occidentales son místicos y religiosos a su modo. ¿Acaso la emoción revolucionaria no es una emoción religiosa? Ocurre que en occidente la religiosidad se ha desplazado del cielo a la tierra. Sus motivos son humanos, son sociales, no so divinos. Pertenecen a la vida terrena y no a la vida celeste'. Esta hipótesis que nos deja Mariátegui es fundamental para comprender a Camilo Torres, Oscar Romero, a la teología de la liberación, a los cristianos que se enrolaron en gran número en el sandinismo nicaraguense, al EZLN de Chiapas o al MST, Movimiento de los Campesinos sin Tierra, en el Brasil, y a muchos otros.

La "Mística revolucionaria: José Carlos Mariátegui y la religión", ensayo de Michael Lowy, sustenta que 'La interpretación positivista de la doctrina socialista es incapaz de dar cuenta de su profunda significación moral y política: «Vana es la tentativa de catalogarla como una simple teoría científica, mientras obre en la historia como evangelio y método de un movimiento de masas» Partiendo de la presuposición fundamental que «cada acto del marxismo tiene un acento de fe, de voluntad, de convicción heroica y creadora», Mariátegui propone, en varios pasajes de Defensa del Marxismo, una comparación ético-política entre la mística de los revolucionarios y la de los cristianos: entre las asambleas de la III Internacional y el misticismo de la cristiandad de las catacumbas (una analogía ya sugerida por Engels, aunque Mariátegui no lo cita), entre Rosa Luxemburgo y Teresa de Ávila, y, de manera general, entre los héroes del socialismo y los de la religión'.

 
En el reciente II Congreso Europeo del Partido Comunista Peruano, celebrado en Madrid, se han expuesto algunas ideas básicas sobre el tema religioso al cual Mariátegui le brindara pensamiento y reflexión marxistas. Gustavo Gutiérrez, sacerdote peruano, fundador de la teología de la liberación, a su vez, ha dictado un curso dedicado enteramente a las ideas de Mariátegui. Su obra "Teología de la liberación" contiene varias referencias al fundador del Partido Comunista. El interés intelectual de los comunistas hoy también apunta a la dimensión religiosa del socialismo.
 
http://www.pcperuano.com/index.php?option=com_content&view=article&id=2264:jorge-aliaga&catid=2:cultura&Itemid=27

domingo, 20 de novembro de 2011

José Carlos Mariátegui: brilhante pensador, por Carlos Nelson Coutinho

Leia texto de Carlos Nelson Coutinho, orelha do livro "Defesa do marxismo: polêmica revolucionária e outros escritos", segundo ele um dos mais brilhantes pensadores marxistas de Nuestra América.
José Carlos Mariátegui, um dos mais brilhantes pensadores marxistas de Nuestra América, é conhecido sobretudo por seus estudos seminais acerca da realidade social peruana e latino-americana. Menos conhecidas e valorizadas são suas brilhantes reflexões sobre política internacional, arte e literatura, pedagogia etc. etc. Como todo autêntico marxista, Mariátegui não se enquadra em nenhuma das “especialidades” em que hoje está arbitrariamente dividido o pensamento social vigente nas universidades; ao contrário, por adotar o ponto de vista marxista da totalidade, é capaz de apreender o real em sua dinâmica global e contraditória.

O leitor de Sete ensaios de interpretação da realidade peruana, certamente a sua obra-prima, não deve assim se surpreender ao encontrar nos ensaios contidos em Defesa do marxismo um Mariátegui empenhado em abordar temas filosóficos, cujo esclarecimento lhe parece essencial para definir o autêntico perfil do materialismo histórico. A concepção mariateguiana do marxismo é devedora das experiências políticas e culturais vivenciadas por ele na Europa, em particular na Itália, onde morou por mais de três anos. É isso o que explica a enorme similaridade entre sua interpretação da obra de Marx e aquela presente nas reflexões do jovem Gramsci: ambos combatem dura e acertadamente uma leitura economicista e determinista do marxismo, predominante na Segunda Internacional, mas nem sempre evitam a adoção de pontos de vista de clara inspiração idealista. Isso não anula, porém, a importância dos ensaios de Mariátegui contidos neste livro. Nosso autor partilha com o jovem Gramsci – mas também com o primeiro Lukács, com Korsch e com Benjamin – as grandezas e os limites do que poderíamos chamar de marxismo dos anos 1920, um dos momentos mais ricos da evolução do materialismo histórico-dialético.

Como em toda sua obra, Mariátegui aborda aqui temas e autores presentes na cultura europeia. Isso levou muitos nacionalistas estreitos a acusarem-no de ser abstratamente cosmopolita. A eles, retrucava: “Fiz na Europa meu melhor aprendizado. E creio que não há salvação para a Indo-América sem a ciência e o pensamento europeus ou ocidentais”. Ao mesmo tempo, porém, afirmava que o socialismo defendido por ele para o que chamava de Indo-América não era “nem decalque nem cópia”, mas criação original e inédita. Não é assim dos menores legados de Mariátegui esta correta articulação da universalidade teórica com a apreensão da particularidade concreta de seu país e de nosso subcontinente.

___________

Carlos Nelson Coutinho é um destacado filósofo marxista, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e reconhecido internacionalmente como um dos maiores especialistas no pensamento de Gramsci. É também responsável, ao lado de Leandro Konder, pela introdução dos estudos de Lukács no Brasil.

Carlos Marighella

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

23 coisas que eles não falam para vocês sobre o capitalismo - de Emir Sader



O número poderia ser infinito, mas para começo de conversa, o autor – Ha-Joong Chan, sul-coreano, que trabalha em Cambridge – seleciona 23. (23 things they don’t tell yu about capitalism", Penguin Books, Londres, 2011). Cada um pode acrescentar as suas. As dele são:

1. Não há isso que chamam de livre comércio.

2. As empresas não deveriam ser dirigidas em função do interesse dos seus donos.

3. Muita gente nos países ricos é paga acima do que deveria.

4. As máquinas de lavar mudaram o mundo mais do que a internet.

5. Assuma o pior sobre o povo e você vai obter o pior.

6. Maior estabilidade macroeconômica não fez a economia mundial mais estável.

7. As políticas de livre comércio raramente tornam ricos os países pobres.

8. O capital tem uma nacionalidade.

9. Nós não vivemos numa era pós-industrial.

10. Os EUA não têm o mais alto nível de vida do mundo.

11. A África não está condenada ao subdesenvolvimento.

12. Os governos podem punir os vencedores.

13. Tornando os ricos mais ricos não se torna os outros ricos.

14. Os executivos norteamericanos são pagos em excesso.

15. As pessoas nos países pobres são mais empreendedoras do que nos países ricos.

16. Mais educação, por si só, não faz um país mais rico.

17. O que é bom para a General Motors não é necessariamente bom para os EUA.

18. Não somos suficientemente tontos para deixar as coisas para o mercado.

19. Apesar do fim do comunismo, nós ainda vivemos em economias planificadas.

20. A igualdade de oportunidades pode não ser justa.

21. Governo forte torna as pessoas mais abertas para as transformações.

22. O mercado financeiro precisa se tornar menos e não mais eficiente.

23. Uma boa política econômica não necessita de bons economistas.


quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Nuevas evidencias del Plan Cóndor en Brasil

Un dossier secreto obtenido por Página/12 demuestra el nivel de colaboración que existía entre las dictaduras de Brasil y Argentina, algo que en este país se da por descontado, pero que en Brasil aún genera debate.


Por Darío Pignotti

Desde Brasilia
Cientos de documentos secretos a los que tuvo acceso este diario indican que los lazos que unían a Brasil y Argentina en el Plan Cóndor fueron intensos y continuos por lo menos desde 1975, y con cierta frecuencia antes de ello. La colaboración entre los militares argentinos y brasileños no se limitó al plano operativo. Además de facilitar informaciones o desplegando agentes para dar caza a la resistencia en ambos países, también existió una estrecha colaboración en el plano diplomático. Según muestran los documentos, una parte importante de los diplomáticos brasileños en Sudamérica reportaban al CIEX, una red de inteligencia formada en el Palacio Itamaraty en la segunda mitad de los años ’60 por Manoel Pio, quien llegó a ser secretario general de la Cancillería y a fines de los ’60 se de-sempeñó como embajador en Buenos Aires. Lo sucedió Francisco Azeredo da Silveira, “un hombre que avaló los secuestros de brasileños en Buenos Aires en los ’70”, afirmo Jarbas Silva Marques, el prisionero político que purgó más años en las cárceles de la dictadura brasileña.
En los archivos de la inteligencia brasileña hay informes sobre las actividades del escritor Juan Gelman en Roma y sobre un viaje que al parecer realizó a Madrid “junto a Bidegain, Bonasso M. y otros dirigentes... el 17 de junio de 1978”, reza el despacho incluido en un dossier del Estado Mayor del Ejército de Brasil, caratulado “Movimiento Peronista Montonero en el exterior, Accionar, Contactos, Conexiones con Grupos Terroristas, Antecedentes”. El documento recoge la información que los servicios de inteligencia argentinos les pasaron a sus colegas brasileños. En el dossier del Ejército brasileño también hay detalles sobre las tareas de los exiliados argentinos en México para lograr el exilio del ex presidente Héctor Cámpora, recluido en Buenos Aires, así como datos sobre un encuentro en Beirut, el 21 de junio de 1978, entre “jefes del Ejército Peronista Montoneros (con) los servicios especializados de la resistencia palestina”.
El dossier no contiene grandes revelaciones sobre los Montoneros, pero demuestra el nivel de colaboración que existía entre ambas dictaduras, algo que en la Argentina se da por descontado, pero que en Brasil aún genera debate.
“En Brasil está instalada la idea de que no hubo participación o si la hubo fue secundaria y esto es completamente ajeno a la realidad. Brasil no sólo participó sino que fue una pieza importe dentro del Cóndor”, señala Jair Krischke, titular del Movimiento de Justicia y Derechos Humanos brasileño, que sigue el rastro del Cóndor verdeamarillo desde hace tres décadas. “En Brasil se conoce poco y se oculta mucho, gracias a que se impidió que la Justicia investigue. Aquí todavía tenemos la Ley de Amnistía, un absurdo... y porque los militares no liberan sus archivos. Yo le diría así: quien inauguró la Operación Cóndor cuando ni siquiera se la llamaba de ese modo fue Brasil. Agentes de inteligencia brasileños secuestraron a militantes brasileños en Argentina al principio de la década del ’70. Luego, cuando el Cóndor es formalizado en Chile, por Contreras y su gente, los militares brasileños siempre tuvieron la cautela de no dejar huellas en esa coordinación, pero estaban.”
“Supe que fui espiado hasta por la Stasi (policía política de Alemania Oriental), pero ignoraba que mi nombre estaba en los archivos de la dictadura brasileña, como usted está informándome ahora”, dice Gelman desde México, al comienzo de la conversación telefónica. Más adelante, luego de conocer otras informaciones ocultas durante décadas en los armarios de Brasilia, Gelman pondera: “En fin, la verdad es que no parece ser tan asombroso que mi nombre figure en los documentos brasileños citados por usted, porque hubo montoneros importantes secuestrados allá, Horacio Campliglia fue uno”. Se refería al guerrillero desaparecido luego de ser capturado en marzo de 1980 por agentes de ambos países en el Aeropuerto del Galeao, Río de Janeiro, para posteriormente ser trasladado a la mazmorra de Campo de Mayo.
Otras comunicaciones reservadas, éstas procedentes de la embajada en Roma, hablan de las actividades desarrolladas por religiosos brasileños ante organismos internacionales de derechos humanos, gestiones que contaban con el aval de la Conferencia Nacional de Obispos de Brasil, en el seno de la cual hubo cardenales como Paulo Evaristo Arns, quien acogió refugiados argentinos en San Pablo.
Se observa en los despachos elaborados por diplomáticos y agentes del Cóndor brasileño una preocupación recurrente con los religiosos ligados a la Teología de la Liberación, tanto por las presiones que ésta realizaba en el Vaticano como por el supuesto “financiamiento internacional” que recibían las comunidades eclesiales radicadas en zonas rurales donde actuaba la guerrilla del Partido Comunista de Brasil.
La obsesión sobre los efectos “subversivos” de los curas “tercermundistas” reaparece en una ficha donde está escrito que los “Montoneros son la única organización guerrillera que tienen en su seno, de forma oficial, a sacerdotes con rango de capellanes”.
Más adelante el mismo texto, por momentos borroso, trae informaciones del cura argentino Jorge Adur, quien ostentaba “el grado de capitán del Ejército Montonero... organización que en julio del ’78 envió una notificación al Vaticano sobre su designación”.
El reporte, con sello del Ejército brasileño y presuntamente escrito por los servicios argentinos, está fechado en septiembre de 1978, casi dos años antes de la desaparición de Adur, ocurrida en junio de 1980, poco después de haber sido visto en el estado de Rio Grande do Sul, hasta donde viajó para presentar denuncias ante la comitiva del papa Juan Pablo II.
Un despacho “confidencial”, generado por el Servicio Nacional de Informaciones (SNI) y el Ministerio del Ejército, aborda la presencia “de terroristas del ERP y Montoneros en Brasil”, divaga sobre los motivos de la “infiltración” argentina y ordena a los miembros de las fuerzas armadas y la policía que redoblen esfuerzos para capturarlos.
Y en otro escrito reservado, del 4 de abril del ’78, el SIN, máximo organismo de espionaje subordinado directamente a la presidencia argentina, indica que los Montoneros “volverían a intensificar sus operaciones (en Argentina) durante la realización de la Copa del Mundo, buscando afectar entidades gubernamentales e interferir en las estaciones de radio y televisión”.
El balance provisorio surgido de la lectura de los telegramas e informes reservados obtenidos por Página/12 es que el aparato represivo de los dictadores, particularmente de Ernesto Geisel (gobernó entre 1974 y 1979) y Joao Baptista Figueireido (1979-1985), tipificaba a la guerrilla argentina como una amenaza a la “seguridad nacional” brasileña (tal como consigna textualmente en algunos mensajes).
Algunas de las primeras acciones terroristas binacionales habrían ocurrido en Buenos Aires, en 1970 y 1971, cuando en dos operativos coordinados con Brasil fueron secuestrados, primero, el ex coronel nacionalista Jefferson Cardim y más tarde el guerrillero Edmur Pericles Camargo, hasta hoy desaparecido. Según un telegrama fechado en Buenos Aires en 1971, obtenido por este diario en el Archivo Nacional de Brasilia, la captura de Pericles Camargo fue monitoreada por la embajada brasileña, cuyo titular era Antonio Francisco Azeredo da Silveira.
“En el Archivo del Terror paraguayo estaba guardado un telegrama llegado desde Brasil hablando sobre la coordinación con Argentina y los raptos en 1980. Eso lo descubrió Stella Calloni, autora de un gran trabajo sobre el Cóndor”, apunta el Premio Nobel de la Paz alternativo Martín Almada.
La estrategia de espiar, informar, capturar y eventualmente eliminar extranjeros en Brasil, y connacionales en el exterior, fue aplicada sistemáticamente por el aparto militar-diplomático montado poco después del golpe contra el presidente democrático Joao Goulart, en 1964, sostiene Almada.
“Los brasileños veían a los demás países del cono sur como su patio trasero, y lo querían disciplinado dentro de su plan de guerra al comunismo, y en función de ella secuestraron y asesinaron a disidentes paraguayos a pedido de (Alfredo) Stroessner, que les retribuyó haciendo igual, colaborando en la persecución de brasileños en Paraguay. He visto varios telegramas venidos de Brasil pidiendo la captura de Carlos Maringhela (líder guerrillero). Brasil fue bien disimulado, trabajó con eficacia, sin dejar huellas dentro del Cóndor, se articuló mucho con las dictaduras de Chile, Paraguay, Uruguay, Bolivia. Es lógico que debe haber bastante por descubrir sobre su colaboración con Argentina”, declaró Almada a Página/12. “Nos falta descubrir mucho, espero que esta Comisión de la Verdad lo haga. Creo que hay voluntad de hacerlo, la presidenta Dilma Rousseff mostró coraje impulsándola, los brasileños son responsables de lo que yo llamo Pre Cóndor, y de eso no se sabe casi nada”, señaló Almada.
Ciertamente, el know how de la coordinación represiva no surgió en noviembre de 1975, con la formalización del Cóndor durante la cumbre secreta de las bandas represivas estatales sudamericanas en Santiago, Chile, encabezada por el coronel Manuel Contreras.

Extraído do site http://www.pagina12.com.ar/diario/elmundo/4-181376-2011-11-17.html

Se os povos da Europa não se levantarem, os bancos trarão o fascismo de volta

imagemCrédito: Resistir.info

por Mikis Theodorakis

No momento em que a Grécia é colocada sob a tutela da Troika, que o Estado reprime as manifestações para tranquilizar os mercados e que a Europa prossegue nos salvamentos financeiros, o compositor Mikis Theodorakis apela aos gregos a combater e alerta os povos da Europa para que, ao ritmo a que as coisas vão, os bancos voltarão a implantar o fascismo no continente.
Entrevistado durante um programa político popular na Grécia, Theodorakis advertiu que, se a Grécia se submeter às exigências dos chamados ".parceiros europeus" será ".o nosso fim quer como povo quer como nação". Acusou o governo de ser apenas uma "formiga" diante desses "parceiros", enquanto o povo o considera "brutal e ofensivo". Se esta política continuar, "não poderemos sobreviver … a única solução é levantarmo-nos e combatermos".
Resistente desde a primeira hora contra a ocupação nazi e fascista, combatente republicano desde a guerra civil e torturado durante o regime dos coronéis, Theodorakis também enviou uma carta aberta aos povos da Europa , publicada em numerosos jornais… gregos. Trechos:
O nosso combate não é apenas o da Grécia, mas aspira a uma Europa livre, independente e democrática. Não acreditem nos vossos governos quando eles alegam que o vosso dinheiro serve para ajudar a Grécia. (…) Os programas de "salvamento da Grécia" apenas ajudam os bancos estrangeiros, precisamente aqueles que, por intermédio dos políticos e dos governos a seu soldo, impuseram o modelo político que conduziu à atual crise.
Não há outra solução senão substituir o atual modelo económico europeu, concebido para gerar dívidas, e voltar a uma política de estímulo da procura e do desenvolvimento, a um proteccionismo dotado de um controlo drástico das Finanças. Se os Estados não se impuserem aos mercados, estes acabarão por engoli-los, juntamente com a democracia e todas as conquistas da civilização europeia. A democracia nasceu em Atenas, quando Sólon anulou as dívidas dos pobres para com os ricos. Não podemos autorizar hoje os bancos a destruir a democracia europeia, a extorquir as somas gigantescas que eles próprios geraram sob a forma de dívidas.
Não vos pedimos para apoiar a nossa luta por solidariedade, nem porque o nosso território foi o berço de Platão e de Aristóteles, de Péricles e de Protágoras, dos conceitos de democracia, de liberdade e da Europa. (…)
Pedimos-vos que o façam no vosso próprio interesse. Se autorizarem hoje o sacrifício das sociedades grega, irlandesa, portuguesa e espanhola no altar da dívida e dos bancos, em breve chegará a vossa vez. Não podeis prosperar no meio das ruínas das sociedades europeias.
Construamos juntos uma Europa nova, uma Europa democrática, próspera, pacífica, digna da sua história, das suas lutas e do seu espírito. Resistamos ao totalitarismo dos mercados que ameaça desmantelar a Europa transformando-a em Terceiro Mundo, que joga os povos europeus uns contra os outros, que destrói o nosso continente, provocando o regresso do fascismo.
07/novembro/2011

Tradução de Margarida Ferreira.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Capital Inicial canta VERANEIO VASCAÍNA.



O nome Veraneiro Vascaína, atribuído à viatura policial, foi dado em função de suas cores serem semelhantes às do Clube de Regatas Vasco da Gama.

Comissão da Verdade: tempo preciso para a redenção histórica - Revista Caros Amigos - por Paulo Teixeira

Na noite de 26 de outubro o plenário do Senado Federal prestou uma grande contribuição para a garantia do direito à memória e à verdade no Brasil.

Com a aprovação do PL 7376/10, fica mais perto de ser criada e começar a funcionar a Comissão Nacional da Verdade, órgão similar a vários outros que, nas últimas três ou quatro décadas, investigaram violações de direitos cometidas por regimes de exceção em cerca de quarenta países ao redor do mundo.

Muitas e duras críticas foram feitas à natureza do projeto, que havia sido aprovado na Câmara em setembro e em breve será sancionado pela presidenta Dilma Rousseff.

As críticas têm pertinência porque vocalizam o desejo e o pensamento de organizações e militantes de direitos humanos, bem como de famílias de mortos e desaparecidos políticos que foram vitimados pela ditadura que nos sufocou e oprimiu entre 1964 e 1985.

Entretanto, avaliamos que o atual momento político é bastante especial e oportuno para, finalmente, garantirmos a criação da Comissão da Verdade e, sobretudo, a viabilização do início do seu trabalho.

Embora sejam hoje minoritárias na sociedade e no Parlamento, as vozes que não aceitam o pleito legítimo e perfeitamente legal do direito à memória e à verdade estão sempre dispostas a impor toda sorte de dificuldades para a consecuçaõ deste objetivo.

Uma vez criada, a Comissão da Verdade terá plenas condições de realizar os objetivos maiores que a justificam: a busca, a identificação e a recuperação dos corpos dos desaparecidos políticos; a identificação dos agentes do Estado que cometeram violações de direitos humanos, bem como a investigação oficial acerca dos métodos e procedimentos utilizados por estes; e a reparação da memória histórica de episódios da nossa vida nacional que devemos conhecer a fundo, justamente para que não sejam repetidos.

Cabe ressaltar que o período histórico a ser abrangido pelo trabalho da Comissão – de 1946 a 1988 – tem a ver com episódios que, embora estejam fora do regime ditatorial recente (1964-1985), possuem relações de causa e consequência com processos vinculados a este. Não obstante, é de conhecimento público que as violações sistemáticas e cotidianas à Constituição, aos direitos humanos e à democracia tiveram início em 1964 e ocorreram de forma especialmente intensificada de 1968, com a instituição do AI-5, até 1979, quando foi aprovada a Lei da Anistia.

É importante notar que o trabalho da Comissão da Verdade será tão mais efetivo quanto maior for a mobilização da sociedade civil para apoiá-la e fornecer os subsídios necessários às suas investigações. Desta forma, conclamamos a sociedade a organizar, em todo o Brasil, comitês de apoio e mobilização em prol da Comissão da Verdade.

O resultado final dos trabalhos da Comissão da Verdade, indubitavelmente, se constituirá num patrimônio público da mais alta relevância que nos levará, observados os ditames da Constituição Federal, à realização do direito à memória e à verdade.

Em nome de tantos lutadores e tantas lutadoras que tombaram na resistência contra o regime ilegítimo e agora terão suas histórias reveladas pela Comissão da Verdade, podemos citar o jovem Fernando Augusto de Santa Cruz Oliveira, desaparecido no Rio de janeiro em fevereiro de 1974. Não podemos esquecer o operário Virgilio Gomes da Silva , preso em São Paulo em setembro de 1969 , torturado barbaramente até a morte e enterrado em local não identificado. Devemos lembrar também o deputado Rubens Paiva, desaparecido e morto em 1971 nos porões da repressão e que acaba de ser homenageado pela Câmara dos Deputados, que vai dar o seu nome ao corredor de acesso à biblioteca da Casa.

Além de Fernando Santa Cruz , Virgilio e Rubens Paiva, enquanto símbolos históricos da memória soterrada pela ditadura, é justo ressaltar o louvável e fundamental papel que desempenharam, para a criação da Comissão da Verdade, a atual ministra Maria do Rosário e todos os titulares que a precederam na Secretaria de Direitos Humanos: Paulo Vannuchi, Nilmário Miranda, Paulo Sérgio Pinheiro e José Gregori. Contribuição igualmente fundamental tiveram o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, o ex-deputado e atual assessor especial do Ministério da Defesa, José Genoíno, o atual ministro da Defesa, Celso Amorim, e o seu antecessor, Nelson Jobim, bem como o deputado Emiliano José, histórico militante desta causa.

Em especial, registro a tenacidade e a perseverança do ex-ministro Paulo Vannuchi, que enfrentou o árduo processo de elaboração e de afirmação do 3º Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH 3), do qual foi canalizada a energia para o envio do projeto da Comissão da Verdade ao Congresso Nacional.

Por fim, que esta primavera, para usar uma expressão do professor Emir Sader, seja a Primavera dos Direitos Humanos para o Brasil, com a tão esperada criação da Comissão da Verdade.

Paulo Teixeira é Deputado Federal pelo PT-SP e líder do PT na Câmara dos Deputados

extraído do site http://carosamigos.terra.com.br/index2/index.php/component/content/article/157-edicao-175/2066-por-que-a-politica-economica-ameaca-a-industria-brasileira

sábado, 12 de novembro de 2011

Chávez: país está pronto para “acelerar ofensiva socialista”

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, declarou que o país está pronto para "acelerar a ofensiva socialista" e anunciou a redação de uma nova Lei Orgânica do Trabalho durante o Congresso dos Trabalhadores da Cidade, do Campo e do Mar, que aconteceu no estádio José María Vargas, no estado de Vargas.


No que foi, segundo ele, "o primeiro ato público do novo Chávez", o mandatário disse que não fará apenas uma reforma e que a nova lei é "uma dívida da revolução com os trabalhadores venezuelanos".

De acordo com o chefe de Estado, será "uma lei digna do processo revolucionário de transição ao socialismo que a Venezuela está vivendo e na qual a classe operária tem que ter papel fundamental".

Chávez acrescentou que o último texto sobre o tema foi uma imposição do Fundo Monetário Internacional (FMI) em um momento em que no país "existia um governo subordinado ao imperialismo".

O presidente também informou que o instrumento legal deverá ser promulgado junto com o novo regime de prestações sociais no dia 1 de maio do ano que vem, justamente quando se comemora o Dia Internacional do Trabalho.

O ato, liderado pelo mandatário, reuniu mais de quatro mil trabalhadores de diversos setores produtivos que vão fazer parte da nova Central Bolivariana Socialista de Trabalhadores.

Durante o Congresso, ele lembrou de sua luta contra o câncer e afirmou que segue seu tratamento "à risca" para enfrentar a jornada de comícios presidenciais em 2012.

Fonte: Ansa

extraído do site http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=168466&id_secao=7

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

A construção de hegemonias alternativas, de Emir Sader


O papel dos partidos de esquerda hoje no mundo - esse o tema do seminário a que vim convidado, em Shanghai, organizado pela Fundação Friedrich Ebert e pelo Instituto da Adminstração de Shanghai. Convocado e falar sobre o Brasil, tive que fazer uma retrospectiva dos fatores que se abateram pesadamente sobre nós e sobre os outros países do continente, para revelar o marco político em que os governos progressistas – hoje majoritários no continente – atuam e que condiciona a ação dos nossos partidos.

A América Latina foi vítima privilegiada das grandes mudanças que transformaram o cenário politico internacional, com a passagem de um mundo bipolar para um unipolar, sob hegemonia imperial norteamericana; de um ciclo longo expansivo a um ciclo longo recessivo, onde ainda estamos, como a crise atual confirma; a passagem de um modelo hegemônico regulador ou keynesiano ou de bem-estar, como queiramos chamar, a um modelo liberal de mercado, como a crise referida exibe de forma escandalosa.

Nosso continente se viu afetado diretamente por essas transformações. Em primeiro lugar, pela crise da dívida, que atingiu a todos os países latino-americanos, colocando fim no longo processo de desenvolvimento econômico que presidiu nossas econômicas desde as reações de nossos países aos efeitos brutais da crise de 1929. Depois de cinco décadas em que o objetivo central de nossas economias era o de recuperar o atraso que tínhamos herdado da colônia e da dominação externa e das elites primário exportadoras sobre nossos países, foi substituído esse objetivo pelo da estabilidade monetária. Refletia a mudança de hegemonia as grandes corporações vinculadas à produção internacionalizada e sua comercialização para o capital financeiro, em sua modalidade especulativa.

Em segundo lugar, vários dos países do continente – em especial o Brasil, a Bolívia, o Chile, o Uruguai, a Argentina -, entre eles os de maior força do movimento popular, foram vítimas de ditaduras militares, que quebraram a capacidade de resistência das forças populares, preparando o campo para políticas conservadores diante de democracias destroçadas.

Como resultado direto desses dois fatores, instalaram-se na América Latina governos neoliberais em praticamente todo o continente, fazendo da nossa região o reino desse modelo antissocial, em suas modalidades mais radicais do mundo, impondo Estados mínimos que renunciavam de sua ação em favor do mercado; terminando de abrir de forma escancarada nossos mercados à açao predatória do capital internacional; fragmentando nossas sociedades pela imposição do mercado informal de trabalho e de formas suplementares de superexploração do trabalho; favorecendo as ideologias consumistas em detrimento das formas coletivas de ação e de luta pelas alternativas políticas e democráticas para atender os interesses das maiorias.

A imagem de nossas sociedades e do continente como um todo no final da década de 1990 era de sociedades destroçadas, desmoralizadas, como que condenadas à miséria e ao abandono pelos poderes públicos. As crises do México, do Brasil e da Argentina revelavam como a hegemonia do capital financeiro promovida por governos neoliberais nos havia deixado indefesos diante dos ataques especulativos que passaram a reinar no mundo – como se vê até hoje, agora afetando o centro mesmo do sistema.

Foi nesse marco que a América Latina, mais uma vez foi encontrar forças para reagir e dar uma volta espetacular nessa herança, mais que maldita, fatal, que nos levaria ao destino a que agora condenam a Grécia e que vive o próprio México, pioneiro do livre comércio e dos Tratados de Livre Comércio com os EUA, pelo qual paga um preço dramático.

Foram eleitos, sucessivamente, presidentes latinoamericanos identificados com a necessidade de superação do neoliberalismo, amparados na centralidade das políticas sociais, na prioridade dos processos de integração regional e nas alianças Sul-Sul como forma de reinserção soberana no mundo, e nos Estados indutores do crescimento econômico e da universalização dos direitos sociais.

Foi nesse marco que estão sendo construídas as condições de hegemonias alternativas, no marco de um mundo velho que insiste em sobreviver e de um mundo novo com dificuldades para afirmar-se. No marco de um processo mundial de crise hegemônica, vamos buscando construir as vias alternativas para superar nossa herança de continente mais desigual do mundo.

A conquista de governos foi e tem sido fundamental, depois da acumulação de força social na resistência às politicas antipopulares e antidemocráticas dos governos neoliberais. Porque é a partir dos governos que se pode colocar o Estado para promover a superação das atrasos a que fomos relegados, para recuperar direitos sociais expropriados e estendê-los a todos, fazer do mercado interno de consumo de massas um dos pilares de um novo modelo de crescimento com distribuição de renda.

Os governos latino-americanos que optaram por esta via demonstraram e seguem demonstrando capacidade de resistência aos efeitos perversos da crise internacional, aceleram suas políticas, mesmo sem ter força suficiente para fazer trinfar seu modelo em escala global. A América Latina segue isolada, com alianças com países do Sul do mundo, mas sem capacidade ainda para fazer prevalecer em escala mundial projetos pós-neoliberais.

Nos nossos países, os partidos tampouco ficaram imunes aos fatores negativos que nos afetaram como sociedades. Uma parte dos que faziam parte do campo da esquerda aderiram ao neoliberalismo – nacionalismos como o peronismo, o PRI mexicano, social democratas como Ação Democrática da Venezuela, PS chileno, tucanos brasileiros, abandonando o campo popular.

Mas fenômenos como a precarização da maior parte da força de trabalho, com o processo de fragmentação social correspondente e o enfraquecimento relativo dos sindicatos; a derrota do socialismo e a desmoralização da ação política, das soluções coletivas, dos Estados, dos partidos, dos governos, dos parlamentos; com a mercantilização das relações sociais e culturais - os partidos de esquerda passaram a ter um horizonte negativo para sua ação.

A reunificação de sociedades muito fragmentadas e heterogêneas passou a depender de lideranças fortes na sua capacidade de representar alternativas populares e coletivas, com processos de recomposição por cima, mais adequados à reestruturaçao por baixo, como as promovidas por partidos populares e movimentos sociais.

Lideranças como as de Hugo Chavez, Lula, Nestor Kirchner, Evo Morales, Fernando Lugo, Rafael Correa, Mauricio Funes, Ollanta Humala, Pepe Mujica – respondem a essa necessidade urgente de reação popular antes mesmo que os sujeitos sociais e políticos históricos pudessem se recompor.

Gramsci nos advertia que a história dos partidos não é sua história interna, mas a da sua inserção no universo político em que atuam. Temos que avaliar nossos partidos pelo papel que têm desempenhado ou que devem desempenhar na construção de hegemonias alternativas ao neoliberalismo – o objetivo político maior do nosso tempo.

A conquista dos governos foi fundamental, há novas maiorias políticas e sociais em nossas sociedades, que tem permitido a eleição e reeleição das novas lideranças, o que tem dado continuidade aos processos iniciados há pouco mais de uma década. Mas esses projetos não se constituíram ainda em força hegemônica nas nossas sociedades, profundamente afetadas pelos valores mercantis, pela fragmentação social, pela ação das mídias monopolistas, por estruturas políticas superadas, incapazes de representar as profundas transformações sociais que estamos vivendo.

Sem uma análise das formas de hegemonia ainda dominantes, como ponto de partida, será impossível reconstruirmos processos de construção de hegemonias alternativas – populares, democráticas, solidárias, humanistas – a que começamos a apontar e cuja continuidade supõe passar das maiorias sociais e politicas às maiorias ideológica e culturais, que consolidem esses avanços e dêem a forma de novos valores à nossas sociedades, entre o nosso passado e o nosso futuro.

Nesse marco é que os partidos de esquerda podem debater e descobrir as novas formas que devem assumir, para estar sintonizados com os desafios do tempo presente.