UM PAÍS QUE NÃO EXISTE MAIS

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Livro que resgata luta do jornal Movimento é lançado no Recife

A trajetória do semanário Movimento, que circulou de 1975 a 1981, está imortalizada no livro Jornal Movimento, Uma Reportagem, do jornalista Carlos Azevedo, que será lançado no Recife, nesta segunda-feira (31), às 19h, no Mar Hotel, em Boa Viagem, com a presença do governador Eduardo Campos, da Ministra do TCU, Ana Arraes, e do deputado estadual Luciano Siqueira, que foi correspondente e redator do Movimento no Recife, na década de 1970.



O lançamento será antecedido de debate sobre o tema Imprensa, ditadura e liberdade, com início marcado para as 17h, no mesmo local. Atuarão como debatedores principais o escritor Fernando Moraes; Ana Cláudia Elói, presidente do Sindicato dos Jornalistas de Pernambuco; e Raimundo Pereira, diretor da revista Retrato do Brasil. A elaboração do livro teve a colaboração das jornalistas Marina Amaral e Natália Viana.

Um dos mais importantes instrumentos da resistência ao regime totalitário que dominou o País por mais de duas décadas, o jornal foi uma experiência ousada e bem sucedida tanto para os jornalistas que o faziam, que eram seus próprios patrões, quanto para seus 500 acionistas, entre os quais se encontravam jornalistas, intelectuais, profissionais especializados, estudantes e trabalhadores.

O livro, produzido com apoio do Ministério da Cultura (Minc) e patrocínio da Petrobras, é fruto de um ano e meio de trabalho de uma equipe que pesquisou os arquivos da época, descobriu documentos inéditos e realizou mais de 60 entrevistas. São 362 páginas, com dezenas de ilustrações, além de DVD contendo na íntegra as 334 edições do jornal digitalizadas.

História em Movimento
Jornal político, desde o início Movimento teve um programa definido, de clara oposição à ditadura militar e de defesa das liberdades democráticas, dos interesses nacionais e da melhoria das condições de vida dos trabalhadores.

O jornal sofreu censura prévia desde a primeira edição e continuou sendo censurado ao longo dos três primeiros anos de sua existência de seis anos e meio, o que levou a publicação a enfrentar graves dificuldades materiais. Mesmo mutilado pela censura, o jornal descreveu a vida e a luta dos trabalhadores e denunciou a exploração e os crimes contra os direitos humanos e as ameaças à soberania nacional.

A partir de 1978, com o fim da censura prévia, o jornal viveu importante recuperação de suas vendas e grande ampliação de seu prestígio ao promover campanha pioneira em favor da Assembleia Nacional Constituinte e da revogação da legislação de exceção, ao apoiar a candidatura presidencial de oposição do general nacionalista Euler Bentes Monteiro e ao dar sustentação à Campanha pela Anistia Ampla e Irrestrita.

Ao mesmo tempo, realizou a mais completa cobertura jornalística do processo de reanimação das lutas populares nas cidades e no campo, destacadamente a divulgação das greves e da afirmação do movimento operário no ABC e em outras regiões, acontecimentos definitivos para o processo de restauração democrática do país.

Ousadamente, Movimento buscava oferecer a seus leitores informações atualizadas tanto no cenário nacional quanto internacional. E sobre todos os fatos apresentava sua opinião, sintonizada com o ponto de vista popular e democrático, nacionalista e anti-imperialista. Tratava das divergências no então existente campo socialista e ao mesmo tempo das polêmicas dentro do governo ditatorial e no interior das forças da oposição democrática.

Acompanhou de perto o retorno dos exilados políticos após a anistia e relatou cada episódio da reorganização dos partidos políticos e da criação do Partido dos Trabalhadores.

Colaboradores
Nascido de uma grande mobilização política, o jornal reuniu em seu Conselho Editorial nomes como os de Alencar Furtado, Audálio Dantas, Chico Buarque de Holanda, Edgar da Mata Machado, Fernando Henrique Cardoso, Hermilo Borba Filho e Orlando Villas Boas.

Foram membros do seu Conselho de Redação personalidades como Perseu Abramo, Tonico Ferreira, Aguinaldo Silva, Eduardo Suplicy, Elifas Andreatto, Fernando Peixoto, Jean Claude Bernadet, Mauricio Azedo, Francisco Pinto e Raimundo Rodrigues Pereira.

Entre as centenas de pessoas que fizeram o jornal estão Carlos Nelson Coutinho, Caco Barcelos, Chico Caruso, Duarte Pereira, Guido Mantega, Laerte, Maria Moraes, Maria Rita Kehl, Paulo Cesar Pinheiro, Paul Singer, Ricardo Maranhão, Carlos Azevedo e Rubem Grilo.

Extraído do site http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=167562&id_secao=11

Fidel felicita a atletas cubanos por logros en Panamericanos

sábado, 29 de outubro de 2011

59 años de la muerte de Camilo Cienfuegos

Homenaje a Camilo Cienfuegos Gorriarán(1932 – 1959)


Camilo Cienfuegos Gorriarán(1932 – 1959). Combatiente y revolucionario cubano. Expedicionario del Yate Granma. Uno de los pilares fundamentales de la gesta armada que derrocó a la tiranía pro imperialista del dictador Fulgencio Batista el 1 de enero de 1959. Amigo inseparable de Ernesto Che Guevara. Su valor hizo que el pueblo espontáneamente le otorgara el título honorífico de Héroe de Yaguajay y Señor de la Vanguardia.
El 28 de octubre de 1959, cuando se dirigía de regreso a La Habana tras neutralizar una conspiración contrarrevolucionaria en la provincia de Camagüey, dirigida por Hubert Matos, la avioneta se extravió y desapareció sin dejar rastros.
Después de infatigables jornadas, el 12 de noviembre, el Primer Ministro del Gobierno Revolucionario, Comandante en Jefe Fidel Castro, informaba al pueblo sobre la infructuosa gestión. Sus palabras dejaron impresa para siempre los perfiles heroicos del combatiente extraordinario:
«hombres como Camilo Cienfuegos surgieron del pueblo y vivieron para el pueblo. Nuestra única compensación ante la pérdida de un compañero tan allegado a nosotros es saber que el pueblo de Cuba produce hombres como él. Camilo vive y vivirá en el pueblo».

extraído do site http://cubaenfotos.blogcip.cu/2011/10/29/flores-para-camilo/?utm_source=feedburner&utm_medium=email&utm_campaign=Feed%3A+blogcip%2FinmR+%28Cuba+en+Fotos%29

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Documentário “Marighella"

Vivian Fernandes
da Radioagência NP,

O documentário “Marighella”, que conta a história desse revolucionário baiano, é um dos destaques da 35ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. O filme tem roteiro e direção de Isa Grinspum Ferraz, sobrinha do guerrilheiro. Ela conta o que a motivou para realizar essa obra.
“O Marighella é uma grande figura da história do Brasil. E eu convivi com o Marighella dentro de casa, sem saber que o Marighella era o Marighella, para mim era o tio Carlos. Então, tinha também essa vontade de saber mais sobre ele, essa figura que eu gostava muito e que, ao mesmo tempo, era o homem mais procurado do Brasil [durante a ditadura militar]”.
O longa conta sua trajetória de militância no Partido Comunista Brasileiro, prisão na era Vargas e a atuação como deputado. Marighella foi morto durante a ditadura civil-militar pelo delegado Sérgio Fleury. A obra traz depoimentos de militantes de esquerda que lutaram ao lado dele e de sua companheira Clara Charf.
Na trilha sonora há a música de Mano Brown chamada “Marighella”, composta especialmente para o filme. O rapper fala sobre as semelhanças entre o pensamento marighellista e o de outros lutadores.
“A gente consegue ver rápido ali a filosofia dos caras que a gente gosta também. Com o Malcon X, você vê a rebeldia do 2pac, o Public Enemy ali, você vê Zumbi, você vê os caras contemporâneos nossos do dia a dia, o cara que têm aquela bravura, tem aquela mente. Você consegue ver fragmentos do Marighella por aí”.
Na Mostra, o filme será exibido em diversos cinemas e sessões, que vão até o dia 3 de novembro. 2011 é o ano em que Carlos Marighella completaria 100 anos de vida.

extraído do site http://correiodobrasil.com.br/para-mano-brown-marighella-traz-pensamento-atual/317548/

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Um país que não existe mais (mas precisa ser conhecido)

Extraído do site http://www.faculdadeccaa.com.br/destaque/um-pais-que-nao-existe-mais-mas-precisa-ser-conhecido

24/10/2011
um país que não existe mais .notícia
Quem tem mais de 60 anos, sentiu na pele. Quem está na casa dos 40 ou 50, sofreu, no mínimo, efeitos mais ou menos sérios. E muitas pessoas com menos idade que isso não têm noção do que se passou no Brasil nas décadas de 1960 e 1970. Mas precisam saber, porque se trata de fatos que marcaram definitivamente o destino do país. Pensando nisso, nosso aluno de Letras, Ricardo Macedo dos Santos, 66 anos de idade, escreveu a peça “Um País que Não Existe Mais”, que será apresentada na 6ª Mostra da Faculdade CCAA, dia 27, às 18h, no teatro.
Ele explica o título: “Este país que João Goulart idealizou, com uma estrutura social menos vertical, não existe mais”, diz Ricardo, referindo-se ao ex-presidente João Goulart, o Jango, deposto pelo golpe que resultou na ditadura militar. Jango teve seus direitos políticos caçados por dez anos e morreu em 1976.
O golpe militar deu início aos chamados “Anos de Chumbo”, marcados por choques entre militares e sociedade civil, lutas pelo restabelecimento do estado de direito, exílios, vidas sacrificadas e culto aos grandes revolucionários da época, como Ernesto Che Guevara, cuja imagem surge na logo de divulgação da peça.
Autor Ricardo Macedo
Ricardo, graduado em Administração, funcionário aposentado da Petrobras desde 1996, escrevia como hobby. Até que viu uma chamada da Faculdade CCAA na internet e decidiu entrar para a graduação em Letras e dedicar-se ao que realmente gosta. Ao perceber que a instituição abria a possibilidade de os alunos realizarem seus projetos, escreveu a peça com a finalidade de mostrar aos jovens o que foi a ditadura militar, mas deixando livre o público para tirar suas próprias conclusões. A peça se compõe de vários esquetes, ambientados em um aparelho guerrilheiro, entremeados por vídeos. A protagonista é Simone, que convida a plateia a uma reflexão sobre o que está ocorrendo no Brasil, hoje. No elenco, contamos com Alex e César, de Comunicação; Aislam, Vívian e Paula, de Letras; Cristiane, também de Letras, porém já formada, e com o próprio autor.

sábado, 22 de outubro de 2011

6ª MOSTRA DA FACULDADE CCAA

6 Mostra FAC CCAA

Nossa instituição está fazendo seis anos de idade e a comemoração estará “linkada” à VI Mostra da Faculdade CCAA. A Mostra é um evento que já entrou para o nosso calendário oficial e o objetivo é tornar visíveis, ao público interno e externo, os trabalhos realizados por alunos e professores. Assim, teremos palestras, oficina, workshop, lançamento de livro, peça de teatro, show musical e, até, campeonato de futebol. Confiram e divulguem!

Prezados(as) alunos(as), devido ao grande número de inscrições que estão sendo realizadas, tivemos a necessidade de mudar os locais das palestras, exposições e oficinas que passarão a ser realizadas no prédio B.

MANHÃ
Cada atividade valerá 10 horas AACC Inscrições na CEVEN (9º andar da Faculdade)
  • **Coffee break a partir das 9h30 para os inscritos em pelo menos uma das atividades oferecidas no horário da manhã** (Sala 201)
  • 10h às 11h – Palestra “Os 70 anos do músico, escritor e filósofo brasileiro, Jorge Mautner”, com o Professor Luís Carlos de Morais Junior (Sala 202) Na ocasião, o professor lançará a segunda edição de seu livro Proteu ou: A Arte das Transmutações – Leituras, audições e visões da obra de Jorge Mautner
  • 10h40 às 11h - Lançamento da Revista Intersignos, do curso de Letras, com os professores Roberto Loureiro e Simone Meirelles, editores deste volume (Sala 204)
  • 11h às 12h - Palestra “Construindo um Grupo de Pesquisa”, com a Professora Helena Dias e alunos de Letras (Sala 204)

TARDE
  • 14h às 17h - Copa FreestyleTorneio entre equipes no estacionamento da Faculdade.DJ, premiação para as melhores equipes e sorteio de brindes para a torcida.Esta atividade valerá quatro horas de AACC para os participantes e duas para a torcidaInscrições para os participantes na CEVEN (9º andar da Faculdade)
*Os torcedores não precisam realizar inscrição para esta atividade

NOITE
Cada atividade valerá dez horas de AACC. Inscrições na CEVEN (9º andar da Faculdade)
  • **Coffee break a partir das 17h30 para os inscritos em pelo menos uma das atividades oferecidas no horário da noite** (Sala 201)
  • 18h às 19h - Palestra “A História da Propaganda Brasileira” , com o Professor Júlio Martins. (Sala 202)
  • 18h às 19h – Peça teatral “Um País que Não Existe Mais”, escrita pelo aluno Ricardo Macedo, do curso de Letras, Português-Espanhol. O elenco é formado por alunos da FACULDADE CCAA. (Teatro)
  • 19h às 20h - Minicurso “Fundamentos dos Sistemas de Informações nas Empresas”, com o Professor Luiz Henrique Padilha. (Sala 204)
  • 19h às 20h - Oficina do Consumidor, com a Professora Maria do Socorro (Sala 206).
  • 20h às 21h - Workshop ”Marketing Estratégico e a Lógica do Posicionamento”, com o Professor Adalberto Gonçalves (Sala 202)
  • 20h às 21h – Show de Encerramento, com a banda Heahengel, do aluno Davi Barreiros de Comunicação Social – Publicidade e Propaganda. (Teatro)
  • 21h – Bolo em comemoração ao aniversário da FACULDADE CCAA. (Térreo – Prédio A)

EXPOSIÇÕES
  • 9h às 11h – Estande Ciee. Cadastro de alunos para oportunidades de estágio (Sala 203 – Prédio B)
  • 18h às 20h – Provedor de Talentos Cadastro de alunos para oportunidades de estágio (Sala 203 – Prédio B)
  • 18h às 20h - Editora Escala e Digerart. Exposição de suas publicações (Sala 203 – Prédio B)
  • Exposições de Alunos
  • Exposição da Coordenação de Extensão (Hall do Teatro)
  • 6ª Mostra de Vídeos (Sala 211 – Prédio B)
  • Centro de Tecnologia (Sala 208 – Prédio B)

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

O que os militares fizeram foi uma contrarrevolução para frear uma revolução socialista

Artigo de Claudio de Cicco é professor de Teoria Geral do Direito e Teoria Geral do Estado na PUC-SP

Para se poder definir qual a natureza política e social do que ocorreu no Brasil, em março de 1964, é preciso, antes de tudo, deixar claro o que se entende por “revolução”e por “golpe de Estado.
Revolução, é uma violenta quebra da hierarquia social e política, em uma nação, pondo abaixo o que estava no topo e em seu lugar colocando os que estavam embaixo na hierarquia social e política.
Costuma-se, por exemplo, chamar de “revolução” o que aconteceu na França de 1789 em diante, pois o que estava na hierarquia superior da sociedade, a nobreza, foi derrubada por uma classe que lhe era inferior no antigo regime, a burguesia. Esta subiu para a posição de classe dominante, enquanto que os antigos aristocratas se tornaram cidadãos comuns aos outros, sem privilégios, sem poder político, e foram colocados como foras da lei, aprisionados, julgados, condenados e guilhotinados.
Já um golpe de Estado é a ruptura da ordem jurídica para substituição de elementos no governo, ou liquidação de um órgão no governo de um Estado. Neste sentido, Napoleão Bonaparte deu um golpe em 10 de novembro de 1799, 18 Brumário do calendário novo, quando bruscamente instalou um governo autoritário.
Mas em 64 no Brasil, creio que é pouco falar só em golpe, pois além do presidente legal João Goulart ser deposto, a ordem jurídica foi não só quebrada mas substituída por um regime de exceção, com os Atos Institucionais 1, 2, 3 e 4, e sobretudo o de nº 5. A nova ordem depois emitiu nova Constituição, a de 1967, Novo Código de Processo, em 1972, introduziu a Legislação do Imposto de Renda com maior alcance e rigor, além de criar instrumentos de repressão da liberdade de pensamento, como o famoso Serviço Nacional de Informações.
É claro que isto tudo levou o regime de 64, até 1984, a ser pouco parecido com o regime liberal em que vivia o Brasil, sob a égide da Constituição que foi violada, a de 1946.
O que aconteceu em 64 não foi uma revolução pois os militares deram nítida conotação anticomunista a seu movimento. Com tal bandeira eliminaram os possíveis pretendentes ao poder, fossem líderes sindicais ou guerrilheiros. Com isto manteve-se no poder ilesa toda uma elite capitalista. Neste sentido, a verdadeira revolução era a movimentação das forças comunistas, mais ou menos inspiradas pelo modelo da revolução cubana.
Em nossa modesta opinião, o que os militares fizeram foi mais precisamente uma contrarrevolução, ou seja, um movimento armado que quebra a ordem jurídica para frear uma revolução socialista e impor não um regime liberal mas um regime autocrático de rígido controle estatal,servido por uma tecnocracia irresponsável perante a nação, mas obediente ao poder absoluto dos donos do poder.

Extraído do site  http://www.jornaldocampus.usp.br/index.php/2011/10/1964-um-golpe-ou-uma-revolucao/#1

terça-feira, 18 de outubro de 2011

1964, notas sobre uma vitória simbólica, por Caio Navarro de Toledo *

O recente episódio suscitado por uma placa, afixada no centro do campus da USP, revelou que não deixa de ser vitorioso o significado político-ideológico que as esquerdas brasileiras difundem sobre os acontecimentos em torno de 1964. Essa interpretação não deixa de ser hegemônica na atual cultura política democrática brasileira.

Na última segunda-feira (3), o blog Viomundo, do jornalista Luiz Carlos Azenha, estranhou o fato de uma placa na USP conter a seguinte inscrição: “Monumento em homenagem aos mortos e cassados na Revolução de 1964”. A indagação do jornalista foi simples e direta: “A USP homenageia as vítimas da 'Revolução de 1964'?" Imediatamente, outros blogs e parte da grande mídia (portais na internet e jornais impressos) também destacaram o fato da Reitoria da Universidade de São Paulo, por meio da placa, ratificar a versão que os militares e setores civis da direita brasileira procuram difundir sobre a intervenção militar ocorrida há 47 anos; qual seja, a versão segundo a qual em 1º. de abril de 1964 teria havido uma Revolução, não um Golpe Militar! [Ninguém desconhece que, para os ideólogos civis e militares (de Delfim Netto a Golbery do Couto e Silva), 1964 representou uma “Revolução redentora” que, de forma pacífica, salvou o país da subversão antidemocrática e do comunismo ateu, bem como lançou as bases para a emergência de uma sólida economia industrial no país. Em contrapartida, para a extensa maioria dos intérpretes (partidos e autores) da esquerda brasileira, 1964 significou um golpe civil-militar contra a democracia política e as propostas de reformas econômicas e sociais do capitalismo brasileiro.]
Divulgada a informação sobre a placa, a repulsa dos setores democráticos e progressistas não tardou. Por meio da internet, a comunidade universitária e os blogs progressistas denunciaram o estelionato semântico difundido pela placa que, reconheça-se – pelo seu conteúdo objetivo –, não deixava de revelar um fato altamente positivo: a construção de um monumento em homenagem às vítimas da repressão militar nos 25 anos de ditadura.
Menos de 36 horas após a denúncia feita no blog Viomundo, alguns jornais, nesta quarta-feira (5), informam que a placa foi retirada do campus da USP. Numa nota a reitoria da USP esclarece: “Houve um erro na inscrição da placa. O nome correto é: “Monumento em Homenagem aos Mortos e Cassados no Regime Militar”. Trata-se de um projeto do Núcleo de Estudos da Violência (NEV) da USP. A correção da placa será feita o mais breve possível”.
Embora a Reitoria da USP recuse a utilização da expressão “Ditadura Militar” na nova placa, deve-se reconhecer que uma vitória no plano simbólico não deixou de ocorrer. Esta pequena vitória foi possível graças às iniciativas daqueles que – face o fascismo cotidiano existente nas democracias capitalistas – exercem o direito de protestar e não ceder ao arbítrio e à violência no plano simbólico.
Foi o que fizeram, por exemplo, três estudantes da USP. Como informa o blog Viomundo, um estudante, desafiando a segurança, riscou a expressão “Revolução de 1964” e escreveu na placa: “golpe”. Dias depois, uma estudante acrescentou a palavra certa: “Ditadura”. Horas depois, indignada, a mesma jovem voltou ao local e escreveu: “massacre”. Uma terceira estudante, blogueira, escreveu em sua página: “É um verdadeiro insulto a todos os estudantes e professores que foram perseguidos e mortos durante os anos de chumbo”. Se não fossem os estudantes, a placa insultuosa – aprovada pelos burocratas da Universidade –, certamente, ali permaneceria sob o olhar indiferente e despolitizado de muitos.
No entanto, alguns jovens não se calaram e se indignaram. São eles que, nos dias de hoje, reescrevem a consequente consigna vigente na luta contra o fascismo: "no pasarán!”.

*Caio Navarro de Toledo é professor colaborador voluntário da Unicamp e bolsita do CNPq

sábado, 15 de outubro de 2011

Livro reúne capas de jornais da Ditadura Militar

  por Dayanne Sousa

Livro reúne as capas de jornais que lutavam contra a censura dos tempos da Ditadura Militar e no Brasil. As capas dessa história, que será lançado no dia 25 de outubro, reúne imagens de uma série de jornais alternativos e publicações feitas por brasileiros no exílio durante o período de 1964 a 1985.
O trabalho é parte do projeto Resistir é Preciso..., do Instituto Vladmir Herzog, coordenado pelo jornalista Ricardo Carvalho. O material é fruto de uma pesquisa de quase dois anos e que gerou também uma série de entrevistas divulgadas em vídeo pelo Instituto em julho.
Nas mais de 180 páginas do livro, capas de publicações que fizeram história como O Pasquim e PifPaf. A maior parte dos títulos, porém, é pouco conhecida. Entre boletins sindicalistas, há imagens da Tribuna Metalúrgica: o jornal do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema traz na capa o nome de seu diretor Luis Inácio da Silva, o ex-presidente brasileiro que - nos idos de 1978 - ainda não assinava "Lula".
O livro ainda destaca os jornais que eram feitos na clandestinidade, como A Classe Operária, editado pelo PCB. O jornal nascido durante os anos de Getúlio Vargas passou a ser reeditado em 1964, na ilegalidade. Outro destaque são as publicações feitas no exílio. No Chile, Itália e países da Escandinávia, os brasileiros procuravam se manter informados sobre a situação em casa e mantinham-se organizados.


Extraído do site http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI5413059-EI6581,00.html

sábado, 8 de outubro de 2011

Músicas de Chico Buarque ajudam a estudar período da ditadura

As canções de Chico Buarque podem ajudar os estudantes a compreender o período da ditadura militar no Brasil. Foto: AFP As canções de Chico Buarque podem ajudar os estudantes a compreender o período da ditadura militar no Brasil
Foto: Atp

Neste ano, faz quatro décadas do lançamento do disco Construção, de Chico Buarque. Em meio a um dos períodos mais duros do regime militar, o álbum ficou famoso por consolidar a posição crítica do compositor, seja com músicas claramente referentes à repressão daqueles anos, como Cordão, ou outras com associações mais implícitas, como Cotidiano.
Ouça Chico Buarque grátis no Sonora
Segundo o professor de Literatura da unidade Tamandaré do Anglo, Fernando Marcílio, antes deste quinto disco, o autor já vinha manifestando suas preferências políticas e incomodando a censura. "O mais importante é destacar que as canções de Chico vão além da questão da ditadura. Mesmo aquelas letras que se referem explicitamente ao regime militar", diz o mestre em teoria literária, cuja dissertação analisou a obra do artista.
Nessa linha, as letras daquela época podem ser facilmente transpostas para a atualidade. "Elas captam o essencial da ditadura, a repressão, e devem ser usadas para compreender não só aquele episódio, mas as relações humanas. Eu posso ser opressor com minha esposa, seu chefe pode ser com você, assim como muitas pessoas o são com os homossexuais", cita. Para o professor, Chico Buarque não deve ser reduzido à imagem de "cantor da ditadura". "Já ouvi dizerem que, se não fosse a ditadura, Chico não teria inspiração, que teria sido bom para ele. Longe disso, a censura o impediu de trabalhar muitas vezes", comenta.
Mesmo ainda atuais, as músicas e peças de teatro do autor carioca podem ajudar estudantes a entender melhor o que significou o período que sucedeu o Golpe de 64. A seguir, conheça mais sobre o contexto de 10 obras de Chico Buarque.
Apesar de Você
Para o professor, a mais evidentemente canção de Chico Buarque referente à ditadura é Apesar de Você. Lançada inicialmente em 1970, em um compacto, foi censurada logo depois. Entendida inicialmente como uma canção de amor, como se um dos amantes tivesse abandonado o outro ("Apesar de você / Amanhã a de ser outro dia"), na realidade, a letra falava da ideia de um novo amanhã, que superasse os dias escuros da ditadura ("A minha gente hoje anda / Falando de lado / E olhando pro chão, viu / Você que inventou esse estado / E inventou de inventar / Toda a escuridão").
A música marca o momento em que a censura começa a ficar mais atenta à obra de Chico. "Esta letra tem uma dimensão utópica, sentimento que aparece em outras canções do autor", explica o professor. Em 1978, no álbum Chico Buarque, a música, já liberada, foi lançada outra vez. "Chico a relançou meio a contragosto. Estava preocupado que fosse passada a imagem de que estava tudo bem, o que não era verdade. Além de não fazer mais sentido lançar uma música fora do contexto em que foi escrita", observa.
Cálice
Mais uma música censurada. Mas, diferentemente de Apesar de Você, Cálice foi proibida antes de ser lançada. Composta em 1973, ao ser submetida à censura federal, pela qual deviam passar todas as letras, livros e textos e montagens de teatro, foi barrada e só pode ser divulgada em 1978, também no álbum Chico Buarque. "Gilberto Gil teve a ideia de usar a passagem bíblica, mas foi Chico quem percebeu que a sonoridade que se igualava à expressão 'cale-se', uma referência clara à censura da época", conta Marcílio.
O fato de submeter toda produção artística à censura representava, no caso das obras barradas, um investimento jogado fora, especialmente para peças de teatro, que tinham que apresentar suas montagens completas a um homem do governo.
Construção e Cotidiano
Essas duas canções fazem parte do álbum Construção, de 1971, e suas letras tem referências menos diretas à ditadura militar. A primeira conta a história de um trabalhador da construção civil que morre no local onde trabalhava. "A situação desse trabalhador é de angústia, ele é oprimido pela ditadura econômica, que também assolava o país na época", explica o professor.
Na segunda, diz Marcílio, "a letra descreve o dia a dia de um casal, em uma referência implícita à repressão do governo, na medida em que mostra um cotidiano opressivo".
Cordão e Quando o Carnaval Chegar
Cordão é uma canção do disco Construção com referência clara à ditadura, especialmente em versos como "Ninguém vai me segurar / Ninguém há de me fechar". Assim como Apesar de Você, tem o caráter otimista de um futuro melhor. "Nesta música, Chico prega a resistência, através da união, do 'imenso cordão' que ele cita na letra", observa o professor. O mesmo anseio por dias melhores aparece em Quando o Carnaval Chegar, música trilha do filme homônimo em que Chico atua. "Aqui também há referência a esse dia de amanhã, um dia em que a liberdade seria restaurada e triunfaria", diz o professor.
Deus lhe Pague
Em Deus lhe Pague, também do álbum Construção, Chico se vale da ironia para criticar a situação repressiva em que os brasileiros viviam durante o regime militar. É como se ele agradecesse ao governo por permitir ao cidadão realizar atos básicos, como respirar. "Por esse pão pra comer, por esse chão pra dormir / A certidão pra nascer e a concessão pra sorrir / Por me deixar respirar, por me deixar existir / Deus lhe pague" são alguns dos versos. Confira as músicas do álbum no Sonora.
O heteronômio Julinho de Adelaide
Já conhecido da censura, Chico Buarque tinha suas músicas proibidas só por levarem sua assinatura. Para driblar isso, ele criou um personagem, Julinho Adelaide, que assinou três músicas suas. Em Acorda Amor, um sujeito acorda no meio da noite e pede para sua mulher chamar o ladrão porque a polícia tinha chegado. "Ele inverte a situação, porque o perigo naquela época era a polícia entrar na sua casa e lhe prender", explica o professor de Literatura, também historiador. Trata-se de mais uma manifestação da ditadura, a perseguição policial.
Em Jorge Maravilha, há referência a situações que, segundo o professor, não se sabe se são verdadeiras ou não. Os versos "você não gosta de mim, mas sua filha gosta" teriam origem em uma das vezes em que Chico foi preso e o policial teria pedido autógrafo, dizendo que era para a sua filha. "Tem também a história de que a filha do então presidente Ernesto Geisel teria declarado ser apreciadora de Chico. Não sei dizer se é verdade, acho que a questão é mais simbólica, como quem diz 'você, governo, não gosta de mim, mas o povo gosta'", opina. Confira as músicas do álbum no Sonora.
Calabar - O Elogio da Traição
Esta peça de teatro de autoria de Chico e Ruy Guerra foi proibida pela censura. O título cita um personagem histórico que existiu durante o Brasil imperial e que ficou tachado como traidor por ter se oposto à coroa portuguesa. "O personagem nem aparece na peça, que acaba girando em torno de opções ideológicas e discutindo o que é ser patriota através do questionamento desta traição. Calabar só poderia ser considerado traidor sob o ponto de vista de Portugal, que era, por sua vez, um invasor. Ou seja, trair um invasor não seria um problema, assim como trair um governo que é opressor", compara o professor.
Na época, os jornais não podiam nem noticiar a censura da peça. As músicas da trilha liberadas foram lançadas em um álbum chamado Chico Canta. Era pra ser Chico Canta Calabar, mas o nome do personagem histórico também havia sido proibido.

Extraído do site http://noticias.terra.com.br/educacao/noticias/0,,OI5399336-EI8266,00-Musicas+de+Chico+Buarque+ajudam+a+estudar+periodo+da+ditadura.html

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

CHICO BUARQUE - PEQUEÑA SERENATA DIURNA.

Che Guevara e a poesia.

ALUNOS CHILENOS REALIZAM NOVA MARCHA

6 de Outubro de 2011 - 9h52 Diálogo com governo naufraga e alunos chilenos realizam nova marcha
Após duas reuniões frustradas com o governo, os estudantes chilenos, que estão há cinco meses em greve pedindo mudanças no sistema educacional, decidiram abandonar a mesa de negociações. Eles acusam o ministro da Educação, Felipe Bulnes, de não fazer concessões em relação à gratuidade no ensino superior, principal demanda do movimento.



Giorgio Jackson, Camila Vallejo e outros dirigentes estudantis se reúnem com Bulnes / Foto: EFE

Logo depois do anúncio, dezenas de estudantes montaram barricadas em Santiago, entrando em choque com a polícia. Dirigentes da Confech (Confederação de Estudantes da Universidade do Chile) convocaram uma grande marcha para esta quinta-feira (6), no centro da capital. O governo negou autorização para a realização da marcha e a polícia deve reprimir os manifestantes com tropas de choque e gás lacrimogêneo, como de costume.

O segundo encontro entre estudantes e governo, na quarta (5), terminou de forma tensa. O representante dos colégios técnicos do Chile, Cristián Pizarro, contou que os estudantes se colocaram de forma enérgica contra a intransigência do governo. “Me levantei e disse: senhor ministro, me retiro, uma vez que acho irrisória a proposta que o senhor nos deu. Estão sendo intransigentes e eu abandono a mesa de diálogo”.

O impasse se produziu depois de o governo propor bolsas para 40% dos estudantes. O percentual é o mesmo que vigora hoje, mas, de acordo com o ministro da Educação, o benefício seria estendido também para estudantes de colégios técnicos, que hoje não são cobertos por este incentivo.

Os estudantes mais radicais defendem a gratuidade total. Os mais moderados querem a ampliação do benefício para um número maior de jovens.

“Nunca vamos declarar o fracasso da mesa de diálogo”, disse Bulnes, mesmo admitindo que “não houve maiores progressos” depois dos dois encontros. “Não acho que dar gratuidade aos ricos seja uma boa política. Não é correto que os pobres financiem a educação dos ricos. Essa é uma diferença fundamental entre as duas visões”.

A Confech rebate a declaração do ministro, afirmando que os mais ricos não representam mais de 5% da população chilena e que há outros 95% que são pobres ou de segmentos médios e vulneráveis que se beneficiariam da ampliação da gratuidade do ensino.

De acordo com Camila Vallejo, uma das líderes estudantis dos protestos, "não se deveria diferenciar entre classes sociais ou estratos socioeconômicos no Chile".

A nova onda de protestos emerge na mesma semana em que o governo do presidente Sebastián Piñera anunciou o endurecimento das leis para punir os que cometam excessos em protestos de rua. O projeto de lei, que prevê pena de três anos para os que promoverem desordens e ocupem violentamente colégios e faculdades, vem sendo duramente criticado pela Associação de Magistrados do Chile e pelos movimentos sociais.

Com agências
Extraído do site http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=165740&id_secao=7

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Placa na USP chama golpe militar de 'revolução de 1964'

Uma placa que indica a construção de um monumento para homenagear os mortos e desaparecidos da ditadura militar causa polêmica na Universidade de São Paulo (USP) ao chamar o golpe de "revolução de 1964". Localizada na Cidade Universitária da USP, a obra é uma parceria entre a instituição e a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência e tem um custo de R$ 89 mil, com patrocínio da Petrobras. As informações são do jornal Folha de S. Paulo.
O termo "revolução" é usado por militares, que negam que tenha ocorrido uma ditadura no País. "Considero o termo utilizado um absurdo. Farei contato com o reitor para mudar imediatamente a inscrição", disse a ministra Maria do Rosário. Na tarde de segunda-feira, o termo "revolução" foi riscado e a palavra "golpe" foi escrita. A reitoria da USP diz que houve falha na confecção e que o "erro será corrigido o mais rápido possível".
Extraído do site http://noticias.terra.com.br/educacao/noticias/0,,OI5392236-EI8266,00-Placa+na+USP+chama+golpe+militar+de+revolucao+de.html

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Adelaida de Juan: Meio século de artes plásticas em Cuba

A fundação de duas instituições culturais a poucos meses do triunfo revolucionário, em janeiro de 1959, repercutiria de modo notável no futuro das artes plásticas cubanas, que já contavam com movimentos e figuras relevantes. O Instituto de Arte e Indústria Cinematográficas (Icaic), criado em março, e a Casa das Américas, em abril, tiveram grande importância ao propiciar novos panoramas nos quais floresciam manifestações já estabelecidas e surgiam novas produções, em design gráfico, por exemplo.

Texto extraído do site http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=165445&id_secao=11


Dessa forma, houve uma abertura tanto interior como de comunicação com o exterior, canalizada, especialmente, pelas iniciativas das instituições mencionadas. Além disso, o Museu Nacional de Belas Artes (MNBA) ganhou um novo impulso, e foram fundadas galerias de exposição não só na capital, mas em outras cidades do país.

Em 1961, foi criada a União de Escritores e Artistas de Cuba (Uneac) cuja seção de artes plásticas esteve inicialmente a cargo do pintor Mariano (1912-1990). Em 1963, convocou-se para o Congresso da União Internacional de Arquitetos (UIA) em Havana. Para sua celebração, foi construído, no bairro de El Vedado, o Pavilhão Cuba, que chegaria a ser sede de importantes exposições, e foram refeitas as calçadas da principal avenida, conhecida como La Rampa. Nessas calçadas, foram colocadas lousas desenhadas pelos mais importantes artistas cubanos ativos da época, como Wifredo Lam (1902-1982), Amelia Peláez (1896-1968), Mariano, René Portocarrero (1912-1985), Luis Martínez Pedro (1910-1989) e Sandú Darié (1908-1991).

No ano seguinte, a Casa das Américas, cujo departamento de artes plásticas era dirigido por Mariano, convoca o Concurso Latino-americano de Gravura, que seria celebrado anualmente até 1971, quando se converteu em Encontros de Artes Plásticas Latino-americanos; esses encontros ocorreram quatro vezes ao longo da década de 1970. Essas são as principais reuniões internacionais propiciadas regularmente no terreno da plástica na Casa das Américas, a qual, paralelamente, realiza com regularidade exposições individuais e coletivas de artistas da América Latina e Caribe em sua Galeria Latino-Americana. Muitos desses concursos e exposições são acompanhados por eventos teóricos sobre o passado e o futuro das artes em nossa América.

Primeira Mostra da Cultura Cubana

A Casa das Américas também desempenhou um papel importante em outra direção: propiciou, em 1965, a primeira exposição interdisciplinar de certa envergadura que se celebraria no país. A Primeira Mostra da Cultura Cubana abrigou no Pavilhão Cuba arquitetos, pintores, designers, escultores e teóricos para atingir uma obra unitária na qual cada voz tivesse seu próprio registro enquanto formava parte de um concerto coral. Essa iniciativa chegaria a seu ápice em 1968, quando foi celebrado, em janeiro, o Congresso Cultural de Havana. Nessa ocasião, uma equipe interdisciplinar, que contava com roteiristas, cineastas e músicos, além dos diversos artistas plásticos, realizou, no Pavilhão Cuba, a Exposição do Terceiro Mundo.

Para a celebração da emblemática data de 26 de julho, outra equipe interdisciplinar, formada por designers, escultores, músicos e técnicos em iluminação, utilizou o caminho do Pavilhão até a Praça da Revolução em Havana para colocar desenhos e textos alusivos aos "Cem anos de luta". Ao desembocar na Praça, macrodesenhos serviam de fundo para a música e efeitos luminosos. Também na cidade de Santa Clara, na região central da Ilha, houve outro trabalho interdisciplinar na Praça, assim como no monumento ao trem blindado que capturou Che Guevara durante a luta contra a ditadura.

Um evento até certo ponto interdisciplinar teve lugar em La Rampa em julho de 1967. Com a decisiva iniciativa de Wifredo Lam, foi transladado para Havana o parisiense Salão de Maio. Não só foram as obras (pinturas, gravuras e esculturas), mas também muitos dos artistas e críticos franceses. Organizou-se em Havana um grande mural coletivo, com um desenho em forma de espiral seccionada em espaços quadrados, no qual trabalharam juntos artistas plásticos e escritores franceses e cubanos.

O segmento central da espiral correspondeu, como é lógico, a Wifredo Lam, que desenhou suas características formas romboides que lembram os íremes1 das crenças afro-cubanas. Durante toda uma noite, montados em andaimes, trabalharam os criadores no mural colocado ao ar livre em La Rampa. Dançarinas do famoso cabaré Tropicana, músicos populares e o povo em geral contemplaram e estimularam o desenvolvimento da obra coletiva. Quase ao amanhecer, o mural já terminado foi levado para o Pavilhão Cuba, onde foi colocado junto com as obras do Salão de Maio.

Os artistas mencionados continuaram seu trabalho pessoal. Mariano, por exemplo, desenvolveu uma técnica temática ao longo de uma década, até meados da década de 1970, que intitulou Frutas y realidad. Nela o autor combina as duas referências do título (frutas e realidade) privilegiando a dimensão das frutas tropicais para contrastá-la com a "realidade" proveniente de diversas fontes, enquanto a cor vibrante unifica a composição. Logo após essa série, o autor produziu mais duas: Masas e Fiesta del amor. Martínez Pedro, no mesmo perío-do, voltou-se para seu exercício abstrato em várias séries inspiradas nas Aguas territoriales e em Otros signos del mar. Com diversas gamas de azul, que chegam até o malva, o pintor abordou uma temática relativamente pobre na pintura cubana.

Martínez Pedro deu uma nova guinada na sua temática em meados da década de 1970 para exercitar seu excelente métier de desenhista ao realizar umas imagens gigantes e solitárias de diversas flores cubanas, trabalhando com um notável nível de detalhe uma flor em cada tela. O seu coetâneo, René Portocarrero, que obteve o Prêmio Sambra na Bienal de São Paulo em 1964, elaborou novas versões de um tema trabalhado por ele na década anterior, Ciudad, para levá-lo, a partir de 1962, de um sóbrio esquema quase abstrato a um esplêndido panorama de fôlego barroco no qual podemos reconhecer, entre as ruas apertadas, edifício e monumentos, a silhueta da escultura colonial emblemática da capital.

Foram vários os temas que trabalhou Portocarrero até sua morte, sempre desbordante de elementos florais e aves, levados à tela com uma rica gama cromática. Dessa forma, criou, particularmente, as obras Cabeza ornamentada, Flora e Carnaval.

Servando Cabrera Moreno (1923-1981) inaugurou, no começo da década de 1960, a temática dos camponeses e milicianos, frequentemente trabalhada por ele em desenhos livres. Passou, logo, a compor em óleos de grandes dimensões fatos históricos recentes, como "La batalla de Santa Clara". Poucos anos depois, mudou para a série de composições eróticas, às vezes monocromáticas, como em Torsos; continuou com essa tendência até sua última exposição: Habanera tú. Por sua vez, Raúl Martínez (1927-1995), um artista multifacetado de uma geração mais nova, apresentou uma guinada importante na sua obra. Martínez, que durante a década de 1950 havia formado parte do grupo "Los Once" de artistas abstratos, entre os quais destacamos Antonio Vidal (1928-), desenvolveu, em meados da década de 1960, uma espécie de Pop Art cubana.

Potenciando seus talentos de pintor, designer e fotógrafo, produziu obras emblemáticas nas quais aparecem figuras destacadas da história cubana, como no caso de José Martí. Percorrendo um caminho similar, embora independente, ao do norte-americano Rauschenberg, as imagens de Raúl Martínez se repetem ritmicamente, combinando ícones conhecidos com figuras populares que ele mesmo fotografava nas ruas da cidade. Em 1969, ele reuniu uma primeira exposição do seu trabalho pictórico, com o significativo título de Nosotros, que depois se transformaria em La gran família.

Em contraste com essas produções, a obra de Antonia Eiriz (1929-1995) representa o que denominei, após sua primeira exposição pessoal em 1964, "o tremendo na pintura cubana". Eiriz pintou cenas e figuras nas quais o traço negro é levemente aliviado por algumas zonas pastel (a artista confessou que admirava os celestes que tinha visto em Giotto). O seu quadro emblemático, La anunciación, de 1964, parte da cena bíblica para levá-la até a realidade quotidiana por meio de uma deformação expressionista que lhe confere um indubitável poder reflexivo.

Toda a obra de Eiriz está marcada por essa força, que em certas ocasiões a levou a queimar a tela e a produzir o que poderíamos considerar uma tentativa de instalação, por meio de peças que ela denominavaEnsamblajes. Eiriz também realizou várias "Homenagens" dedicadas a figuras relevantes da cultura cubana, como José Lezama Lima, Amelia Peláez e, em duas ocasiões, Santiago Armada, conhecido artisticamente como Chago (1937-1995), desenhista que foi um original caricaturista. Ele criou um personagem chamado Salomón, que era porta-voz de preocupações filosóficas e críticas sociais.

A obra de Chago contrasta vivamente com a de um caricaturista muito popular na década de 1950, René de la Nuez (1937-), que criou um personagem, El Loquito, que combatia a tirania. A partir de 1959, El Loquito deu passo aos Barbudos e outros personagens criados por René de la Nuez. Em 1966, começou a publicar suas caricaturas Manuel Hernández (1943-), que no final da década de 1980 será o mais agudo comentarista da vida quotidiana cubana. Foi a figura estelar da publicação DDT, que agrupou vários humoristas desses anos.

Uma técnica como a da cerâmica, que tinha tido relativamente poucos antecedentes em Cuba, encontrou exemplos notáveis em alguns murais realizados por Amelia Peláez e René Portocarrero. Porém, o artista que se dedicou a experimentar e realizar uma ampla obra dentro da chamada cerâmica escultórica foi Alfredo Sosabravo (1930-). Seu trabalho criador é constante, em Cuba e em outros países, desde meados da década de 1960 até a atualidade.

Já na escultura, abre-se para alguns artistas a possibilidade de realizar obras de grande formato. Agustín Cárdenas (1921-2001) realizou peças em diversas cidades da Europa e da Ásia. Para o MNBA ele executou, em 1967, La ventana, peça na qual se revela sua fidelidade a alguns princípios que o levaram a tomar parte originalmente do grupo "Los Once". De outro lado, Rita Longa (1912-2000) trabalhou em diversas obras ambientais, em La aldea taína (1961-1964) se vê notavelmente o papel dos habitantes da cidade e suas atividades, obra localizada no lugar turístico de Guamá. Posteriormente, com uma linguagem derivada de princípios da abstração, a autora realizou Bosque de los héroes (1973), localizada na oriental cidade de Santiago de Cuba.

Fotorreportagem e Che Guevara


Em Havana, Sandú Darié realizou várias peças produto de seu exercício na arte óptica e cinética, como em El árbol rojo de 1981, obra tributária dos Penetrables do venezuelano Soto, e os relevos de grande tamanho no Hospital Ameijeiras. De sua parte, Tomás Oliva (1930-1996) realizou a figura emblemática da popular sorveteria Coppelia, no início de La Rampa, em 1968. De forma completamente diferente, Oliva compõe a homenagem às vitimas da sabotagem ao buque La Coubre em 1969. Para essa peça, Oliva utilizou ferros retorcidos da nave destruída para conseguir uma obra de forte expressionismo dentro de sua forma abstrata.

Precisamente no velório das vítimas dessa sabotagem, o fotorrepórter Alberto Korda (1928-2001) fez a emblemática foto de Ernesto Che Guevara. O fotógrafo, que já contava com uma rica experiência de estudo, captou a imagem do rosto do Che em uma visão inefável pela sua força expressiva. Essa foto, popularizada alguns anos depois na Europa, construiu um ícone, reiterado em múltiplos suportes por várias gerações de admiradores daquela gesta heroica do argentino-cubano. A fotorreportagem atingiu seu apogeu durante a década de 1960, na qual eventos de grande importância ficaram fixados na história. Entre as figuras mais ativas da época destacamos Raúl Corrales (1925-2006), que sobressai pelas suas originais imagens do que se conhece como etapa épica da fotografia cubana.

Design gráfico
Não restam dúvidas, no entanto, de que o evento plástico mais original dessa década foi o surgimento do design gráfico como manifestação orgânica a partir do começo da década de 1960. As instituições culturais desempenharam um papel de importância em tal empresa, notadamente o Icaic. Descartando a prática de utilizar as imagens publicitárias que se importavam junto com o filme, o Icaic postulou a criação de cartazes que ignorassem o costume de potenciar o chamado star-system para procurar uma imagem que seguisse a essência concei-tual do filme. Esses conceitos se mantiveram como orientadores, junto com os requerimentos naturais das diversas vertentes do design gráfico, sendo a produção de temática política a de maior lentidão na sua prática. Nessa época, produziram-se manifestações de grande impacto visual e conceitual, estabelecendo-se internacionalmente como uma notável escola cubana de design.

Para o Icaic trabalharam, com regularidade e estilos pessoais, artistas como Eduardo Muñoz Bachs (1937-2001), que utilizou com frequência desenhos humorísticos, sem descartar a provocação conceitual. Podemos achar um exemplo disso nos desenhos para o filme Los tres mosqueteros que, por meio de uma figura com três pares de botas, provoca uma leitura rememorativa da obra original; ou sua peça para o documentário Missing children,tragédia sintetizada por uma bolinha abandonada numa esquina de um escuro cartaz.

Muito diferente é a obra de René Azcuy (1939-), que emprega detalhes ampliados de fotografias em preto-e-branco, com algum significativo toque de cor (Besos robados). Para o evento internacional da Canção Protesto, convocado pela Casa das Américas em 1967, Alfredo Rostgaard (1943-2004) realizou o cartaz que já é emblemático da plástica da Revolução cubana. Rostgaard evitou a alusão primária do violão utilizada pela maioria dos músicos dessa modalidade, e se valeu de uma metáfora conceitual, com cores planas brilhantes: uma rosa com a espinha ensanguentada.

Casa das Américas
Durante mais de 20 anos, a partir de meados da década de 1960, o designer das publicações da Casa das Américas foi Umberto Peña (1937-). A revista Casa de las Américas e os livros publicados pela Casa tiveram um aspecto sempre original e diverso graças à incessante imaginação criadora de Peña. Os cartazes de temática social e política também atingiram um nível estético considerável a partir de 1965. Félix Beltrán (1938-), por exemplo, realizou um desenho exemplar pelo seu impacto comunicativo e seu poder de síntese durante a campanha para economizar petróleo (1968-1969). A palavra onomatopaica Clik aparece solitária e clara sobre uma grande expansão de cor plana e escura, recurso que resultou altamente eficaz.

O Salão de 1970, no MNBA, destacou-se por ser o cenário no qual se mostraram inicialmente os primeiros alunos formados da Escola Nacional de Arte propiciada pela Direção de Cultura. Também em 1970, Manuel Mendive (1944-), um pintor que adquiriu renome fora da Ilha, obteve um prêmio internacional. Assim como tinha feito Lam, Mendive se baseia no imaginário das crenças afro-cubanas, no seu caso, da "santeria" ou "Regla de Ocha". Longe de abjurar sua família crente e praticante dos ritos ancestrais, Mendive os leva primeiro a composições em madeira e depois a telas de diversos formatos.

Dessa forma, o artista apresenta em suas obras da década de 1970 uma dicotomia entre vida-morte, alegria-tristeza (amiúde personificados em Elegguá), enquanto alude a fatos históricos que vão da época da escravidão colonial à liberação revolucionária. De "Barco negrero" e "El palenque" a "Martí, el Che y Oyá" (dona do cemitério no panteão yoruba), Mendive traça um vasto mural da realidade vivida pelo povo cubano, imbricada com deidades ou orixás da "santeria".

Bienal de Havana

Na segunda Bienal de Havana, em 1986, Mendive foi premiado pelo que talvez fosse a primeira performance em grande escala realizada na Ilha. Nela, Mendive trabalhou arduamente com a chamada body art ao pintar sobre os corpos dos figurantes, como também nos dos animais simbólicos (tartaruga e pomba). Depois disso, iniciou-se na música e na dança, que continuou até percorrer várias ruas vizinhas, enquanto pessoas que passavam se juntavam e se integravam à música e à dança. Mendive insistiu nessa linha de produção até a década de 1990, durante a qual se dedicou à escultura mole e depois a telas nas quais aparecem figuras esotéricas e de maior intimidade, num âmbito de cores pastel.

A partir da década de 1970, como mencionamos, surgem vários grupos de jovens artistas que revigoraram a produção plástica da Ilha. Destacam-se criadores que desenvolveram diversas linhas expressivas durante várias décadas. Nelson Domínguez (1948-) e Flora Fong (1949-) vêm trabalhando, a partir da pintura, outras técnicas e incursionaram, recentemente, em variedades escultóricas e instalações. Eduardo Roca (Chocho) (1948-) recontextualizou temas provenientes de religiões afro-cubanas, preferindo em anos recentes a técnica da colografia. Pedro Pablo Oliva (1949-), por sua vez, remete-se a frases e ditados populares para construir cenas nas quais sobressai o uso que ele faz do desenho, assim como a gama cromática que utiliza.

Hiperrealismo

Em meados dessa década e durante alguns anos, popularizou-se uma vertente do chamado hiper-realismo ou fotorrealismo, no qual figuras como Tomás Sánchez (1948-) e Flavio Garciandía (1954-) se destacaram. Garciandía, antes de passar para uma pintura mais irônica, com elementos kitsch, e depois de maior abstração conceitual, realizou vários retratos memoráveis, significativamente intitulados com nomes de músicas de The Beatles: Todo lo que usted necesita es amor (All you need is love, no original) com a imagem de sua companheira de estudos na ENA, a imaginativa desenhista e pintora Zaida del Río (1955-) e, muito particularmente, Nada personal (Nothing personal), excelente retrato de sua professora Antonia Eiriz, no qual maneja com considerável impacto visual uma zona plana de amarelo que cobre parte da tela junto à figura sentada de Eiriz.


Outra variante dessa tendência, à qual agrega um marcado de fôlego midiá-tico e conceitual, é a desenvolvida por Tomás Sánchez. Em 1980, um desenho seu recebeu o Prêmio Internacional Joan Miró; a partir desse momento, Sánchez, além de seus Basureros (Lixeiros), Crucifixiones e outras obras de marcado expressionismo formal, dedicar-se-á às paisagens, nas quais costuma colocar uma figura humana de pequenas dimensões. Esse recurso, que lhe outorga elementos significativos à peça, apresenta a silhueta de costas para o espectador, que, dessa maneira, identifica-se com o ato da contemplação, a meditação, e submerge na paisagem natural. Palmar acechando al soñador del charco (1980) é uma das peças iniciais mais notáveis do pintor, que dialoga com as obras do século XIX da Escola de Paisagismo do Rio Hudson, promulgando uma atitude mística diante da paisagem.

Ministério da Cultura


A fundação do Ministério da Cultura em 1976 propiciou a criação do Instituto Superior de Arte (ISA) como etapa de aperfeiçoamento posterior à ENA existente desde 1959, e ofereceu um panorama ainda mais experimental e conceitual aos artistas. Em 1981, foi celebrada em Havana uma exposição que marcou um antes e um depois no devir artístico da Ilha. Nomeada "Volumen 1" pelos expositores, eles assumiram a curadoria e a montagem da exposição. Com estilos pessoais, os jovens expositores (entre os quais se encontravam Garciandía e Sánchez) abriram para o panorama da arte cubana uma nova brecha expressiva, porém atenta às tendências internacionais do momento, como as variantes do pós-modernismo e o conceitualismo. Começaram, além disso, a privilegiar as instalações e as performances, prática que se manteve até nossos dias, com uma frequente inter-relação entre pintura, escultura e fotografia.


Em 1981, Ana Mendieta (1948-1985) trabalhou em Cuba, nas covas de Bocas de Jaruco, perto de Havana; suas concepções artísticas foram influentes para os jovens criadores. Mendieta representou, em certa medida, o contato direto com produções do mainstream, principalmente a body art, a land art, a performance e a fotografia, em um afã de voltar às raízes. Em 1984, começaram as Bienais de Havana, originalmente com uma marcada insistência na produção artística do chamado Terceiro Mundo. Nelas tiveram um papel central muitos dos artistas mencionados, aos quais devemos agregar outros, como Eligio Fernández (Tonel) (1958-), que privilegiou o desenho derivado das caricaturas e as instalações; Moisés Finalé (1957-), que em 2009 realizou uma exposição em Havana na qual expressou, por meio de pinturas e objetos simbólicos, o propósito de testemunhar o balanço do que ele denomina "Os 80"; Consuelo Castañeda (1958-) recontextualizou algumas citações de figuras consagradas da arte ocidental em obras de forte impacto; Lázaro Saavedra (1964-) introduziu o humor por meio da perspectiva do "chiste callejero" ("piada de rua"); José Bedia (1959-) enfatizou em sua obra seu interesse antropológico que o levou a conviver com comunidades autóctones, especialmente uma comunidade dos Estados Unidos. Bedia fabricou instrumentos que imitam os antigos originais, enquanto realizou, baseado no desenho de grandes dimensões, obras que se converteram em instalações.


Roberto Fabelo (1950-) seguiu uma linha pessoal, foi premiado na primeira Bienal de 1984. Excelente desenhista, Fabelo incursionou em diversas manifestações, chegando a rasgar o papel sobre o qual desenhava para depois compor sobre a parede da exposição os Fragmentos. Com uma marcada força expressionista, Fabelo abordou, a partir da década de 1980, diversas temáticas nas quais revelou sua criatividade por meio de uma linha de intencionada precisão. Sua mais recente mostra no MNBA, em 2009, levou o título de Mundos, que revela sua mudança a partir dos Fragmentos. Fabelo trabalhou com objetos enormes, cujo marcado realismo destaca a imaginação dramática de um desenho de dimensões consideráveis intitulado: "Soñando como Goya". A força expressionista de Fabelo é portadora de suas meditações existenciais, que o levaram, em 2010, a instalar na fachada do Museu, onde se exibia uma exposição coletiva, várias baratas gigantes que formavam parte de sua obra anterior Mundo e que "sobreviveram".

Alguns artistas formados no ISA desenvolveram obras notáveis desde finais da década de 1980 até a atualidade. Uma figura relevante como criador e como docente é René Francisco Rodríguez (1960-). Desde 1988 até 1996, René Francisco trabalhou com seu discípulo Eduardo Ponjuán (1956-), interessados ambos em traçar novos rumos expressivos a partir dos postulados no Volumen 1. Entre 1990 e 1997, René Francisco realizou com seus alunos o que ele denominou "Desde uma pragmática pedagógica", dirigida a trabalhos em diversas comunidades. Em sua obra pessoal, o artista expressa a realidade de um modo próprio por meio de pinturas, ensambles, gravuras e fitas de vídeo. Los carpinteros é um grupo originado no começo da década de 1990 no ISA, sob o comando de René Francisco, formado por Dagoberto Rodríguez (1969-), Marco Castillo (1971-) e, até 2003, Alexander Arrechea (1970-). A marca distintiva de René Francisco se acha no uso de objetos perfeitamente elaborados, os quais projetam ideias improváveis (como a instalação "Drama turquesa", mostrada em Madri em 2010). Uma temática reiterada é a explorada por Abel Barroso (1971-) que, com uma eficaz combinação de xilografias, acrílicos e esculturas, oferece diversas incitações conceituais, frequentemente sob o título de Muros reales, muros virtuales(em mostras na França e Cuba, 2010). No campo do desenho humorístico, destaca-se, desde 1984, a obra de Arístides Hernández (Ares) (1963-), que criou figuras de forte expressionismo cuja graça reclama o deciframento do espectador.

Migração
Após a migração de artistas que se deu por diversos motivos - políticos, sobretudo econômicos -, deram-se a conhecer durante a década de 1990 alguns artistas que haviam estudado na, então, União Soviética. Eles têm em comum o cuidadoso exercício técnico na execução da obra, embora variem consideravelmente a temática. Eles expõem em Cuba, onde, apesar da crise econômica, as instituições culturais mantêm abertas suas portas para eventos tanto nacionais como internacionais, adaptando-se à situação por que passa o país. Destacam-se, sobretudo, as produções de Arturo Montoto (1953-), Cosme Proenza (1955-) e Rocío García (1955-). Montoto explora um realismo marcado pela cuidada apresentação de uma solitária fruta sobre fragmentos arquitetônicos, enquanto a luz incide na cena de modo provocador. Cosme Proenza já foi considerado um "pós-medieval cubano" pela sua temática alusiva e sua cuidada execução. De sua parte, Rocío García explora a temática homoerótica por meio de suas Geishas e de seus Marineros.

Recentemente, em 2008, expôs no MNBA uma sequência intituladaThriller, que podia ser lida sucessiva e/ou fragmentariamente. No terreno da escultura, sobretudo a ambiental, destaca-se notavelmente a obra de Alexis Leyva (Kcho) (1970-), que foi premiado em um concurso internacional em 1995. Ele trabalha com obras de grande formato e vale-se da presença de navios alusivos à migração. Suas peças costumam levar como título frases populares, como a obra em metal localizada desde o ano 2000 na Avenida Puerto de la Habana: Nunca pongas dos clavos en la misma línea.

A mulher nas artes

Outro fato significativo da década de 1990 é o surgimento de mulheres na prática de diversas técnicas. Belkis Ayón (1967-1999) utilizou a técnica da colografia como meio de reprodução múltipla que permitiu agregar diversos materiais à gravura, à maneira de colagens; sua original temática se refere aos mitos das crenças afro-cubanas dos abakuás. Sua obra está centrada na saga de Sikán, mulher condenada à morte por ter descoberto o peixe portador do poder. Ayón, em composições quase inteiramente em preto-e-branco, projeta o trágico destino de Sikán em cenas de uma força expressiva notável. De sua parte, Marta Maria Pérez (1959-) especializou-se na autofotografia analógica em preto-e-branco, com alusões a ritos e frases provenientes da "santeria" afro-cubana. Sandra Ramos (1969-) e Tania Brugueras (1968-) privilegiam as instalações e as performances relativas à migração, tema que se repete em obras de vários artistas dessa geração.

Ao longo da década de 1980 até a atualidade, ganhou força a criação de projetos de escultura ambiental. Em 1980, Sergio Martínez (1930-1988), que havia participado dos Encontros de Artes Plásticas Latino-americanas da Casa das Américas e na confecção da exposição interdisciplinar realizada nesse momento, instalou num parque do centro de Havana uma figura equestre do "Quijote de América". Fundido em metal, o Cavaleiro da triste figura aparece sem roupas, enquanto segura uma grande espada na mão.

A escultura, que pelo seu ímpeto expressionista produziu certo desconcerto nos pedestres do bairro, acabou fundindo-se com a visão quotidiana do parque, agora conhecido popularmente como parque "do Quijote". Em 1981, Sandú Darié executou para o Palácio das crianças pioneiras do Parque Lenin, nos arrabaldes de Havana, El árbol rojo, figura cinética de grande formato, aparentada aos Penetrables do venezuelano Soto. No ano seguinte, o artista inaugurou duas obras de dimensões consideráveis na sala de espera do Hospital Soto.

Também em 1981, José Villa (1950-) realizou, numa linguagem que utiliza certa simbologia fixada em imagens que se repetem, um monumento a Che Guevara no Palácio mencionado. Partindo da emblemática imagem fotográfica que Korda fizera do Che duas décadas antes, Villa colocou a estrela da boina que usava Guevara como símbolo de sua figura; atravessando uma série de pranchas de metal com a figura da estrela, o autor colocou a obra num nível apropriado para as crianças. É conveniente indicar que Villa é um escultor de variada produção, passando da abstração à figuração mais exigente (uma de suas obras mais populares é a imagem do John Lennon colocada no parque de El Vedado em 2000).

Escultura monumental

Ao longo dessas décadas, continuou a prática da escultura monumental nas praças públicas de diversas cidades. A figura do Che foi objeto de uma multiplicidade de obras que foram esculpidas com sua imagem: uma das mais conhecidas é a do Mausoléu dedicado a ele e seus companheiros de luta, erigido em Santa Clara por José Delarra (1938-2003) em 1989. Mais recentemente, Alberto Lescay (1950-) realizou um notável conjunto de peças em homenagem a um dos heróis mais significativos de nossas lutas independentistas, Antonio Maceo, conhecido popularmente como "O Titã de bronze". Esse conjunto escultórico foi erigido na cidade de Santiago de Cuba.

O tratamento que Lescay deu à figura do herói representa, como no caso de Villa, a variedade de estilos na qual trabalha o artista. Lescay utilizou uma linguagem simbólica próxima da abstração ao erigir, em outro parque de El Vedado, uma figura em homenagem a Wifredo Lam, que alude sutilmente às imagens utilizadas pelo pintor.

Outros artistas, notadamente René Peña (1957-) e Cirenaica Moreira (1969-), dedicaram-se à fotografia, privilegiando a própria imagem numa ampla gama de situações vivenciais. Cirenaica é atualmente uma das artistas de mais rica temática, com uma variedade notável para acentuar os atributos que qualificam sua imagem fotografada em preto-e-branco. Numa exposição de 2006, ela abriu uma nova etapa com impressões de rico colorido sobre grandes telas.

Em anos mais recentes do presente século, observa-se uma tendência à exploração em novos meios como avideo art, que convive na atualidade com as variadas modalidades técnicas já mencionadas. Também se integra à produção de artistas do século XXI um ressurgimento do desenho plástico. Graduados do Instituto Superior de Desenho Industrial (Isdi), jovens designers começam a incursionar nas áreas do design. Destaca-se o trabalho contínuo de Pepe Menéndez (1966-), que realiza o trabalho de design da Casa das Américas. Já se pode vislumbrar uma nova geração de jovens designers: Nelson Ponce (1975-), Giselle Monzón (1979-), Raúl Valdés (Raupa) (1980-).

Contemporaneidade

Num panorama necessariamente sintético como o presente, a obrigatória e estrita escolha de artistas ocasiona a ausência de não poucos outros artistas e movimentos coletivos. Fica, pois, para um texto de maior extensão, um relato mais amplo que faça jus ao ambiente de constante experimentação que marca o aporte cubano ao mundo contemporâneo das artes plásticas.


Nota
1 Íreme é uma personagem da cultura abakuá que se manifesta, em Cuba, por meio da dança. Provém da região de Calabar, entre a atual República da Nigéria e parte de Camarões. Íreme é popularmente conhecido como "diablito" e já faz parte do imaginário cultural cubano, em festividades como o carnaval ou em representações típicas da Ilha. (N.T.)


*Adelaida de Juan é consultora de História da Arte e professora emérita da Universidade de Havana. É presidenta fundadora do Capítulo cubano da Associação Internacional de Críticos de Arte (AICA). @ - robade@casa.cult.cu. Tradução de Diego Molina. O original em espanhol - "Medio siglo de artes plásticas en Cuba" - encontra-se à disposição do leitor no IEA-USP para eventual consulta.

sábado, 1 de outubro de 2011

ECOS DO TERROR DE ESTADO - Mino Carta

1 de outubro de 2011 às 9:00h
Saberá ouvi-los a dita Comissão da Verdade? Foto: Ag. O Globo
De vez em quando, o estrondo das bombas do Riocentro volta a ecoar nos meus ouvidos. Hoje, por exemplo. Passaram-se mais de 30 anos e ainda ouço aquelas desastradas explosões. Uma bomba detonou antes da hora no colo de quem a carregava. A outra, colocada na caixa de força da estação elétrica, provavelmente mal iscada, não causou maior prejuízo. Havia uma terceira, desativada pelos peritos que acorreram ao local. Como catalogar o episódio, tragédia ou comédia? Ou tragicomédia, a ser atribuída a um misto de delírio tropical com a incompetência daqueles terroristas de Estado?
Agora pergunto: o que aconteceria se as bombas explodissem conforme a programação urdida na Vila Militar, sob o comando do general Gentil Marcondes? Era noite de festa, véspera do Dia do Trabalho, 30 de abril de 1981, 20 mil pessoas, na maioria jovens, lotavam o Riocentro para ouvir seus cantores preferidos. Não é árduo imaginar a cena de pânico que se estabeleceria se o plano desse certo, o corre-corre, os corpos que caem, logo pisoteados por quem sobrevém de carreira, o morticínio. Vinte mil pessoas estiveram expostas naquela noite ao risco monstruoso, milhares seriam as vítimas. A quanto subiria o número de assassinados pela ditadura nativa?
Há quem diga e escreva sobre papel impresso que por 21 anos o Brasil foi dominado por uma “ditabranda”. Há quem faça as contas: na Argentina morreram 30 mil, no Uruguai 3 mil, no Chile nem se sabe quantos, aqui 300. “Apenas.” E se os terroristas do I Exército conseguissem o que pretendiam? O Brazil-zil-zil ombrearia na cifra dos eliminados com os demais países do Cone Sul, ora viva.
Recordo que, naquela mesma noite, o chefe da Casa Civil, Golbery do Couto e Silva, pediu ao ditador João Figueiredo a cabeça do general Gentil, como se dera com o comandante do II Exército, Ednardo D’Avila Melo, em janeiro de 1976, depois do assassínio do operário Manuel Fiel Filho no DOI-Codi paulistano, aliás, outro momento de monumental incompetência dos algozes da Rua Tutoia. O Manuel a ser seviciado era outro. O chefe do SNI, Octavio Medeiros, manifestou-se contra a demissão. Golbery avisou, peremptório: “Ou ele, ou eu”. Sinto muito, replicou Figueiredo, fico com ele. Ou melhor, com eles, Medeiros e Marcondes. Golbery esperou três meses e, enfim, demitiu-se.
Que ditabranda é esta pronta a endossar um atentado programado para matar milhares de inocentes por obra de um plano tramado com a evidente responsabilidade- de um general comandante do Exército? Temo que a chamada Comissão da Verdade, que acaba de ser aprovada pelo Congresso, seja de fato destinada a perpetrar outro gênero de atentados, contra a memória e a história do País. Como era de se esperar, aflora a tese de que a simples aprovação da Comissão da Verdade representa um avanço notável. Este também é o Brasil useiro, inescapável, imaturo, eternamente disposto à conciliação dos senhores.
Por trás de uma deplorável tradição de arreglos selados há séculos para deixar as coisas como estão, vinga ainda a conveniência de um exército que em vez de servir ao Estado por este é servido. Um exército de ocupação, é o caso de dizer. Em proveito de quem? De si próprio? Ora, ora… Em relação aos tempos das bombas do Riocentro, novas levas fardadas substituíram aquelas dos ditadores da casta. Quem continua a postos são os vetustos donos do poder, os paisanos que mandam de fato, se não aqueles ao menos os novos intérpretes da mentalidade de antanho, sempre viva, imutável. E tão sincera e eficazmente defendida pela mídia nativa.
As Forças Armadas no golpe de 64 arcaram com o papel de gendarmes dos senhores da Casa-Grande. Na ocasião, Raymundo Faoro via nelas o sucedâneo dos capitães do mato. Quem fala de ditadura militar, em boa ou má-fé, escamoteia a verdade, foi ditadura, e ponto final, e de inaudita ferocidade, embora amiúde estulta no desperdício, digamos assim, da raiva e da violência, quando bastaria muito menos para atingir seus nefastos objetivos. Não se trata agora de punir os sobreviventes terroristas de farda, de fato parvos paus-mandados. Trata-se de entregar à execração perene, infelizmente tardia, os primeiros responsáveis por uma quadra tão dolorosa, a vincar em profundidade o atraso do Brasil.
Poupo-me e poupo os leitores de lugares-comuns a respeito da importância da memória, em proveito da verdade histórica. Resta entender que a reconstituição não interessa à chamada elite e aos seus aspirantes. Na resistência à elucidação dos eventos do passado infeliz, estes vêm antes que um ou outro chefe militar ancorado ao passado.